A Nova Democracia publicou um vídeo em seu canal no YouTube sob o título “Por que a guerra na Ucrânia é uma guerra de agressão imperialista”, que nada mais é do que uma coleção de opiniões coletadas na imprensa burguesa e reproduzidas em sequência.
O vídeo se inicia condenando a Rússia por um ataque que teria deixado 25 mortos. Segundo a apresentadora, “esse é segundo ataque mais letal da Rússia em menos de dois meses. E tal ataque ocorre em meio a uma posição defensiva que a Rússia tem de tomar diante da guerra de agressão imperialista e injusta que ela mesma iniciou contra o povo ucraniano”. É o tipo de cometário que poderíamos tranquilamente encontrar no UOL, Globo, CNN etc.
Em seguida, diz que já são algo em torno de 9 mil civis mortos na Ucrânia desde o início do conflito. Não sabemos ao certo se esse número corresponde à realidade. De qualquer modo, é bem menos que os 15 mil civis mortos pelos nazistas ucranianos na região do Donbass,
Comentam também que “em 28 de abril, Putin assinou um decreto no qual permite a deportação de pessoas que não aceitarem a imposição da cidadania russa nas cidades de Donetsk e Lughanski, Kherson e Zaporígia”. Isso não passa de uma calúnia, ou deformação da realidade, pois, uma vez que essas cidades agora pertencem à Rússia, os cidadãos têm um ano para regularizarem sua situação de nacionalidade. Depois do prazo estipulado, quem estiver irregular estará sujeito às leis de imigração, como em qualquer país do mundo. Não existe nada de “imposição da cidadania”.
Como se não bastasse, A Nova Democracia repete, sem filtro, que os russos tiveram uma baixa de 200 mil soldados nos oito primeiros meses de combates. Os ucranianos teriam perdido a metade desse número. Embora, no mundo real, a Ucrânia já deva estar na sua décima convocação.
Quando tratam da questão da expansão da OTAN cercando a Rússia, o fazem como se se tratasse de uma questão menor, lateral. O plano macabro de Putin era, tomar a região do Donbass para ter uma área segura, livre de seus inimigos próximos da fronteira, além de enfraquecer a Ucrânia, tornando-a ainda mais dependente economicamente dos russos.
A apresentadora diz que um dos planos da Rússia é destruir ao máximo a infraestrutura e as instalações industriais da Ucrânia, e é exatamente o contrário, o que já admitido até por analistas militares americanos. É a OTAN que costuma destruir a infraestrutura dos países que ataca. Basta para isso, lembrarmos de casos como o do Iraque, Iugoslávia, Líbia. A Síria só não está pior porque obteve ajuda da Rússia para lutar contra os grupos apoiados pelos Estados Unidos.
Os Estados Unidos na guerra
Por volta dos cinco minutos, passam a analisar quais seriam os interesses dos Estados Unidos nessa guerra. Segundo a análise, esse país vem tentando liquidar com a capacidade bélico-nuclear da Rússia e “debilitar sua condição de disputar a hegemonia imperialista mundial”.
Novamente esses grupos de esquerda chamam a Rússia de imperialista, apesar de o país não controlar uma liga militar como a OTAN, não controlar o fluxo de mercadorias e de capitais pelo mundo. Como um país que vive da venda de commodities pode ser considerado imperialista?
Ingenuamente, a Nova Democracia acredita que os americanos querem apenas impedir que os russos tenham uma área de influência, como o da antiga União Soviética, e buscam debilitar a Rússia para impedir que tomem posição no Donbass que, supostamente, seria transformada em uma área desmilitarizada.
Em outras palavras, devemos acreditar que os Estados Unidos, que comandaram a destruição de países inteiros, estão cercando a Rússia apenas para ‘debilitar’ e ‘retirar sua influência’. Sorte dos russos que Putin não pensa assim e resolveu agir.
A Nova Democracia discorre sobre o desabastecimento de armamentos nos EUA, que com isso poderão ter problemas, caso haja um “conflito surpresa” na região do Pacífico, e que temos visto as movimentações em Taiwan, que é uma “zona de influência” dos Estados Unidos muito próximo da China.
Chega a ser inacreditável. Os Estados Unidos estão formando acordos militares na região do Indo-Pacífico, como o QUAD e a AUKUS, porém, podem se ver em um “conflito surpresa”. Taiwan, que pertence à China, foi transformada em uma “zona de influência”.
Se a Nova Democracia quiser saber o que seja o imperialismo, basta prestar atenção no que está acontecendo. Os Estados Unidos estão agindo na Síria, na África, na Ucrânia e provocando a China. A Rússia e a China, que esses setores da esquerda costumam chamar de imperialistas, não chegam nem perto de terem tamanho poder e influência militar?
Armas atômicas
Outra repetição de assunto é o de que a Rússia pode usar armas nucleares, apesar de os Estados Unidos terem sido o único país do mundo a utilizar esse tipo de armamento e contra um país destruído.
Foi o Reino Unido que provocou os russos sugerindo que poderiam ser atacados com armas nucleares. A resposta foi imediata, a Rússia posicionou parte de seu arsenal e disse que responderia, pois tem como se defender. Durante todo esse tempo, a grande imprensa martela que Putin é o bandido da história, o que a Nova Democracia comprou como sendo verdade.
A Rússia, conforme a Nova Democracia, poderia, em uma situação de desespero, se utilizar de armas nucleares, caso não conseguisse ficar com a região do Donbass. E o uso dessas armas seria indesejável porque poderia nos levar a uma guerra mundial.
Bola de cristal
Por volta de dez minutos do vídeo, a apresentadora diz que “no que depender de Zelensky e da OTAN, a guerra vai terminar com um acordo para evitar a escala extrema desse conflito, para que não se atinja o patamar de uma guerra mundial”. Essa fala contradiz a realidade. Os Estados Unidos, sabidamente, boicotam todas as tentativas de paz, estão mandando montanhas de dinheiro para alimentar o conflito. Zelensky não manda absolutamente nada, não passa de um fantoche.
De onde a Nova Democracia tirou a ideia de que o presidente ucraniano está disposto à paz, a negociar, não fazemos a menor ideia.
Ah, o povo
Estava demorando, mas, finalmente, o povo é convocado pela Nova Democracia, que diz que somente o povo ucraniano, destemido, poderá vencer as intenções imperialistas da Rússia e uma suposta de tentativa de subjugação por parte dos Estados Unidos.
Somos convocados a “rechaçar contundentemente essa guerra de agressão da Rússia contra a Ucrânia”, pois essa guerra só tem como propósito “manter a Rússia no se patamar de potência atômica imperialista”.
Fechando a ‘análise’ com chave de ouro, a Nova Democracia, nos chama a “denunciar e desmascarar o governo do palhaço Zelensky e também do imperialismo ianque como partidários da divisão desse país”. Em um passe de mágica, Zelensky, o sujeito que estava disposto a negociar pela paz, vira um palhaço que, com os Estados Unidos, está favorável à divisão da Ucrânia. É incrível, pois tinham afirmado que os americanos estão agindo para impedir que os russos se posicionem no Donbass, ou seja, que se divida o país.
Temos visto com frequência esse comportamento em diversos setores da esquerda, que repetem integralmente as mentiras do imperialismo e tentam disfarçar com um chamado pelo povo que vencerá a tudo e a todos.
Apesar de se dizerem revolucionários, se especializaram a atacar a Rússia e defender os interesses do imperialismo, o principal inimigo da classe trabalhadora.