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III Conferência Nacional

Índio de Dourados: queremos arregaçar as mangas e lutar

Confira entrevista exclusiva do Diário Causa Operária com Valderi Garcia, liderança dos índios Guarani-Caiouá em Dourados, Mato Grosso do Sul

Representantes de todas as regiões do Brasil estão presentes na III Conferência Nacional dos Comitês de Luta, que acontece neste final de semana, na Quadra dos Bancários, em São Paulo.

Durante o evento, que promete alavancar uma ampla mobilização popular em defesa das reivindicações dos trabalhadores, o Diário Causa Operária realizou uma entrevista com Valderi Garcia. Liderança dos índios Guarani-Caiouá no Mato Grosso do Sul, Valderi veio até São Paulo com sua delegação para representar não só os índios de seu estado, mas de todo o País.

Confira, abaixo, a entrevista na íntegra:

Diário Causa Operária: Vocês estão aqui, conseguiram superar as dificuldades e vir à Conferência. Qual é a importância de vocês estarem representando aqui o movimento dos índios, particularmente do Mato Grosso do Sul, nesta Conferência Nacional?

Valderi Garcia: É um momento muito importante. Nós, indígena, estamos vendo que o Brasil inteiro está se mobilizando pela causa indígena. E isso é muito bom. Há um tempo atrás a gente se sentia muito isolado, muito sozinho. Parecia que a gente não tinha apoio para lutar pelo nosso direito. Mas com esses convites que a gente tem, com esse apoio que a gente tem dos comitês de luta, com a força que a gente está recebendo, a gente está conseguindo ter mais ânimo, está sendo mais motivado a partir para cima da luta, buscar os nossos direitos, lutar por aquilo que a gente sabe que é da gente.

E isso tem feito a nossa comunidade pensar diferente do que ela pensava antes. Porque hoje nós temos apoio de professores indígenas, pessoas que estão estudando, estão se formando advogados, pessoas que talvez, em outro tempo, poderiam aprender, estudar e se formar e sair da nossa aldeia e viver uma vida diferente da nossa cultura. Mas hoje nós vemos que tem pessoas que estão estudando, estão se formando e estão nos dando muito apoio. E isso é muito bom. É sinal que a nossa luta está cada vez mais fortalecida e a gente percebe que logo logo a gente vai ter mais uma grande vitória a partir do julgamento do marco temporal.

Temos uma expectativa muito boa para esse julgamento, porque a gente está se mobilizando em todo Brasil, em todo lugar, em todos os estados. A gente está com mais união e a gente está vendo que o povo realmente está enxergando a luta e está enxergando que o direito é nosso e está dando a cara a tapa para lutar. E estamos vencendo. Até aqui nós estamos muito felizes, estamos sentindo que nós estamos com muita vantagem nessa luta. Aí a gente crê que logo, logo a gente vai ter aquele julgamento do marco temporal encerrado e a vitória vai ser nossa.

Diário Causa Operária: Aproveita para explicar o que é o marco temporal e o que está em jogo nesse julgamento.

Valderi Garcia: o marco temporal é aquela tese que foi criada pelos pelo Legislativo, pelos parlamentares – com certeza são grileiros de terra, para eles interessa isso – para mudar a nossa Constituição, que é o direito do índio. No artigo do índio está garantido o nosso direito à nossa terra para tomarmos posse ali, usufruir do fruto. E eles querem mudar.

É uma coisa que para mim eu acho impossível, porque você está garantido na Constituição. Eu acredito que não pode ser mudado. A lei pode até ser mudada pela Constituição, mas a Constituição ser mudada pela lei seria o fim do mundo, vamos dizer.

Então a gente acredita que o marco temporal é isso, é um projeto de lei dos parlamentares, que tem terra grilada, tem lavoura, são proprietários de terras grandes, que querem só enriquecer, não pensam na comunidade, não pensam na classe mais baixa, na classe da pobreza. Então eles querem só para eles. E eu acredito que esse marco temporal não vai ter sucesso.

Diário Causa Operária: Vocês estão numa luta, particularmente em Dourados, Mato Grosso do Sul, muito intensa contra isso, contra o latifúndio que tem atacado de maneira muito brutal vocês nas retomadas. Alguns de vocês têm sofrido bastante ataque, tivemos os índios presos etc. Nos conte um pouco dessa história.

Valderi Garcia: Os nossos patrícios foram presos porque eles são pessoas da luta. São pessoas que já tinham tentado resolver o problema de forma administrativa, já tinham ido lá no Ministério Público, já tinham feito documentação, já tinham feito um acordo para não avançar naquele lugar até ser resolvida a questão judicial.

Mas os que dizem proprietário venderam de forma ilegal as terras para incorporadora fazer um condomínio fechado. E a gente foi lá e avisou. Eles entregaram pessoalmente o papel ofício dado pelo Ministério Público. Entreguei pessoalmente ao engenheiro mestre de obra, aos que estavam lá presentes. Mesmo assim, eles avançaram. Eles continuaram passando por cima da nossa vontade, do nosso direito. Então, nós tivemos que nos reunir e entrar.

Para perseguir a nossa luta, eles inventaram que o nosso patrício tinha cometido roubo, tinha cometido agressão e levaram eles presos. Mas graças a Deus já está resolvido essa questão. Ainda resta um que está lá, mas a gente vai lutar para conseguirmos colocar ele em liberdade.

Diário Causa Operária: É comum ataques nas retomadas com a polícia atuando em favor deles?

Valderi Garcia: Com certeza. A gente enxerga que o Estado, de forma geral, está trabalhando em favor de pessoas poderosas. A gente percebe que o Estado não está mais dando direito para quem merece, mas sim está trabalhando para aqueles que têm poder aquisitivo e que têm o domínio sobre a massa, a massa da elite.

Então a gente acredita que o Estado está precisando muito de ter uma reformulação em sua administração, porque está sendo muito errado. O que eles estão fazendo com o nosso povo indígena, que é colocar pessoas presas politicamente e também atrasar tanto nesse processo de demarcação de terra, que faz mais de 30 anos que a gente aguarda lá em Dourados a demarcação e até agora nada; quanto no processo judicial, que não resolve logo essa questão do marco temporal.

Diário Causa Operária: A expectativa agora para a Conferência é voltar e retomar a luta, envolver mais pessoas?. O que vocês planejam?

Valderi Garcia: A nossa expectativa é de levar as novidades daqui para lá e estimular mais pessoas para próximas conferências. Queremos vir com mais gente, participar mais ainda e realmente arregaçar as mangas e lutar. Essa é a nossa expectativa.

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