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Uriel Schramm

Dirigente nacional da Aliança da Juventude Revolucionária e estudante da UnB. Apresenta de segunda a sexta o programa Reunião de Pauta na COTV. É membro da Coordenação Nacional dos Comitês de Luta e responsável pela organização dos comitês de juventude em todo o País.

Uma política forçada

Identitarismo como cobertura para a mutilação de menores de idade

Raízes filosóficas do identitarismo convencem pais a submeter crianças e adolescentes a tratamentos nocivos para a mudança de sexo

É normal que alguns meninos gostem de brincar de bonecas, e algumas meninas gostem de jogar futebol. Alguns meninos gostam de ter cabelos compridos, e algumas meninas gostam de ter cabelo curtinho. É simplesmente uma questão de gosto, parte da descoberta da criança no seu desenvolvimento psicológico.

Mesmo assim, crianças são submetidas a tratamentos nocivos, como o bloqueio da puberdade, a hormonização cruzada e, em alguns casos, até cirurgia de redesignação sexual. No hospital das clínicas da USP, um dos mais renomados do Brasil, mais de 100 criança e 280 menores de idade estão submetidos a esses tratamentos por ordem ou por pressão de seus pais. De acordo com CAMH, Gender Identity Clinic For Childen, entre 60% a 90% das crianças nos EUA que dizem querer ser de outro sexo desistem ao chegar na puberdade. Existe, ainda, uma enorme tendência de suicídio dentre as pessoas trans que se submetem ou tentam se submeter a tais tratamentos.

Inventaram o termo “gênero”. O que é? De onde vem? Temos muitas respostas até hoje indefinidas na filosofia contemporânea e nas discussões feministas. Para alguns, gênero é uma “construção social”, ou seja, é um conjunto de categorias construídas que podem, ou não, advir do sexo biológico de algum. Para os identitários, é ainda mais importante e definitivo para definir se alguém é homem ou mulher. Para outros, como Judith Butler, uma das precursoras da teoria Queer, é uma espécie de performance durante a vida de uma pessoa, e é isso, somado às escolhas individuais, que indicariam se uma pessoa é homem ou mulher. 

Pouco importa o sexo biológico de alguém. Mas sim, uma orientação advinda da alma, ou de alguma estrutura não identificada que definira ou orientaria o “gênero” das pessoas. Para o existencialismo – outro muito utilizado pelo identitarismo – a pessoa seria livre para escolher seu gênero. É famosa a frase de Simone de Beauvoir: “Ninguém nasce mulher, torna-se mulher”, ou ninguém nasce homem, torna-se homem. Seria algo definido pela sociedade, e não determinado por categorias biológicas.

Hoje, o movimento identitário utiliza-se desta filosofia para criar inúmeros gêneros diferentes. Ninguém é homem e ninguém é mulher, todos estão em uma zona cinzenta, estão em um espectro que engloba características femininas e masculinas. Nada é determinado, mas sim, “construído”, ou, como dizem outros, orientado por alguma essência ou mística feminina ou masculina. 

É uma mistureba filosófica, cuja questão central é separar o biológico do social, sendo que o social prevalece e é verdadeiramente o que defino o sexo humano. Na realidade, as pessoas são, sim, determinadas pelas características biológicas, pelos hormônios que o próprio corpo produz. Essa teoria pode até sensibilizar algumas pessoas confusas, ou com problemas em reconhecer sua identidade, mas para a grande maioria das pessoas não é problema algum. A luta das pessoas trans, passa a ser a luta contra a “normatividade”, e a negação de uma série de estudos científicos. Freud e seus estudos sobre a psicologia humana são demonizados e as características sexuais nada valem diante dessa estrutura sem nome, sem definição.

 Essa confusão abre espaço para todo tipo de atrocidade promovida pelo movimento trans. Crianças e adolescentes são pressionados ou mesmo forçados a passar por tratamentos químicos para a mudança de sexo. Homens, ou como dizem, “pessoas que nasceram como machos”, entram livremente em banheiros femininos, e devem ser tratados como uma mulher normal. De fato, é preciso haver um respeito a individualidade das pessoas, ninguém deve forçar alguém a se classificar como homem ou mulher, mas as políticas propostas são todas inócuas para resolver o problema das pessoas trans. 

A representatividade no parlamento, a repressão daqueles que não respeitam as novas “categorias de gênero” e inclusive a mudança de pronomes na língua portuguesa são medidas absurdas e prejudiciais para a luta dos trabalhadores contra a burguesia, a luta de classes, a luta fundamental da sociedade. Recentemente, na Universidade de Brasília, uma mulher quase foi expulsa, ou até será, por chamar um cara barbado, de 1,80m de altura, de “cara” no banheiro feminino.

A menina foi submetida a série de repressões da universidade. Bem como as pessoas que desconsideram, que não compreendem essa nova filosofia absurda, devem ser repreendidas pelo Estado, como pede o Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais).  

De fato, é preciso um respeito à individualidade das pessoas. Mas utilizar a filosofia e as questões de gênero para reprimir a população é uma medida arbitrária, que apenas aumenta o poder dos tribunais e da polícia. E de nada vale para resolver a prostituição e as condições de trabalho indignas das pessoas trans. São medidas que apenas criam artificialidades para dividir o movimento LGBT da luta real, a luta dos trabalhadores. 

Além disso, reforçar essas pautas dão mais argumentos para a extrema-direita se organizar e demonizar a esquerda. Quem lucra com isso é a indústria farmacêutica que ganha milhões com os tratamentos, os empresários e os banqueiros que buscam, de todas as formas, impedir o movimento operário e dividir a luta do povo. É muito melhor para elas que a luta seja entre homens e mulheres, entre pessoas cis e pessoas trans, e não entre a classe trabalhadora e a burguesia.

Artigo publicado, originalmente, em 08 de fevereiro de 2023.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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