Na última quarta-feira (20), a Organização das Nações Unidas adiou, pela terceira vez seguida, uma proposta de cessar-fogo para o massacre na Faixa de Gaza. Os debates acontecem entre os representantes dos conselho de segurança sobre os pormenores dos cessar-fogo, o que dá a entender que os Estados Unidos estão tentando encontrar alguma forma de não vetar pela quarta vez a proposta. Ao mesmo tempo, por fora da ONU, as articulações políticas acontecem entre os principais envolvidos: EUA, “Israel”, Hamas, Catar, Irã e Egito.
Na segunda-feira (18), os chefes da CIA e do Mossad se encontraram com o primeiro-ministro do Catar na cidade de Varsóvia. O resultado divulgado pelo premiê catarino ao Al Jazeera é de que havia uma tendência positiva para a questão do cessar-fogo. O presidente de “Israel”, depois, declarou que o seu país estaria aberto a discussões sobre uma nova trégua. A primeira trégua da guerra atual aconteceu de forma semelhante, quando a CIA e o Mossad se encontraram no próprio Catar. Ela foi estabelecida para quatro dias, foi ampliada por mais dois e depois por mais um, levando a libertação de prisioneiros dos dois lados.
O Hamas, por sua vez, se reuniu com o ministro das relações exteriores do Irã na terça-feira (19) e na quarta-feira (20). O seu dirigente Ismail Hanié visitou Cairo, capital do Egito, para discutir sobre o cessar-fogo. As conversas do partido mais popular da Palestina com os iranianos são recorrentes, já a visita ao Egito é uma demonstração de que o imperialismo está abrindo espaço para os debates. O governo egípcio do general al-Sisi é uma ditadura brutal que foi imposta pelos EUA por meio do golpe de Estado de 2013. O país, na prática, executa o bloqueio da Faixa de Gaza junto à “Israel”.
O ministro das relações exteriores do Irã esteve no Catar na quarta-feira (20) também para discutir a questão do cessar-fogo. Ele afirmou que “as negociações diplomáticas indicam que a região está gradualmente avançando em direção a um cessar-fogo.” E acrescentou: “se os lados opostos, EUA e Palestina, estiverem determinados sobre essa questão, eles deveriam entrar em negociações após um tipo de cessar-fogo ser alcançado para discutir como um cessar-fogo permanente e a total suspensão do cerco pode funcionar.”
O Hamas, por sua vez, declarou que não tem interesse em uma trégua rápida, mas sim no final da guerra em uma entrevista de um de seus dirigentes ao portal Al Jazeera. Ghazi Hamad afirmou: “nossa visão é muito clara: queremos interromper a agressão. O que está acontecendo no território é uma grande catástrofe. Destruição em massa e a assassinato em massa”. E concluiu: “Israel vai usar a carta dos reféns e depois começará uma nova rodada de assassinatos em massa e massacres contra nosso povo. Não vamos jogar esse jogo.”
Outro dirigente do Hamas, Salé al-Atouri, declarou: “dissemos isso muito claramente, estávamos prontos para entregar todos os prisioneiros em troca de todos os nossos prisioneiros com os israelenses. Desde o início, queríamos tudo por tudo, mas o regime israelense não respondeu, eles estavam concentrados nas mulheres e crianças; mesmo quando propusemos a libertação de alguns homens civis, não soldados, eles recusaram o acordo, dizendo que não os queriam!”
O Hamas, então, se coloca como o lado mais forte nessa luta, está exigindo os termos do cessar-fogo, quer o fim da guerra e a troca de todos os prisioneiros. Os EUA, por sua vez se colocam totalmente contra essa posição. O porta-voz da Casa Branca, John Kirby, afirmou que o governo Biden está totalmente contra o cessar-fogo permanente: “isso os [Hamas] deixariam no poder em Gaza, o que é inaceitável para nós e para nossos amigos israelenses. E, é claro, lhes daria um prazo muito mais longo para se preparar e planejar ataques adicionais. Nós apoiamos pausas humanitárias menores, mais localizadas e mais direcionadas para retirar reféns e obter mais ajuda”.
O secretário-geral do PCO, Rui Costa Pimenta, comentou o posicionamento do Hamas: “a exigência do Hamas é um sinal de força. O imperialismo está dando sinais de que não conseguirá continuar. A situação se transformou de forma que os Estados Unidos não conseguem se manter. Acredito que vai acontecer a trégua, vão haver negociações, o Hamas vai pedir para libertar cerca de três mil prisioneiros e isso será uma vitória muito grande.” Ou seja, a posição do partido palestino é tão forte que eles sabem que mais cedo ou mais tarde a vitória militar irá impor um cessar fogo permanente e uma troca de reféns em larga escala.
Agora resta saber qual será a posição do imperialismo. O conselho de segurança adia as votações como se algo fosse acontecer para mudar a conjuntura. O Irã se posiciona de forma confiante sobre a trégua. A única certeza que se tem é que os israelenses estão em uma situação muito ruim, apenas assim o Hamas teria segurança para ditar as regras de um cessar-fogo. O imperialismo não consegue controlar a situação, nem do lado palestino, com o fortalecimento do Hamas, nem do lado israelense, onde os políticos da extrema-direita, que não são os preferenciais de Biden, seguem controlando o panorama.