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Ascânio Rubi

Ascânio Rubi é um trabalhador autodidata, que gosta de ler e de pensar. Os amigos me dizem que sou fisicamente parecido com certo “velho barbudo” de quem tomo emprestada a foto ao lado.

Governo Lula

Golpes e golpistas

Não se trata só de "defender as instituições"; trata-se, principalmente, de defender o governo popular de Lula

No último dia 7 de janeiro, discutia-se alegremente no portal 247 se a esquerda deveria manter a mobilização ou se tinha finalmente chegado o momento de curtir a vida e chamar os amigos para um bom churrasco de picanha. A opinião majoritária na pequena burguesia progressista era a de que já podíamos relaxar, afinal Lula tinha subido a rampa do Palácio do Planalto uma semana antes e recebido a faixa presidencial de representantes do povo (mulher negra catadora de recicláveis, deficiente, menino negro, cacique Raoni, Lu e Geraldo Alckmin, pessoas do acampamento Lula Livre, Janja e a cadelinha Resistência).

O mesmo clima seria reforçado à noite no programa Altas Horas, da Rede Globo, que, a propósito de homenagear o cantor Milton Nascimento, congregou uma plateia VIP, que o apresentador, em festa, chamava de “PIB do amor”. Lá estavam Janja, num modelito azul, Silvio Almeida, num corajoso paletó cor-de-rosa, palestrantes populares nas redes sociais, como Eduardo Moreira e Mario Sérgio Cortella, e, coisa que não poderia faltar, alguns representantes dos povos originários brasileiros, que, com o rosto cuidadosamente colorido, equilibravam na cabeça enormes cocares.

Tudo parecia levar a crer que o amor venceu e que os bolsonaristas, reduzidos a grupos de malucos acampados diante de quartéis, logo se cansariam de dormir ao relento e voltariam conformados para casa. No dia seguinte, porém, a turba invadiu o palácio presidencial e os edifícios do Congresso e da Suprema Corte com ânimo destruidor. Não pouparam nem vidraças, nem o mobiliário, nem mesmo obras de arte. Houve até quem arriasse as calças e encenasse defecar sobre uma mesa usada pelos ministros do STF. Como estavam todos munidos de celulares, as filmagens foram fartas e inundaram as redes sociais.

O mais é o que se sabe.  A imprensa não hesitou em alçar os manifestantes bolsonaristas ao status de “terroristas”. Quem tenha assistido à cobertura da Rede Globo no dia do quebra-quebra terá ouvido os repórteres falarem em “milhares de terroristas” ou “multidão de terroristas”, o que, no mínimo, causa estranheza. Termos como “vândalos”, “arruaceiros” e “baderneiros” foram usados à larga em toda a imprensa, inclusive a progressista, num clamor conjunto pela ordem, que, aparentemente, só pode retornar com a ação repressiva do Estado.

Curiosamente, a Lei Antiterrorismo, aprovada durante o governo Dilma Rousseff, “reformulou o conceito de terrorismo”, que passou a ser definido como “a prática por um ou mais indivíduos dos atos previstos neste artigo [usar ou ameaçar usar, transportar, guardar, portar ou trazer consigo explosivos, gases tóxicos, venenos, conteúdos biológicos, químicos, nucleares ou outros meios capazes de causar danos ou promover destruição em massa], por razões de xenofobia, discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia e religião, quando cometidos com a finalidade de provocar terror social ou generalizado, expondo a perigo pessoa, patrimônio, a paz pública ou a incolumidade pública”. Como movimentos sociais e políticos ficaram de fora da definição, já há quem lamente a dificuldade de enquadrar a horda bolsonarista nesse tipo de delito, que, diga-se de passagem, é muito difícil de definir – em geral, “terroristas” são os outros. Quantas vezes a direita – tanto a da ditadura como a “coxinha” – não considerou ações do MST ou de outros movimentos de esquerda “atos terroristas”? O macho alfa do STF, no entanto, pode propor uma interpretação que sirva aos propósitos do momento, uma vez que que teve profanado o próprio armário.

O fato é que o bando foi organizado e financiado por forças de extrema direita, cuja principal morada são os quartéis, aparentemente dispersas entre proprietários de terras e empresários pequenos e médios, seguidos de gente do povo que embarcou na aventura em troca de um lanche e de uma oportunidade de extravasar algum tipo de indignação. Segundo a imprensa, a malta perpetrou um “ataque à democracia” – o Datafolha já indica que 93% dos entrevistados condenam as ações e boa parte deles (embora em número menor) são favoráveis à prisão dos referidos “bolsonaristas radicais”.

A imprensa conclama os leitores a condenar o “ataque às instituições”, não exatamente um ataque ao governo Lula. Por esse motivo, preocupam-se em defender a punição legal dos manifestantes como caminho de enfrentamento do problema. De um ponto de vista político, porém, importa defender o governo Lula, recém-empossado, um governo de esquerda. Para isso, o caminho é justamente a mobilização da militância, que deve adiar o churrasco, se preciso for, e mostrar a força do governo. Não é hora de arrefecer, muito pelo contrário.

Hoje, a imprensa usa e abusa do termo “golpista” para caracterizar a turma do Bolsonaro, mas jamais admitiu com todas as letras que Dilma Rousseff sofreu um golpe de Estado. Difamaram Lula e o PT a mais não poder, prenderam o Lula para que ele não ganhasse as eleições de 2018, inflaram a candidatura de Bolsonaro e se empolgaram com o Paulo Guedes, aquele que não queria compartilhar o assento do avião com uma empregada doméstica. Nunca admitiram que Lula foi preso injustamente e que foi perseguido. Para muita gente, o STF soltou o ladrão e o pôs na presidência fraudando as urnas. Essa visão é lamentável, mas a imprensa, tão eficaz na propaganda que lhe interessa, não foi capaz de fazer um mea-culpa e de dizer o que realmente aconteceu na nossa história recente. Nem poderia fazê-lo, pois foi parte do golpe. Agora, golpistas são os outros e o remédio é “cadeia neles”.

Mais importante é defender o governo Lula. O povo e a militância que não tiveram medo de vestir roupas vermelhas no dia da posse devem manter-se mobilizados. Não se trata só de defender as instituições, como propagandeia a imprensa burguesa e boa parte da intelectualidade progressista, sedentas de punição aos desordeiros. Trata-se, principalmente, de defender o governo Lula, um governo popular, de esquerda, para além da cosmética identitária, sempre tão subserviente aos golpistas que, embora não destruam patrimônio, são capazes de jogar o país na lama.

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