No dia 23 de março a Folha de São Paulo publicou um editorial sobre o Banco Central (BC), intitulado “Lula só tem a perder”. A “Folha de Wall Street” teceu críticas duras à política econômica do governo Lula, a certo ponto assumindo um tom de ameaça.
Editorial da Folha S. Paulo defende juros altos e ataca Lula.
O editorial desde o início não disfarça a análise imparcial sobre os fatos em favor dos banqueiros. Crítica a priori a política do governo classificando-a como “pressões descabidas”, motivadas por uma “lógica mesquinha, que governo e partido procurem um bode expiatório para um desempenho sofrível da economia neste ano”.
No texto expõe apenas as razões defendidas pelo Copom, mencionando o aumento das projeções do IPCA, mesmo com brandura no crescimento do PIB. Não há clareza nas razões do ponto de vista econômico para a manutenção das taxas de juros, apenas uma defesa do ágio.
Regime golpista
Chama atenção como a Folha afirma: “O BC é autônomo por lei, e o Planalto, tudo indica, não dispõe de votos para mudar tal condição ou para derrubar o presidente do órgão”. Aqui ela evoca um resquício legislativo do Golpe de Estado 2016, que aprofundou uma política de entrega do rumo econômico aos banqueiros, iniciada com o Golpe Militar de 1964.
Vale ressaltar que a própria Folha desnuda o regime golpista afirmando não ser possível ao governo modificar uma legislação em favor da população. A burguesia tem plena consciência de que o Congresso está nas suas mãos, mesmo que os seus partidos tradicionais estejam em clara decomposição.
A continuação do parágrafo anteriormente citado coloca que “, se conseguisse fazê-lo, as consequências seriam desastrosas”. Para não restar dúvidas sobre o tom de ameaça do editorial podemos citar outro trecho “A insistência numa ofensiva irracional, porém, ameaça provocar danos mais duradouros.”
O desfavor da pequena-burguesia
Outro ponto que chama atenção é a afirmação de que “O governo insistiu na tolice de criticar o BC após o anúncio dos juros. Haddad, um dos mais moderados, classificou a decisão como muito preocupante.”
Não questionando a lealdade de Haddad com o Lula, o seu caráter de classe pequeno burguês e suas concepções políticas tendem ao oposto da necessidade da classe trabalhadora.
Em 2018, além de discordar da política de ceder aos golpistas aceitando a substituição do Lula, a figura política do Haddad não contava com apoio popular. Há diversos casos no próprio PT de candidatos pequeno-burgueses que acarretaram prejuízo à classe trabalhadora.
Porque manter os juros e estrangular a economia?
Essa política da burguesia para a economia de juros altos, presente inclusive no próprio imperialismo, tem basicamente dois lastros de classe. Que nada tem haver com o desenvolvimento econômico da nação ou atendimento das necessidades objetivas da população.
O primeiro, que levou ao aumento dos juros na América do norte, é o controle inflacionário através de altos juros e desaceleração do crescimento econômico. Essa medida visa evitar a radicalização do movimento operário, uma forma de controle político.
O segundo, mais marcante no nosso país, é uma medida para garantir o alto índice do lucro especulativo. Aqui sacrifica-se a economia e as condições de vida da população para garantir o retorno sem igual no mundo do capital estrangeiro.
A economia deve existir para atender as necessidades de sua população, não os interesses de um grupo reduzido de capitalistas. Ao contrário da defesa da Folha e BC, o governo Lula está correto ao tentar direcionar a economia no sentido de desenvolvimento para atender as necessidades da população.
Golpe na economia
O que mais chama atenção nestes primeiros dias de governo Lula, é o fato da burguesia direcionar seu ataque principalmente às características da política econômica do governo. Isso demonstra que a política econômica favorece a pedra de toque da situação política.
O Golpe de Estado de 2016, não foi apenas um golpe no governo do PT, mas um golpe nas condições de vida de toda a população. A política implementada pelo golpe além de garantir lucros inimagináveis aos especuladores, possibilitou o surgimento de mais de uma centena de bilionários entre 2016 e 2023, através de um processo de exploração que colocou mais 13,5 milhões de brasileiros na extrema pobreza.
Justamente por, neste cenário ser a questão econômica o ponto central do regime político, é neste aspecto que o governo é mais atacado. E justamente nesse sentido, devemos bater defendendo o interesse dos trabalhadores.