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Partido Comunista da Grécia

Falando grego: “China e Rússia são países imperialistas”

Um das maires partidos comunistas da Europa adera a campanha do imperialismo de ataque a Rússia e a China, formam a sua ala esquerda, tal qual a esquerda golpista no Brasil

A guerra na Ucrânia, em que a OTAN trava um confronto militar contra a Rússia, ainda divide muitos setores da esquerda pequeno-burguesa, até mesmo internacionalmente. O caso recente do racha do PCB tem uma relação direta com essa questão, pois está ligado a uma disputa internacional nos Partidos Comunistas que ainda existem. Há uma ala radicalmente anti-Rússia que é encabeçada pelo Partido Comunista da Grécia, o KKE. Ele é um dos mais fortes PCs no mundo e, portanto, tem uma grande influência. A sua posição é muito bem definida: a guerra é inter imperialista, de um lado a OTAN, do outro a Rússia e a China, ambos países imperialistas. É o que foi muito observado no Brasil no início da guerra em 2022, o “nem nem”. Ao se colocar neutros em um confronto de um país oprimido contra o imperialismo, o KKE assume na prática a posição pró-imperialista.

A principal falha do KKE é considerar que a China e a Rússia são países imperialistas, e que, portanto, a disputa que existe entre ambos e os países imperialistas de fato (EUA, UE, Japão), é uma disputa inter imperialista. Isso significa que o KKE não apoia esses dois países que estão sendo oprimidos pelo imperialismo, mas se coloca numa posição neutra. Contudo, em uma disputa política de qualquer força contra o imperialismo, é necessário se colocar sem tergiversar ao lado dessa força. Isso porque uma derrota do imperialismo é uma vitória de todos os povos do mundo. Ao não se posicionar contra o imperialismo, na prática, está se colocando ao seu lado.

No sítio do KKE há diversos textos sobre essa questão que devem ser analisados para se compreender melhor. Em um texto o partido afirma: “a burguesia da Ucrânia, aliada da OTAN, da UE e dos EUA, está em confronto com a Rússia e seus aliados. É uma guerra injusta de ambos os lados; tanto por parte da OTAN, que usa a Ucrânia como ponta de lança, quanto por parte da Rússia capitalista, que atua objetivamente como amortecedor da China no grande conflito acima mencionado. É uma guerra travada pelas classes burguesas por matérias-primas, pilares geopolíticos, possibilidade de exploração da força de trabalho, rotas de transporte de mercadorias, participação no mercado, etc.” (The timely task of struggling against NATO is linked to a revolutionary understanding of the world, to confidence in the power of class struggle). 

Aqui já fica claro o posicionamento reacionário do KKE. Para eles, a China está em pé de guerra com o imperialismo e a Rússia seria um “amortecerdor”. A guerra seria “injusta” do lado russo por que seria travada pela burguesia do país. Aqui se expressa o grande problema de considerar a Rússia um país imperialista. O partido grego não compreende que a Rússia está sendo duramente atacada pelo imperialismo que tentou derrubar seu governo, derrubar governos aliados em seu entorno, aplicou duríssimas sanções econômicas, sabotou sua economia com atentados e armou a Ucrânia até os dentes como forma de atacar a Rússia. De alguma forma, a Rússia estaria em pé de igualdade com a Inglaterra, a França, a Alemanha e os EUA. A Rússia teria que ter, por exemplo, uma enorme influência na Polônia ou no México, algo que está muito longe da realidade. A guerra é travada na fronteira da Rússia justamente por ela ser o país oprimido.

O mesmo texto segue afirmando que o KKE é contra a OTAN, mas nunca se aliaria a outras forças que também se opõe a OTAN: “Não entregaremos esta tarefa revolucionária nem a Bin Laden e a várias organizações reacionárias do tipo Talibã ligadas de mil maneiras aos imperialistas, nem a regimes burgueses surgidos de processos contrarrevolucionários, como o de Putin na Rússia de hoje, ou, claro, do bilionário ex-presidente dos EUA, D. Trump.” Aqui o partido desenvolve seu argumento reacionário. A tarefa da destruição do imperialismo é da classe operária internacional. Contudo, qualquer força que atue contra o imperialismo, o enfraquecendo, não atua de forma extremamente progressista. A vitória do Talibã deu origem a uma nova fase de decadência do imperialismo que abre uma enorme margem de ação para a classe operária. O imperialismo, por exemplo, perdeu o Brasil para um líder operário, o presidente Lula. O governo russo e o Talibã, em seu embate com imperialismo, não são forças reacionárias, pois não há nada mais reacionário que o próprio imperialismo. 

No mesmo texto KKE desenvolve a sua tese do imperialismo: “um elemento adicional que nos separa de várias forças ‘anti-imperialistas’, que tratam o imperialismo de forma distorcida, como uma política externa agressiva, e não como a atual fase monopolista do capitalismo, e caem na armadilha de escolher o que parece ser o mal menor.” E afirmam em outro artigo: “O imperialismo é o capitalismo monopolista. No atual sistema imperialista, todos os estados capitalistas estão integrados a ele e são caracterizados por relações de interdependência, competição e cooperação desiguais. Isso certamente não significa que eles tenham o mesmo poder e capacidades; significa que todas as classes burguesas participam da repartição dos espólios, da partilha da mais-valia produzida pela classe trabalhadora em todo o mundo, com base no poder político, militar e econômico de cada Estado.” (On the so-called World Anti-Imperialist Platform and its damaging and disorienting position)

Aqui o partido explica o porquê de não defender nenhum país oprimido em sua luta contra o imperialismo. Na verdade, eles não acreditam nem que exista essa luta. Existe uma diferença de “poder e capacidades”, mas todas as “classes burguesas participam da repartição dos espólios”. É uma interpretação muito extravagante do imperialismo. Não existe um grupo de nações que concentram os monopólios e exploram os demais países oprimidos. O imperialismo é um sistema que integra todos os Estados capitalistas. Os EUA não oprimem países do planeta inteiro, a França não espolia a África, a Alemanha não oprime o leste europeu. O Brasil, o Níger e a Grécia estão no mesmo sistema, só que tem “menos capacidade”. É uma ideia absurda. Se uma nação tem mais poder que outra, ela a oprime. As nações imperialistas têm um poder tão concentrado que oprimem todo o planeta. 

O KKE não se aventura em explicar como o Togo participa do sistema imperialista, algo que seria muito difícil, ele foca nas grandes nações atacadas pelo imperialismo, China e Rússia. No mesmo texto afirmam: “É como se os monopólios chinês e russo não exportassem capitais para outros países, visando o lucro que advém da exploração da força de trabalho não só dos trabalhadores de seu próprio país, mas também de muitos outros países da Europa, Ásia, África, América, onde quer que seus monopólios se desenvolvam. É como se o exército privado russo ‘Wagner’ fosse implantado na África por motivos de caridade e não para defender os interesses dos monopólios russos que operam lá.”

A tentativa de colocar a Rússia e a China como nações imperialistas é ridícula. A Rússia é um país exportador de gás natural, é um típico país atrasado. Que empresa russa tem grande influência no planeta? E não só isso, a Rússia mal controla suas fronteiras, vide a própria Ucrânia. A China por sua vez tem poucas empresas adentrando o mercado mundial, mas a sua economia é muito controlada por empresas estrangeiras. O mesmo vale para o seu território, o mar sul da China ainda está em disputa com o imperialismo, e uma província inteira chinesa, Taiuan, está fora do seu controle. Que nação imperialista não controla nem seu próprio território. É um absurdo comparar o que faz a China na África com o que fazem os EUA e a França. O mesmo vale para a Rússia, que internacionalmente tem uma presença ainda menor. 

Aqui fica claro como o KKE é um partido que cedeu as pressões do imperialismo. A campanha contra a Rússia e a China é tão forte que eles precisam adulterar a teoria do imperialismo de Lenin. A Grécia, um país membro da OTAN, ganharia muito com sua derrota na Ucrânia. Mas o partido não consegue se desvencilhar da política imperialista, ele se coloca contra OTAN, pois sua base está totalmente contra, mas não se coloca a favor da Rússia, pois está pressionado pelo imperialismo. A Grécia também é oprimida pelo imperialismo alemão, que está se enfraquecendo muito com a vitória dos russos. Mas o KKE segue a mesma política do chanceler Sholz que afirmou que a Rússia é um país imperialista. Esse centrismo favorece apenas ao imperialismo, pois a base do KKE já naturalmente é contra a OTAN, mas tem uma forte tendência a defender a Rússia, a China e todos os países atrasados.

O KKE conclui no mesmo texto: “Como Lênin apontou, quando os abutres imperialistas se enfrentam, o lado certo da história é não escolher o lado do abutre mais fraco para que ele possa tomar o lugar do mais poderoso. O lado certo da história é escolher o lado dos povos contra o campo dos capitalistas”. Aqui está a saída esquerdista para não defender os países diretamente atacados pelo imperialismo. Basta considerar todos os países imperialistas e “defender o povo”. É a mesma política de toda a esquerda pequeno burguesa brasileira, “em defesa do povo da Ucrânia de Rússia, fora Putin!” A conclusão, levada as últimas consequências, mostra como essa política é reacionária. 

Essa posição é expressa em diversos outros textos que se posicionam de forma mais agressiva ainda contra a China. É uma capitulação ao imperialismo. O Partido Comunista da Grécia é um polo bem definido dessa política de ataque a Rússia e a China pela esquerda. No Brasil essa tese se torna ainda pior, pois é possível colocar o governo Lula no mesmo balaio. Inclusive o próprio KKE comenta: “Os capitalistas da China, Índia, Brasil e outros países, que deram um jeito de importar matérias-primas russas, principalmente petróleo” (Blood and tears for the peoples – profits for capital). A capitulação ao imperialismo tem como fim levar adiante a sua política, isto é, atacar os governos nacionalistas que resistem a sua dominação. Nesse sentido, o KKE assume uma posição reacionária enquanto Putin toma políticas que, na prática, auxiliam todos os povos do mundo na luta por sua libertação. 

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