Neste 59º Congresso da UNE, um verdadeiro “show de horrores” se apresentou para os presentes no evento. O PCdoB, partido que preside a UNE há anos, promoveu a habitual despolitização da atividade, mas com uma dose extra de descaramento neste ano, convidando para discursar diante da maior reunião política de jovens e estudantes do país, o Ministro da Justiça, Flávio Dino – um direitista que vem promovendo uma criminosa política de censura contra todos no Brasil, e o Ministro do Supremo Tribunal Federal, Luís Roberto Barroso – apoiador da Lava Jato, do golpe contra Dilma, da prisão de Lula e da fraude eleitoral de 2018.
A recepção a Flávio Dino por parte da esquerda ali presente, aparentemente, foi algo vergonhoso. Segundo relatos e fotos, o ministro teria sido recebido como uma grande personalidade da esquerda. Em seu discurso, defendeu a censura à internet, dizendo que esta serve como “plataforma das ideias da direita”, o que justificaria sua política de cassar a liberdade de expressão de seus usuários no Brasil.
A grande confusão política que existe nas organizações de esquerda, não auxiliada pelo fato de que a imprensa ajuda a impulsionar Flávio Dino como alguém que teria lutado contra o bolsonarismo ou até contra o fascismo, leva a uma dificuldade por parte dos estudantes de compreenderem que estavam diante de um de seus inimigos. Dino é um homem da direita, do poder judiciário, um repressor que quer privar a população de seus direitos.
No caso da recepção ao Ministro Barroso, transparece uma outra confusão política das organizações da esquerda. O grupo Faísca, juventude do Movimento Revolucionário de Trabalhadores (MRT), fez um artigo se orgulhando de ter organizado uma vaia contra a presença de Barroso no evento: “Quem é a Faísca, o grupo revolucionário que protagonizou a ação contra Barroso no CONUNE”. Quem lê o título e não conhece o grupo ou não sabe exatamente o que aconteceu, até acredita se tratar de grandes revolucionários mastigadores de vidro.
No entanto, por qual motivo teria sido o protesto? Seria pela participação de Barroso no golpe contra Dilma de 2016 e no impedimento de Lula se candidatar em 2018, levando à vitória de Bolsonaro? Ou terá sido porque ele, enquanto representante do STF, apoia uma política de perseguição e de censura a toda a população no período atual?
Não, a manifestação contra Barroso foi devido à decisão do STF de cortar o piso salarial dos profissionais de enfermagem. Ainda que seja uma medida extremamente negativa e um ataque contra um setor da classe trabalhadora brasileira, perto dos demais ataques, esse parece até brincadeira se comparado com as outras ações criminosas cometidas por Barroso e o STF. Todos os dias, juízes de primeira instância cortam pisos de categorias profissionais da mesma forma, é até um esporte desses tribunais. O problema aqui não é esse. A questão é que Barroso. eo STF são no momento um dos mecanismos políticos de profundos ataques aos direitos democráticos do povo. Antes, com a desculpa do combate à corrupção, deu o golpe e prendeu Lula ilegalmente, agora, com o pretexto de combate ao fascismo, estão acabando com a liberdade de expressão e estabelecendo um regime ditatorial no País.
O Faísca não fala nada disso porque como todo grupo da esquerda pequeno-burguesa sabe fazer demagogia defendendo uma política pseudo-operária. Mas se forem colocados diante do problema político mais grave, colocam a viola no saco. A verdade é que os “grandes revolucionários” não teriam coragem de confrontar a política ditatorial do STF em relação, por exemplo, à liberdade de expressão.
No final das contas, a maior parte da esquerda brasileira se vê incapaz de fazer uma crítica e uma oposição dura a um dos poderes mais ditatoriais da política nacional. A confusão se dá também porque uma boa parte dessa esquerda, na verdade, apoia as medidas do STF. Seja por confusão política ou por oportunismo. Um exemplo disso é a perseguição levada adiante contra bolsonaristas e o próprio Bolsonaro. Apesar de ser algo totalmente inconstitucional, uma parte da esquerda acredita que é algo positivo, pois está sendo contra um de seus inimigos políticos.
Essa política oportunista irá se voltar, em breve, contra toda a esquerda, as organizações populares e a própria classe trabalhadora. É preciso levar adiante uma luta política séria, com a consideração de que o pior inimigo neste momento não é o bolsonarismo, mas a própria direita “civilizada”, que agora faz demagogia esquerdista no Congresso da UNE e em outros eventos.