No início do ano, durante o Campeonato Carioca, nenhum botafoguense ou qualquer outro torcedor imaginaria que o Botafogo seria candidato ao título do Campeonato Brasileiro. Pois bem, o Alvinegro, até o fechamento dessa edição, é o líder isolado do Brasileirão, com 12 pontos de diferença sobre o vice colocado.
Antes da competição nacional, o Glorioso foi precocemente eliminado no estadual, tendo de disputar o prêmio de consolação do Cariocão, a Taça Rio. Fez também péssima atuação na primeira fase da Copa do Brasil — classificando-se, no sufoco, após empatar por 1 x 1 no final da partida contra o Sergipe.
A torcida protestou, pediu a saída do treinador português Luis Castro. A sede do clube foi pixada, faixas de protestos foram levadas aos estádios, a crise era grande. Eis que, jogo após jogo, o time foi melhorando, conquistando uma grande sequência de invencibilidade. Muitos torcedores pediram desculpas ao português que então comandava o elenco.
No final de junho, Castro deixou o Botafogo para aceitar proposta milionária do Al-Nassr da Arábia Saudita. Todos achavam que isso abalaria o time, que o Alvinegro perderia o gás e começaria a perder diante de uma crise causada pela trairagem do português (mais uma dos portugueses após Jorge Jesus com o Flamengo e Vitor Pereira com o Corinthians).
Não foi o que aconteceu. Interinamente, o clube colocou o auxiliar técnico do Olympique Lyonnais, o ex-zagueiro Cláudio Caçapa, um brasileiro, à frente do elenco botafoguense. Foram quatro partidas disputadas e quatro vitórias. E vitórias importantes: um clássico contra o Vasco (2 x 0), duas vitórias fora de casa — uma contra o Grêmio (0 x 2), adversário direto pelo título do Campeonato Brasileiro, e a outra na Argentina, contra o Patronato (0 x 2) pela Copa Sul-Americana; além de uma vitória em casa contra o Redbull Bragantino (2 x 0) pelo Brasileirão, que levou à vantagem de 12 pontos em relação ao segundo colocado do campeonato nacional.
A sequência mostrou não somente que o Botafogo não ficou abalado pela saída de Castro, como que, na realidade, foram os jogadores que, na crise do início do ano, se uniram e fizeram a diferença que permitiu chegar à liderança do Campeonato Brasileiro com a melhor campanha da história dos pontos corridos (até a 15ª rodada).
O jornalista Vitor Sérgio Rodrigues, da TNT, apontou inclusive que o ambiente no clube ficou até melhor com a saída de Castro. “A informação que tive é que o ambiente está leve desde a saída dele porque dentro do Botafogo havia um sentimento de que o Luís Castro era excessivamente centralizador. Ele queria mandar em toda a cadeia do futebol”, comentou.
O caso revela novamente a farsa dos técnicos portugueses. Os vencedores, como Jorge Jesus (Flamengo 2019) e Abel Ferreira (Palmeiras, desde 2020), treinam os melhores elencos do país. No caso do Botafogo, o time foi montado sem tanto investimento, mas com jogadores experientes e novos atletas que prometem serem destaques nos próximos ciclos.
Sem motivo, ao invés de tentar manter o interino Caçapa no comando do Glorioso, o clube decidiu contratar outro português: Bruno Lage, que vai assumir o comando do time isolado na liderança do Brasileirão.