Após o escândalo da fraude contábil nas Lojas Americana, existe a possibilidade de operações semelhantes terem sido realizadas por outras grandes empresas. Assim como fez a rede varejista no começo do ano, pelo menos outras cinco empresas já adiaram a divulgação do seu balanço financeiro para o último trimestre de 2023: Marisa, T4F, Braskem, Gol e Oi. No caso das Lojas Americanas, duas semanas após o pedido de adiamento do prazo veio o anúncio do rombo de R$ 20 bilhões no orçamento da empresa. Hoje, o rombo já está estimado em R$ 43 bilhões.
A sequência de pedidos de adiamento dos prazos, realizado por empresas de grande porte após esse escândalo, desperta a desconfiança de que muitos podem estar tentando camuflar fraudes similares ou apenas adiando a publicidade do que fizeram no ano passado. Ao longo de vários anos, as Lojas Americanas omitiram no seu balanço contábil os juros bancários dos empréstimos utilizados nas operações de pagamentos dos fornecedores. Ao invés de registrar essas dívidas com o cálculo dos juros, os balanços indicavam apenas o valor pago aos fornecedores. Se outras empresas fizeram igual, podemos estar diante de uma verdadeira avalanche de falências.
Lojas Marisa
A empresa, que surgiu como Marisa Bolsas em 1948, expandiu tanto seu ramo de atuação que tem até previdência privada no seu cardápio. Recentemente, em meio à polarização política do golpe de Estado de 2016, a empresa lançou uma campanha de marketing com provocação à ex-primeira-dama Marisa Letícia, falecida em fevereiro de 2017. Em maio do mesmo ano, trouxe o slogan “se sua mãe ficar sem presente, a culpa não é da Marisa”.
A provocação fazia referência a um depoimento de Lula, em que ele afirmou que quem tinha manifestado interesse em adquirir o famigerado triplex no Guarujá havia sido sua então esposa. Quase seis anos depois, a empresa se vê no meio dessa crise e já solicitou duas vezes o adiamento da prestação de suas contas, primeiro para o final de março e depois para o final de abril. Varejista do setor de roupas, a empresa conta com 344 lojas no país.
Braskem
Gigante do setor químico e petroquímico, a Braskem é uma multinacional, com fábricas no Brasil, Estados Unidos, Alemanha e México. A Petrobrás é dona de 36,15% das ações da empresa. A Brasken é outra que já adiou o prazo de entrega por duas vezes. Ao contrário das Lojas Marisa, que justificaram o atraso por conta de uma reestruturação na empresa, a Brasken não apresentou aos investidores nenhuma justificativa para os adiamentos.
Gol
A empresa Gol Linhas Aéreas Inteligentes, do ramo da aviação, até chegou a apresentar demonstrativos, porém sem a necessária auditoria. Sem explicar os motivos, apenas informou que o trabalho dos auditores independentes estava atrasado.
Oi
A empresa de telefonia Oi adiou o prazo para além do regulamentado, em meio a um processo de recuperação judicial. Trata-se, portanto, de uma empresa já quebrada no meio desse bolo de pedidos de adiamento da entrega dos balanços.
T4F
A T4F entretenimento atua na produção de eventos, como shows musicais e peças de teatro. A empresa adiou uma vez a entrega e finalmente apresentou seus números no final de março.
O que mais vem por aí?
Mesmo que nem todas as atrasadas estejam no mesmo patamar de crise financeira da Oi ou das Lojas Marisa, o fato de que várias empresas tenham adiado os prazos iniciais demonstra que o problema pode ser bem maior do que aparenta na superfície. Como no caso das Lojas Americanas, quanto mais se apura, pior o quadro real pode ser.
Esse cenário atual coincide com a crise de empresas diretamente do setor bancário, ao qual toda a economia está atrelada. É preciso acompanhar atentamente a evolução dessa crise, pois o caso das Lojas Americanas pode ser o início de um efeito cascata, de uma cadeia de falências.
