
A Alemanha atualmente é a maior economia da Europa e a quarta do mundo, atrás dos EUA, China e Japão respectivamente. Os dois países mais atingidos brutalmente pelos desdobramentos da segunda guerra mundial, Japão e Alemanha, foram os dois que reconstruíram as suas bases econômicas e mais rivalizaram com os EUA a partir da década de 1970. O Japão, apesar de aliado no condomínio do imperialismo causou alguns problemas em especial para os EUA na década de 1980; adquirindo alguns conglomerados empresariais dos Estados Unidos. Isso chamou a atenção para a necessidade de conter a competição que o Japão vinha impondo na economia mundial e ameaçando o domínio dos EUA.
A bolha especulativa da década de 1980 que estourou em 1987 na bolsa de Nova Iorque e atingiu também a bolsa de Tóquio repercutiu a partir de então muito mais negativamente para o Japão do que para os EUA. Como os EUA controla o centro do capital financeiro mundial o Japão tornou-se mais refém dos desdobramentos da política financeira neoliberal do que o próprio EUA. A partir do início da década de 1990 o Japão entrou numa recessão econômica da qual, até então, não conseguiu escapar.
A economia alemã, que resistiu mais a entrada de “cabeça” no jogo especulativo do mercado financeiro, se comparado aos japoneses, ainda conseguiu manter a sua atividade industrial com maior lastro econômico prosseguiu com uma política industrial mais coesa e ainda aproveitou o processo de unificação alemã do início da década de 1990 para expandir muitos dos seus negócios, incorporando a antiga Alemanha Oriental. Com a criação da chamada Zona do Euro em 1999 na Europa a Alemanha conseguiu se sobressair ainda mais no mercado europeu e se manter como competidos de peso no mercado internacional. A Alemanha, que tinha a moeda mais forte devido ao seu lastro econômico maior conseguiu beneficiar-se da moeda única do Euro e avançar economicamente frente aos seus competidores europeus. A crise econômica e financeira de 2007-2009 fragilizou excessivamente a economia mundial e principalmente a dos EUA e isso resultou a partir de então numa enorme crise do imperialismo e abriu enormes contradições no interior desse bloco de poder.
A partir do golpe na Ucrânia entre 2013-14 patrocinado pelo imperialismo e a formação do consórcio sino-russo (parceria China e Rússia) o imperialismo entra numa crise ainda mais profunda iniciada com maior vigor na denominada crise de 2008 (2007-2009). A recessão econômica mundial, a fragilização política do imperialismo com os EUA à frente e o fortalecimento da geopolítica regional com China e Rússia no comando proporcionou uma fissura também no interior do próprio imperialismo, onde os EUA, através da OTAN, contraditoriamente fragilizam os europeus, em especial a Alemanha com a guerra na Ucrânia.
Com o anúncio de que suspendeu o licenciamento do gasoduto Nord Stream 2 em 22 de fevereiro de 2022; no início da invasão Russa a Ucrânia a derrocada econômica alemã iniciava sua trajetória com uma contundência ainda maior. O chanceler alemão Olaf Scholz, como um capacho dos EUA no interior do condomínio decadente do imperialismo a partir desse anúncio contrário ao desenvolvimento dos seus próprios interesses econômicos colocou em xeque a condução do seu próprio governo e do país. Após um ano e meio depois desse anúncio a economia alemã permanece cambaleando; muito em função da insuficiência e o custo dos insumos básicos que proporcionam a atividade econômica alemã funcionar e expandir.
A ausência de poder contar com os gasodutos russos colocou a Europa e a Alemanha em uma situação de crise muito aguda a partir de 2022 e agora em junho de 2023 está pronta para se intensificar com perspectivas bastante negativas quanto as incertezas sobre os insumos energéticos. De acordo com o portal Eurodicas https://www.eurodicas.com.br/preco-do-gas-volta-a-subir-na-europa/#:~:text=Em%20junho%20de%202023%2C%20a,US%24%2038)%20por%20MWh. “ A preocupação do mercado não é somente uma especulação, mas uma ameaça concreta: a Europa pode estar prestes a perder um de seus maiores fornecedores de gás. Na o dia 22 de junho, os preços de referência do gás natural aumentaram 24% após o anúncio de que o campo de gás holandês de Groningen, o maior campo europeu, pode encerrar as suas atividades em outubro de 2023.
A reação negativa do mercado foi provocada também devido ao anúncio da Gassco, principal rede de gás da Noruega, feito no dia 21 de junho, sobre a prorrogação do período de desligamento de uma de suas usinas de processamento de gás até 15 de julho. A continuação da manutenção para além do que o planejado irá provocar a interrupção no fornecimento de um dos campos-chave da Europa”.
A crise europeia e alemã não tem precedentes desde a segunda grande guerra e tende a se ampliar e intensificar. Isso abalou a credibilidade da economia alemã e as perspectivas de crescimento econômico e desenvolvimento. Se a economia alemã, a maior da Europa entrou em recessão técnica segundo as medições do mercado tradicional, antes mesmo das notícias mencionadas acima, o diagnóstico e as previsões econômicas são ainda piores para o segundo semestre de 2023. A própria imprensa capitalista aponta para um clima péssimo em termos de perspectivas dos próprios empresários alemães e não poderia ser diferente já que os dados oficiais mostram que a economia persiste cambaleante e frágil a qualquer abalo que possa surgir no que diz respeito principalmente aos insumos básicos e de energia. De acordo com o portal UOL https://economia.uol.com.br/noticias/reuters/2023/07/25/confianca-empresarial-na-alemanha-cai-ainda-mais-em-julho-com-recuperacao-lenta.htm “A maior economia da Europa entrou em recessão técnica no início de 2023, definida por dois trimestres consecutivos de contração. Os dados preliminares do PIB para o segundo trimestre serão divulgados na sexta-feira. Gitzel previu apenas um ligeiro crescimento do PIB no segundo trimestre de 0,1%, seguido por uma queda no terceiro, à medida que a economia global enfraquece e as preocupações em relação a energia persistem”.
O que se vê claramente é uma crise profunda no epicentro do imperialismo com queda de credibilidade do dólar e crise bancária com quebra de bancos nos EUA, deflação na Europa e na economia mais rica do continente e perspectivas ainda mais negativas para o abastecimento de energia e produtividade no continente. Enquanto isso a Rússia cresce economicamente e mantém sob controle a administração na guerra da Ucrânia. Será que o plano de fragilizar a economia alemã servindo de escudo para o imperialismo de controle estadunidense será bem sucedido ou o aprofundamento da crise econômica do ocidente decadente, assim como uma derrota já anunciada na Ucrânia levará o imperialismo para a maior derrota desde a segunda guerra mundial?