Depois das medidas que permitiram a transformação dos clubes nacionais em empresas sob o pretexto de “profissionalização” do esporte, em oposição ao modelo tradicional de associação que garantia algum controle popular sobre os mesmos, surgem as sociedades anônimas de futebol (SAFs), que, supostamente, teriam maior transparência por serem fiscalizadas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Apesar das mudanças garantirem enormes vantagens aos capitalistas, para lucrar mais, exigem a derrubada de cláusulas trabalhistas e de deduções de dívidas sobre o valor de venda já bastante subestimado.
O desenvolvimento do futebol nacional se tornou possível pela participação das massas populares, os principais financiadores dessa cultura e de onde surgiram os artistas da bola. A sobrevivência da principal atividade cultural do país remonta décadas, diversas medidas foram estabelecidas para evitar a evasão dos grandes jogadores para os centros capitalistas. Além das mudanças que facilitaram a transferência dos nossos grandes craques, onde os clubes brasileiros são os maiores prejudicados, as próprias instituições estão sendo entregues para exploração de um mercado enorme.
Entre os grandes clubes do futebol brasileiro transformados em SAFs estão Cruzeiro, Vasco e Botafogo, que mal foram abocanhados e correm risco de “quebradeira” segundo seus novos donos. O norte-americano John Textor, acionista majoritário do clube Botafogo, teceu duras críticas sobre as leis impostas às SAFs depois da venda do jogador Jeffinho por 10 milhões de euros para Lyon da França. Isso porque 20% deste valor tem como destino dívidas trabalhistas e cíveis. Os porta-vozes destes tubarões, como Infomoney, vão para além-questão e defendem subtrair do valor de aquisição dos clubes suas “dívidas”.
Textor é proprietário também do Crystal Palace da Inglaterra, do RWD Molenbeek da Bélgica e do próprio Lyon, clube que comprou o atacante Jeffinho. Fica assim demonstrado que não se trata de uma transação ou negociação, mas de uma realocação de ativos do conglomerado de SAFs do empresário norte-americano, recursos financeiros do clube francês foi transferido para o Botafogo que, em contrapartida, enviou o jogador brasileiro. Deste fato é preciso tirar algumas conclusões: a fiscalização da CVM sobre transferências de jogadores entre SAFs de mesmo dono não importa, esse tipo de transação possibilita todo tipo de manipulação fiscal e financeira. Outro tipo de fraude que pode ocorrer, se trata do resultado dos jogos caso suas equipes se enfrentem em torneios internacionais.
Para o economista César Graffieti, se trata de um absurdo destinar parte do valor de venda dos jogadores das SAFs para cobrir dívidas trabalhistas enquanto as obrigações fiscais recaem sobre os clubes. Fica evidente que o importante para burguesia é lucrar, os empregados e jogadores dos clubes que esperem para obter o que os pertencem por direito. Isso demonstra ainda que os clubes podem ser explorados enquanto oferecem vantagens para os acionistas e depois podem ser abandonados completamente. O empregado da imprensa venal também defende que os clubes sejam entregues por valores ainda menores que os já bastante subestimados, as dívidas dos clubes deveria ser subtraída do valor de aquisição como se os capitalistas desconhecessem tais informações.
A criminosa entrega dos clubes nacionais, que resultará na destruição completa do nosso futebol, bem como, a campanha da imprensa golpista, precisam ser denunciadas. O futebol deve ser controlado pelas associações de torcedores e pela população. Estes contribuem com as equipes comparecendo aos estádios, acompanhando os clubes pelos veículos de comunicação e adquirindo produtos oficiais e, portanto, são também os responsáveis por todo financiamento público e pelo fornecimento do material humano que protagonizam os espetáculos em campo. É preciso revogar todas as privatizações imediatamente.