O debate sobre a taxa de juros no Brasil segue no centro da situação política nacional. E não é para menos.
O País hoje já tem a maior taxa de juros do planeta, estabelecida em 13,75% e confirmada nos dias 21 e 22 de março durante a última reunião do COPOM, apesar dos inúmeros apelos do governo Lula. A manutenção da taxa de juros tornou cristalino o que é o Banco Central “independente”: uma instituição verdadeiramente independente do povo e do governo que o povo elegeu. Campos Neto ignorou por completo não só as declarações de Lula e de sua equipe, mas também todo o programa econômico do governo, obedecendo unicamente os seus patrões, os grandes bancos.
A recente pesquisa realizada pelo instituto Datafolha também demonstrou o desprezo do conjunto da população pela política de Campos Neto. Nada menos que 80% dos entrevistados julgaram que Lula estaria correto em criticar a taxa de juros do Banco Central. Entre os que ganham até dois salários mínimos, o índice de concordância com o governo chega a 85%; entre os desempregados, 91%. Destaque-se ainda que os donos do Datafolha são defensores da política de Campos Neto – neste sentido, os números podem estar subestimados.
O Banco Central independente é uma ditadura escancarada de uma ínfima minoria, que não tem voto, sobre todo o povo brasileiro. A insensibilidade de seu presidente é tamanha que Campos Neto afirmou, em entrevista coletiva no dia 30 de março, que a taxa de juros “ideal” para combater a inflação seria de 26,5% ao ano – praticamente o dobro do índice pornográfico atual. A declaração é esclarecedora: no que depender dos bancos, se encontrarem condições para tal, a população pode morrer de fome e a economia pode ser completamente arruinada, desde que seus lucros sejam os maiores possíveis. Isso tudo em um país onde dezenas de milhões de pessoas dependem de programas assistenciais do governo para sobreviver e em que várias empresas indicaram, ao atrasar o balanço financeiro, que uma onda de falências pode estar por vir.
A suposta preocupação com a inflação não tem qualquer pé na realidade. Segundo levantamento recente, o Brasil foi o país onde a inflação registrou a maior queda em pontos percentuais entre nações do G20. Em fevereiro de 2022, a taxa anual de inflação no Brasil era uma das mais altas do grupo, de 10,5%. Passados 12 meses, a taxa em fevereiro de 2023 foi de 5,6%.
O abismo entre os interesses do povo e do governo que foi por ele eleito e o Banco Central tem como fundamento a correlação de forças extremamente desfavorável para Lula. O governo se encontra amarrado no Congresso Nacional, onde nem sequer conseguiu formar uma base. Neste exato momento, o presidente da Câmara dos Deputados e o presidente do Senado, ambos direitistas, brigam para definir quem terá o controle das Medidas Provisórias e, assim, tornar o governo refém de seus interesses. Na cúpula das Forças Armadas, Lula não tem nenhum apoio. Está em marcha um plano explícito de sabotagem ao governo. O objetivo é impedir que Lula leve adiante uma política reformista e nacionalista, conforme suas aspirações, fazendo com que perca o apoio das massas. É uma tentativa de forçar o governo a fazer exatamente o contrário pelo qual foi eleito.
Essa sabotagem deve ser energicamente combatida, sob o risco de a economia ficar completamente estagnada. É preciso, por isso, exigir a demissão imediata de Campos Neto, um bolsonarista imposto ao governo Lula para sabotar o País que, inclusive, atua à margem de sua função. Mesmo sendo a lei da independência do Banco Central sendo uma excrescência, que deveria ser revogada, pelos motivos que hoje são óbvios, o próprio presidente Lula já denunciou que Campos Neto, além de um sabotador, não cumpre o seu papel, uma vez que ignora os índices de crescimento da economia e os dados sobre o emprego. O Senado deve, sem delongas, destitui-lo de sua função.
Não basta, contudo, depositar as esperanças no Congresso, inimigo do povo e um dos principais pilares da sabotagem ao governo. Para que o governo seja capaz de levar adiante uma política econômica que coincida com as necessidades do povo, é preciso mobilizar a população e impor uma derrota ao conjunto da direita.