Na última edição de seu programa político-humorístico do canal HBO, Gregório Duvivier emprestou sua voz e imagem ao pleito da organização Mulheres Negras Decidem, autora da “lista tríplice” de candidatas à próxima vaga do STF, a ser aberta em outubro, com a aposentadoria compulsória da ministra Rosa Weber. O roteiro do programa faz o apoio a essa entidade chegar ao público embalado em piadas e críticas ao presidente Lula, ao Portal 247 e, especialmente, a Cristiano Zanin, recém-empossado no STF.
O argumento do humorista é que Lula teria uma chance agora de compensar o erro na escolha de Zanin, que, segundo ele, não passa de um advogado de gente rica, preocupado com os próprios interesses, que defendeu o cliente ilustre mediante régio pagamento. Os votos de Zanin estão sendo considerados mais direitistas que os dos ministros indicados por Bolsonaro, o que pode revelar que, pelo menos por ora, o novo ministro quer manter uma postura independente. Enquanto isso, Kássio e André Mendonça – visto que Bolsonaro perdeu a eleição – votam com Alexandre, Carmen, Rosa, Fux, Fachin, Gilmar, enfim, com o grupo majoritário na corte.
Esse grupo de 11 pessoas tem tomado uma série de decisões sobre temas polêmicos, que se transformam em jurisprudência e passam a ter valor de lei. Na prática, o STF substitui o Congresso, casa composta de membros eleitos pelo povo, à qual cabe legislar. Os cidadãos e movimentos sociais podem pressionar esses representantes, que, afinal, dependem do voto para exercer seu mandato. Muito diferente é dar a 11 pessoas indicadas para cargos quase vitalícios o poder de legislar.
A esquerda cirandeiro-identitária, bem representada por Duvivier, deixa-se levar apenas pelo teor do voto em questão, sem pôr em dúvida a função da própria corte. Se Zanin tem sido “garantista”, ou seja, seguido as leis do país, de alguma forma renuncia a esse poder de legislar – diga-se que seus polêmicos votos foram todos vencidos, mais tendo servido para ele marcar uma posição. O partido do STF, como se sabe, atende pelo nome de “terceira via” – nem Lula, nem Bolsonaro, muito pelo contrário.
Para Duvivier, Zanin seria o mais “antipovo” dos ministros do STF por ter votado contrariamente à descriminalização das drogas e à criação do crime de injúria contra transexuais por mera equiparação à lei de injúria racial. De resto, Rosa Weber, por exemplo, já negou liminar a um jovem acusado de furtar dois frascos de xampu – e assim caminha o STF nas questões corriqueiras que, curiosamente, chegam lá.
O roteirista de Duvivier poderia informar o público de que a organização Mulheres Negras Decidem é apoiada por outra organização, chamada Pulsante Cidadania Ativa, a qual, por sua vez, é “resultado da parceria entre Luminate, Open Society Foundations (OSF) e Fundación Avina, com sua experiência no trabalho sobre o empoderamento dos cidadãos e ampliação do espaço cívico na América Latina”. Segundo o site da Pulsante, “3 milhões de dólares foram investidos durante o período de 2020-2023 na região”.
Seria muito engraçado ouvir as piadas de Duvivier sobre os interesses dessas ONGs na política dos países da América Latina. George Soros parece bastante interessado em emplacar uma das três “mulheres negras” no STF. As juristas, todas negras de notório saber, militam numa ONG financiada pela Open Society Foundation. Não são egressas de movimentos sociais, como falsamente Duvivier quer fazer parecer aos seus incautos espectadores.
Resta saber se o próprio Duvivier recebe o seu quinhão dessas organizações “não governamentais”, que existem justamente para disputar o espaço do governo eleito. Não podemos afirmar, mas podemos suspeitar, se ainda não for proibido.