Em seu artigo delirante intitulado “Dino, uma epifania”, a articulista Tereza Cruvinel, do Brasil 247, apresenta a indicação de Flávio Dino ao Supremo Tribunal Federal (STF) – efetivada por maioria simples do Senado Federal – como uma grande vitória da esquerda brasileira. Assim a jornalista saúda a chegada de Dino à mais alta Corte do País:
“Mas há uma outra camada sobre a exultação de Lula: a chegada à Suprema Corte de uma figura com a dimensão e as qualidades de Dino é um feito sem precedentes, um sinal de que, apesar das brumas e nuvens sombrias, continuamos avançando para a luz. Uma epifania”.
Para Tereza Cruvinel, a chegada de Dino ao STF seria uma “ocorrência histórica”, uma vez que, segundo estariam reclamando os bolsonaristas nas redes sociais, seria a primeira vez que o Supremo teria, entre os seus ministros, um “comunista”.
Nada poderia ser mais bizarro do que atribuir a Dino tal caracterização. Dino, enquanto ministro da Justiça nos últimos meses, atuou como um verdadeiro policial. Endossou todas as medidas antidemocráticas de Alexandre de Moraes e do conjunto do STF contra os manifestantes do 8 de janeiro e se apresentou como um ferrenho defensor do Projeto de Lei 2630, o PL das “Fake News”, uma espécie de AI-5 digital. Dino também foi o responsável pelo pacote bolsonarista para a “segurança pública”, que entre outras coisas, prevê pena de 40 anos de prisão – algo que se baseia no precedente estabelecido por Sergio Moro, ministro da Justiça do governo de Jair Bolsonaro (PL).
E não foi só durante o governo Lula que Flávio Dino aprontou. Quando era governador do Maranhão, o “comunista” apoiou a entrega da Base de Alcântara para os Estados Unidos! Como chamar tal figura de comunista?
E tudo fica ainda mais grotesco: Dino foi eleito em 2014 com o apoio do PSDB. E não qualquer apoio: o vice de Dino era do partido tucano e – pasmem – o hoje mais novo ministro do STF apoiou, na época, a candidatura de Aécio Neves à presidência da República! Tudo isso no momento em que a direita já organizava o golpe de Estado contra Dilma Rousseff.
Não apenas a prática ultra oportunista de Flávio Dino mostra a total loucura que seria chamá-lo de “comunista”, como também o que Dino já falou do próprio comunismo! No final das contas, a única coisa que consta em seu histórico que pesaria a seu favor é que ele já foi filiado no Partido Comunista do Brasil (PCdoB) – um partido que hoje já se tornou tão “pragmático” que recentemente lançou um sósia de Jair Bolsonaro – Bolsonaldo – como candidato. Mesmo esse partido fazendo todo tipo de concessão para atrair parlamentares e governadores era esquerdista demais para Flávio Dino!
Antes de abandonar o partido, Dino era a sua principal figura pública – afinal, era o único governador da legenda. Utilizando o seu prestígio, Dino se tornou o porta-voz do “Movimento 65”, um movimento que procurava mudar as cores e o próprio nome do partido para que ficasse ainda mais palatável para elementos direitistas. Se fosse bem sucedido, o Movimento poderia levar a uma mudança oficial dos símbolos da legenda. Dino acabou saindo antes que isso acontecesse.
Entre as coisas que o “comunista” Dino defendia, estava: a substituição do vermelho pelo verde e amarelo e a substituição da foice e martelo por algo “mais moderno”, como “um chip”. “Foice e martelo”, disse ele, seria algo “do século 19”.