O governo Lula conforme vai sendo cercado pela direita, que controla quase todas as instituições, também vai se radicalizando. As declarações de Lula na última semana foram muito marcantes: atacando o Banco Central controlado pelo banqueiro bolsonarista, falando em nacionalizar a Eletrobrás e a CEITEC, além de recusar novamente o envio de armas para a Ucrânia. Por fim, encerrou a semana indicando a ex-presidenta Dilma para o Banco dos BRICS. Está claro que a tendência do governo é a radicalização, o que também é a realidade nas bases que se mostram dispostas a mobilização, considerando que ainda estamos no mês de fevereiro. As indicações dos principais petistas são também uma expressão dessa radicalização de Lula.
Aqui é preciso ficar claro que a burguesia faz uma pressão gigantesca em cima do governo Lula para que ele seja fraco. O Congresso e o Judiciário já não dão apoio nenhum ao governo, pelo contrário, somado a isso há os militares, que estão claramente em uma campanha golpista e a imprensa burguesa — possivelmente a maior inimiga da Lula. O governo Biden também não pode ser subestimado. Foi Biden quem derrubou Dilma e iniciou a onda golpista em toda a América Latina. Logo após a eleição de Lula, os EUA organizaram um golpe de Estado no Peru que está transformando o país em uma verdadeira ditadura. Lula possui apenas o governo federal, mas nem isso ele controla totalmente.
Uma grande parte dos ministérios foi cedido à direita em nome de acordos, mas muitos nomes não foram indicados também pela pressão gigantesca que a direita exerce sobre Lula. Dois nomes mais chamativos são Dilma e Guido Mantega. O caso Dilma foi evidente, quando a base do PT começou a levantar uma campanha em defesa de Lula presidente e Dilma vice, a imprensa imediatamente lançou uma campanha fortíssima contra a ex-presidenta e ainda fizeram questão de resolver o problema do vice já lançando o acordo com Alckmin. O caso Guido Mantega foi ainda mais gritante, o ex-ministro de Lula foi tratado como o anti cristo da economia, a pressão foi tão colossal que ele abdicou da equipe de transição.
Essas figuras do PT extremamente perseguidas como Dilma, Mantega, Zé Dirceu, Genoíno, Pizzolato, Delúbio — só para citar os mais famosos — são um grande medo para a burguesia. São figuras de confiança de Lula que poderiam todos assumir ministérios importantes e altos cargos como presidência da Petrobrás e da Eletrobrás. Seria uma tendência natural os principais dirigentes do PT serem os mais importantes membros do governo Lula. É por isso que a campanha da imprensa burguesa é tão violenta contra essas figuras. A perseguição é tão monstruosa que imaginar um governo Lula com esses petistas quase parece algo revolucionário.
Façamos um exercício de imaginação: Lula presidente, Dilma, vice-presidenta e ministra da Defesa. Zé Dirceu ministro da Justiça, Genoíno presidente da Petrobras, Guido Mantega ministro da Economia, Pizzolato presidente do BNDES, Delúbio ministro da Agricultura. Escrevendo a lista parece até absurdo, mas seria o natural em um governo Lula os cargos mais importantes todos serem de pessoas de sua confiança. Isso é um enorme exemplo de como a burguesia sabota o governo Lula. Mostra também de onde vem o aparente direitismo de Lula que em grande parte é pressão da direita. O Lula atual está à esquerda de quase a totalidade da esquerda nacional. Esses que o criticam caso fossem presidentes acham que seriam Lenin, mas, na verdade, seriam Gabriel Boric.
O crucial aqui não é indicar os ministros de Lula. Administrar o governo é o papel do próprio Lula. O mais importante é fomentar a mobilização popular que irá permitir com que o governo Lula se torne progressivamente um governo dos trabalhadores.