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Primeiro dia

Cúpula dos BRICS: ataque ao dólar e ao “neocolonialismo verde”

Confira os destaques do primeiro dia da 15ª Cúpula dos BRICS, em Joanesburgo, África do Sul

Nessa terça-feira (22), teve início a 15ª Cúpula dos BRICS. O evento ocorre em Joanesburgo, na África do Sul, e vai até o dia 24 deste mês. Durante os três dias de encontro, os presidentes dos países que integram o bloco devem discutir, principalmente, os critérios para a adesão de novos membros, já que 22 pedidos formais de outras nações já foram feitos. Mais de 60 países foram convidados, além de mais de 20 autoridades como o presidente da União Africana, Moussa Faki Mahamt.

Lula denuncia o chamado “neocolonialismo verde”

Lula, durante o seu primeiro discurso para o evento, defendeu uma reaproximação do Brasil com países africanos. O Brasil “nunca deveria ter se afastado”, afirmou. Ele denunciou como o fluxo comercial entre o Brasil e a África corresponde a apenas 3,5% do comércio exterior brasileiro.

“É inaceitável que, em 2022, o comércio do Brasil com a África tenha diminuído em um terço com relação a 2013, quando era de quase 30 bilhões de dólares […]. Em meus dois primeiros mandatos, o continente africano foi uma prioridade. Fiz 12 viagens à Africa e estive em 21 países. O Brasil está de volta ao continente de que nunca deveria ter se afastado. A África reúne vastas oportunidades e um enorme potencial de crescimento”, disse Lula.

Além disso, o presidente voltou a criticar o que ele chama de “neocolonialismo verde”, referindo-se à imposição dos países imperialistas sobre as economias dos países atrasados com a justificativa de preservação, algo que atrapalha o desenvolvimento dos mais pobres. “Não podemos aceitar um neocolonialismo verde que impõe barreiras comerciais e medidas discriminatórias, sob o pretexto de proteger o meio ambiente”, afirmou.

Nesse sentido, Lula defendeu mais uma vez que os países ricos paguem os países pobres por serviços ambientais, ressaltando que o Brasil e os países africanos compartilham a responsabilidade de “cuidar de florestas tropicais e preservar a biodiversidade”.

O chefe do Executivo brasileiro também ressaltou a importância dos BRICS para o mundo. “O BRICS tem uma chance única de moldar a trajetória do desenvolvimento global […] Nossos países, reunidos, representam um terço da economia mundial”, afirmou o chefe do Executivo brasileiro.

Ao longo de seu discurso, Lula defendeu que o Brasil se integre cada vez mais com os países africanos no âmbito comercial, afirmando que é necessário “ampliar as conexões marítimas e aéreas entre os dois lados do Atlântico”.

Ele ainda defendeu, ao final de seu discurso, o ingresso de novos países no bloco, hoje composto pelo Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. “Essa relevância vai crescer com a entrada de novos membros plenos e parceiros de diálogo”, disse, fazendo referência à importância dos países dos BRICS para a economia mundial.

Mesmo de longe, Putin reforça a participação da Rússia no bloco

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, também discursou na 15ª Cúpula. O mandatário russo, todavia, teve de participar de maneira virtual por conta da perseguição que sofre do imperialismo por meio do Tribunal Penal Internacional (TPI).

No início de seu discurso, Putin reforçou que o desenvolvimento dos países dos BRICS precisar ser levado adiante apesar da crise pela qual passa o imperialismo neste momento.

“Todas estas tarefas difíceis e complexas têm de ser resolvidas em um contexto de volatilidade cada vez maior nos mercados de ações, de capitais, energéticos e alimentares, sob uma pressão inflacionária significativa, causada, entre outras coisas, por ações irresponsáveis de uma série de países que levaram a cabo emissões [de moeda] em larga escala para suavizar os custos da pandemia, que resulta na acumulação de dívida privada e pública”, ponderou Putin.

Ele também relembrou que, com o avanço das provocações do imperialismo no caso da guerra na Ucrânia, o fornecimento de grãos para o mercado internacional foi severamente afetado. Nesse sentido, Putin destacou que, apesar da Rússia ter sido obrigada a se retirar da Iniciativa de Grãos do Mar Negro porque a Ucrânia não cumpriu suas promessas, a Rússia desejava garantir o fornecimento de grãos para os países africanos gratuitamente. Ademais, ele denunciou que os grãos ucranianos não estavam abastecendo os países mais vulneráveis, mas sim, a União Europeia (UE).

“Tenho dito repetidamente que o nosso país é capaz de substituir os cereais ucranianos, tanto em uma base comercial como sob a forma de assistência gratuita aos países necessitados, especialmente porque esperamos novamente uma excelente colheita este ano. Como primeiro passo, decidimos enviar gratuitamente entre 25.000 e 50.000 toneladas de cereais para seis países africanos, incluindo a entrega gratuita destes produtos. As negociações com os parceiros estão chegando ao fim”, garantiu.

Lula e Dilma atacam a ditadura do dólar

Antes mesmo do começo da Cúpula, Lula, em seu programa semanal Conversa com o Presidente, afirmou que o Banco dos BRICS pode ser “muito maior do que o FMI [Fundo Monetário Internacional]” ao emprestar dinheiro para os países “sem que o pagamento atrofie as finanças” do devedor.

Ele também defendeu a criação de “uma moeda de comércio exterior” própria dos integrantes do bloco, que deve ser expandido durante a Cúpula. “Sem desvalorizar a moeda da gente, elas continuam existindo, mas a gente cria uma moeda de comércio exterior”. Nesse sentido, ele voltou a atacar a ditadura do dólar, que torna os países reféns dos Estados Unidos:

“A gente não pode depender de um único país que tem o dólar, que bota a maquininha para rodar o dólar, e nós somos obrigados a ficar vivendo da flutuação dessa moeda. Não é correto […] Antigamente era o ouro. Ninguém discutiu que o ouro ia deixar de ser moeda referência. Simplesmente, tiraram.”

Indo na mesma linha, Dilma, em entrevista ao programa Leaders’ Talk, da emissora chinesa CGTN, afirmou que a dominância do dólar no comércio internacional é um “privilégio absurdo” dos Estados Unidos.

“Nosso grande problema é que as moedas do Sul Global não são conversíveis. O que acontece quando estabelecemos uma relação entre os países da nossa região? Temos de ter dólares. O dólar passa a ser uma referência obrigatória em qualquer relação que tenhamos, seja comercial, financeira, compra de serviços. Num país é necessário acesso a essa moeda, por isso que há reservas”, afirmou.

Qual o papel dos BRICS na luta contra o imperialismo

Objetivamente, os BRICS se organizam contra a dominação econômica e política do imperialismo. Mas dizer isso não quer dizer muita coisa. O problema é primeiro saber até onde isso pode ir e desfazer uma confusão de certo tipo de análise de que se pode reformar a ordem política mundial. Isto é, que ela é reformável.

Se você juntar a China, a Rússia e outros países importantes, você vai conseguir modificar a situação pela via pacífica? É a ilusão da reforma do capitalismo nacional transplantado para um cenário internacional. Isso não é vigente porque é absolutamente claro que só uma revolução vai mudar essa situação. Ninguém vai ceder o poder porque outros se organizaram.

Apesar disso, é preciso apoiar todas as medidas progressistas provenientes do bloco, destacando a limitação dessas medidas. Seria um equívoco apontar essa movimentação toda como tendo resolvido o problema da dominação imperialista sobre o mundo. Isso é simplesmente alimentar ilusões.

Na medida em que aumenta as contradições do imperialismo, ele serve à revolução. Não se pode ter a ilusão de que um bloco vai resolver o problema do mundo, de que a dominação global estaria sendo dividida entre dois grupos. Finalmente, o imperialismo oprime todos os países atrasados, algo que, fundamentalmente, não muda com os BRICS. Caso contrário, precisaríamos admitir a concepção equivocada de que a Rússia seria igual aos Estados Unidos, por exemplo. O que é uma grande farsa que ignora o caráter concreto das relações entre os países.

As novas adesões aos BRICS

Outro debate importante que surge durante a 15ª Cúpula dos BRICS são os pedidos de admissão. Segundo reportagem do 247, o Banco dos BRICS considera pedidos de admissão de 15 países e pode aceitar 5. Dilma, presidente do Novo Bando de Desenvolvimento (NBD), disse que a ideia é diversificar a representação geográfica. Como analisar isso do ponto de vista econômico?

Primeiramente, é logico pensar que novos países entrarão no bloco porque todos possuem interesse em se fortalecer enquanto bloco econômico. Quanto maior o bloco, melhor. Mas não é uma coisa muito simples.

Há países que estão participando que tem um controle grande do imperialismo sobre eles. Alguns países, por exemplo, são Egito e Nigéria. Ao mesmo tempo, temos o Irã. Ou seja, é uma situação contraditória que mostra que o que está acontecendo não é uma coisa simples e direta.

No fim, o intuito desses países é abrir novas perspectivas econômicas. Agora, é preciso esperar para ver quais serão as resoluções que sairão da Cúpula.

Os BRICS e a burguesia no Brasil

Importante destacar que a burguesia brasileira permite o desenvolvimento dos BRICS porque, para ela, é lucrativo. Porém, e se o imperialismo bater o pé, se o imperialismo se voltar contra o governo Lula, o que acontecerá? Um setor importante da burguesia vai acompanhar isso, não há dúvida.

Ao mesmo tempo, há setores que têm uma relação econômica privilegiada com países do bloco, como a China. O chamado agronegócio, o latifúndio de produção agrícola, tem uma relação muito grande com a China. Eles vão esperar que o governo brasileiro atue no interior dos BRICS para defender os seus interesses econômicos. Seu apoio é nesse sentido.

Mesmo assim, é preciso entender que esse apoio é condicionado aos problemas políticos. Se o imperialismo começar a jogar pesado, isso não se sustenta do ponto de vista da burguesia.

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