No dia 1º de maio, enquanto trabalhadores em todo o mundo saíam ás ruas para reivindicar melhorias nas condições de vida, em uma data tradicional de luta da classe operária, o governador de São Paulo, Tarcisio de Freitas (Republicanos), se fez presente no Agrishow, a maior feira do “agronegócio” da América Latina, em São Paulo. O evento, que é uma espécie de festival promovido pelos grandes latifundiários, tornou-se, neste momento de grande polarização política, em uma verdadeira manifestação dos setores mais reacionários da direita nacional, ao ponto de forçarem a exclusão do governo Lula do evento e garantirem a participação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
No seu discurso, Tarcisio de Freitas atacou ferozmente os trabalhadores do campo, diretamente envolvidos na luta pela terra, declarando que “aqueles que invadirem terra no Estado de São Paulo terão um destino só: a cadeia”. Tarcisio ainda disse que “não vamos tolerar a bagunça, a baderna, a usurpação do direito de propriedade no Estado de São Paulo. O Estado de São Paulo vai dar o exemplo”.
Seu discurso já seria, por si só, assustador. O governador de São Paulo, maior autoridade do Estado mais rico e mais populoso do País, está dizendo que aqueles que lutarem para ter um pedaço de terra onde morar e trabalhar serão colocados na cadeia. É uma declaração hedionda, típica de um verdadeiro fascista. Os tais “invasores” de terra são, ao contrário do que diz Tarcisio, pessoas miseráveis, esmagadas pelos latifundiários, que, quando ocupam algum pedaço de terra, é porque os fazendeiros e grileiros já as tomaram todas.
Trata-se de uma defesa escancarada, portanto, daquilo que há de mais criminoso no campo: o assassinato e a perseguição implacável dos latifundiários aos sem terra e aos indígenas, que representam um obstáculo à sua política de especulação com a terra.
A fala de Taricisio é ainda mais preocupante quando levado em consideração que, neste exato momento, há uma ofensiva dos latifundiários contra os movimentos de luta pela terra. O maior movimento social da América Latina, o Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), está sofrendo uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que poderá levar à prisão de lideranças e ao desmantelamento de seu aparato. Um de seus principais líderes, João Pedro Stédile, está sob ameaça de ser preso simplesmente por defender que os sem terra ocupem as terras improdutivas para protestar em favor da reforma agrária. Outras lideranças, como José Rainha, fundador da Frente Nacional de Lutas (FNL), e Magno Souza, do movimento indígena em Dourados (MS), foram presas recentemente.
Está em marcha uma ofensiva que busca esmagar a luta dos trabalhadores no campo para impor uma política ainda mais criminosa contra esses trabalhadores. A direita já identificou que o MST tem uma forte influência no governo Lula e quer colocar o movimento na defensiva, para garantir que os interesses do latifúndio prevaleçam. Tarcisio, neste sentido, está tomando parte desta ofensiva.
As declarações fascistoides de Tarcisio, além de merecer o total repúdio da sociedade, devem ainda servir de grande alerta para a esquerda. O governador foi convidado para estar, no mesmíssimo dia em que atacou o MST, no ato de primeiro de maio de São Paulo, onde esteve presente o presidente Lula. Nas últimas semanas, também surgiu, na imprensa, o boato de que o seu partido, o Republicanos, estaria se aproximando da base governista. Não é possível corroborar com tais ilusões. Tarcisio é inimigo dos trabalhadores do campo e da cidade e deve ser energicamente combatido.