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Bósnia e Herzegovina

Como ONGs mantêm países oprimidos no atraso

Reportagem do Mintpress mostra com as ONGs penetraram todos os aspectos da vida social de país europeu

Em recente matéria, o órgão de imprensa independente The Mintpress expõe como o imperialismo exerce seu controle sobre países oprimidos através das organizações não governamentais (ONGs).

A publicação tomou como exemplo o caso da Bósnia e Herzegovina, um dos vários países situados na região dos Balcãs, região do sudeste da Europa que foi, durante toda sua história, local de inúmeros conflitos.

O país foi resultado da destruição da Iugoslávia pelo imperialismo. Enquanto o Estado Operário ainda existia, a Bósnia e Herzegovina era uma república dentro da federação que era a Iugoslávia, a qual, por sua vez, era constituída de seis república regionais e duas províncias autônomas. A principal questão democrática que ainda não havia sido solucionada no país era a questão das nacionalidades. Em uma região de histórico conflito entre etnias, a divisão territorial iugoslava acabava correspondendo, em grande parte, à configuração étnica do país.

Na década de 1990, o imperialismo, em especial os Estados Unidos, utilizou-se do problema nacional, e fomentou conflitos entre as diversas nacionalidades iugoslavas, nomeadamente, bósnios, muçulmanos, sérvios bósnios, bósnios croatas e albaneses, a ponto de resultar em uma fragmentação do país, e no fim do Estado Operário.

A isto se seguiu uma guerra que levou à morte de centenas de milhares de iugoslavos, guerra que contou com a intervenção aberta do imperialismo norte-americano, em especial através da OTAN, e que foi notória pelos intensos bombardeios a Belgrado.

Ao fim, o imperialismo conseguiu destruir a Iugoslávia, e dela surgiram vários países minúsculos, ou seja, mais fáceis de serem subjugados. A Bósnia e Herzegovina é um destes.

A matéria do Mintpress expõe a atuação do imperialismo em duas frentes, quais sejam, o controle sobre a burocracia estatal e  a penetração das ONGs em todos os aspectos da chamada “sociedade civil” da Bósnia e Herzegovina, as quais atuam em áreas que vão desde as necessidade mais básicas da população até a própria política estatal.

Conforme noticiado pelo órgão de imprensa imperialista Radio Free Europe/Radio LIberty, citando informações fornecidas pelo registro eletrônico de associações e fundações (órgão estatal da Bósnia e Herzegovina), existem aproximadamente 25.600 ONGs no país, sendo que mais de 7.500 estão registradas apenas na República Srpska.

A República Srpska (também conhecida como República Sérvia) é uma das duas entidades políticas dentro da Bósnia e Herzegovina, de maioria sérvia, como o próprio nome diz. Surgiu como consequência dos conflitos nacionais estimulados pelo imperialismo para a dissolução da Iugoslávia, conflitos estes que jamais foram contidos. A outra entidade política adota também o nome de Bósnia e Herzegovina.

Após a guerra que resultou na dissolução da Iugoslávia, como método de atuação típico, o imperialismo destruiu para depois “reconstruir”. Uma “reconstrução” aos moldes do imperialismo, ou seja, voltadas apenas para atender aos interesses dos monopólios capitalistas norte-americanos e europeus. E, nessa “reconstrução” dos países que resultaram da fragmentação da Iugoslávia (Bosnia e Hezergovina dentre eles), o imperialismo colocou as ONGs para realizar o serviço. Ou melhor, para realizar apenas parte da “reconstrução”, na medida estritamente necessária para penetrar em todos os aspectos da vida social do país, e permitir ao imperialismo o controle político.

Nesse sentido, é esclarecedor as informações repassadas pelo Mintpress, sobre o escopo da atuação das ONGs na Bósnia e Herzegovina:

“’Soldados da paz’ da OTAN patrulham as ruas de Sarajevo até hoje. Os seus homólogos do ‘soft power’ são um enorme número de ONG ocidentais. […] bilhões de dólares americanos [foram destinados] para a reconstrução, especificamente para serem entregues por organizações sem fins lucrativos estrangeiras. Em poucos meses, centenas de pessoas estabeleceram-se localmente, e o dilúvio só se intensificou depois disso. Hoje, existem aproximadamente 25.600 na Bósnia, sendo a Republika Srpska o lar de mais de 7.500. Não se sabe quantos são financiados pelo exterior, mas é provável que quase todos sejam

As ONG estrangeiras estão ativas em todas as esferas concebíveis da vida pública, política e mesmo quotidiana da Bósnia. “Eles reconstroem casas e constroem novas. Eles prestam aconselhamento a sobreviventes de estupro e veteranos traumatizados. Eles supervisionam currículos escolares e programas vocacionais. Distribuem alimentos, medicamentos e ajuda financeira a idosos e grupos marginalizados. Eles administram iniciativas comunitárias de construção de pontes e acampamentos de verão para jovens. Eles promovem a tolerância religiosa e os direitos humanos. Eles fazem tudo o que o Estado Iugoslavo fez e o atual governo bósnio não pode”.

Em outras palavras, o imperialismo destina bilhões de dólares para que as ONGs atuem cooptando parte do povo, para assim manter o controle político sobre o país.

Contudo, o interesse do imperialismo não é promover o bem-estar da população da Bósnia e Herzegovina. Assim, a dissolução da Iugoslávia teve, dentre os motivos econômicos, o objetivo de implantar a política neoliberal na região dos Balcãs, com as ONGs servindo apenas como um mecanismo de controle econômico e político. Nesse sentido, a matéria do Mintpress cita estudo realizado em 2011 por, curiosamente, uma ONG imperialista chamada pelo Institute for War and Peace Reporting (IWPR), segundo o qual:

“[…] apesar da existência de um grande número de ONG criadas especificamente para ajudar aqueles que sofreram na guerra da Bósnia…[elas] muitas vezes não conseguem entregar resultados significativos a longo prazo, assistência de longo prazo àqueles que dela necessitam.”

Para além disto, a situação de miséria no país, que resultou a destruição neoliberal provocada pelo imperialismo (esta, um dos objetivos da dissolução da Iugoslávia), serve para aumentar ainda mais a malversação de recursos destinados às ONGs que, idealmente, seriam voltados à assistência social. De forma que aumentam os casos corrupção, envolvendo funcionários das próprias ONGs, burocratas do Estado, familiares e agentes do imperialismo. Afinal, são bilhões de dólares destinados.

Tudo isto é potencializado pela falta de controle e transparência e controle com a qual as ONGs atuam na Bósnia e Herzegovina, já que não prestam contas das origens de seus recursos (imperialismo) e de seus reais objetivos (manter o país sobre o controle do imperialismo).

Assim, nesse ano de 2023, foi aprovada na República da Sérvia uma lei obrigando as ONGs que atuam lá a divulgar de onde vêm seus recursos financeiros, e a se registrarem como agentes estrangeiros. O imperialismo, norte-americano e europeu, se opôs, rotulando a lei como “antidemocrática”, como autoritarismo, comparando a República Sérvia com a Rússia (também considera um regime autoritário pelo império, por ter banido as ONGs). Mas não há nada mais democrático que requerer transparência total dessas organizações, para saber se elas estão atuando realmente em função dos interesses declarados, ou de interesses escusos, do imperialismo e contra o povo da Bósnia e Herzegovina.

A oposição do imperialismo impulsionou Milorad Dodik (o presidente) a encerrar a cooperação com as embaixadas dos Estados Unidos e do Reino Unido, ameaçando, inclusive, separar-se da Bósnia e Herzegovina. Uma forma de se proteger de um golpe de Estado, que sempre tem a atuação direta das embaixadas imperialistas.

A respeito dessa lei, deve-se lembrar do caso recente da Geórgia, ocorrido no primeiro semestre de 2023, em que o governo tentou aprovar uma legislação no mesmo sentido, declarando as ONGs como agentes estrangeiros e obrigando-as a prestar contas. Imediatamente o imperialismo, através das ONGs, colocou dezenas de milhares de pessoas nas ruas, o que só foi possível dada a penetração dessas organizações na vida social georgiana, de forma semelhante ao que ocorre na Bósnia e Herzegovina. O governo teve de recuar, senão seria derrubado por outra “Revolução” das Rosas (referência à revolução colorida que ocorreu em 2003).

Como estamos tratando de ONG, não se pode deixar de falar de George Soros e sua Open Society Foundations. Quando o governo georgiano tentou a provar a lei para controlar as ONGs, o bilionário soltou a seguinte declaração:

“Este projeto de lei visa deixar indefesas as crianças e mulheres vítimas de abuso; pessoas com deficiência, minorias, cientistas, trabalhadores e jovens; não prestar assistência a famílias socialmente vulneráveis, agricultores, mineiros, deslocados internos, sem abrigo, despedidos ilegalmente, detidos e outras pessoas que lutam pelos seus direitos; silenciar a voz das pessoas que vivem nas periferias do país, que só podem comunicar os seus problemas através dos meios de comunicação independentes”.

Por detrás da demagogia, está o interesse do imperialismo em utilizar as ONGs para controlar politicamente a Geórgia.

O mesmo vale para a Bósnia e Herzegovina. E também para o Brasil, onde existe dezenas de milhares dessas organizações, mostrando que o imperialismo já posiciona suas peças para exercer um maior domínio sobre o País.

 

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