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Carla Dórea Bartz

Jornalista, com 30 anos de experiência (boa parte deles em comunicação corporativa). Graduada em Letras e doutora pela USP. Filiou-se ao PCO em 2022.

Literatura e política

Chico Buarque e a rara fineza da sujeira

O prêmio concedido a Chico Buarque consagra a literatura que retrata de maneira consciente a conjuntura nacional

O discurso de Chico Buarque na entrega do Prêmio Camôes, em Sintra, Portugal, na última segunda-feira, merece nosso registro e celebração. Chico é nosso maior escritor vivo e seu discurso é histórico.

Reconhecer esse fato nos ajuda a perceber o alcance de seus livros e de sua música. “Gosto de ser reconhecido como um compositor popular”, disse ele. Com essa frase, ele explicou a função da sua arte e mostrou sua consciência política aguçada.

Chico viveu dois momentos funestos da história brasileira. Na ditadura militar, fez (e faz) gerações de brasileiros cantarem suavemente “apesar de você amanhã há de ser outro dia…”.

Agora, como todos nós, viveu o golpe contra a Dilma e a batalha contra as forças de extrema-direita.

Ter a oportunidade de acompanhar sua obra ao longo de décadas, de ler seus livros quando mal chegam nas livrarias ou assistir a um de seus shows é viver nossa contemporaneidade. É ser uma testemunha.

A dura realidade do capitalismo brasileiro e da barbárie da burguesia nacional produzem, de maneira contraditória, contrapontos que respondem à altura. Chico Buarque é com certeza uma dessas vozes.

A frase de gênio no discurso aposta na contradição e se torna uma arma linguística: “O ex-presidente teve a rara fineza de não sujar meu prêmio Camões, deixando o espaço em branco para o nosso presidente Lula assinar”

A crítica irônica não é só à figura histórica do ex-presidente, mas aos valores imorais da burguesia que o elegeu. A chave está na palavra “fineza”, tão cultuada pelos que têm muito dinheiro, mas que carecem totalmente de cultura.

É a palavra típica onde se refugiam os lesa-pátrias, que parecem se reproduzir como baratas no esgoto da política nacional.

Ao ler os romances de Chico, como Leite Derramado, fica difícil não reconhecer Machado de Assis na forma como usa, por exemplo, seus narradores. Machado de Assis, em seu tempo, foi o grande retratista da hipocrisia da classe dominante escravocrata do Brasil império.

“É dessa terra e desse estrume que nasceu essa flor”, diz o irônico narrador Brás Cubas no início do famoso romance, ao descrever o entorno social que o criou.

Coube a Chico Buarque fazer esse trabalho no nosso momento histórico.

Interessante notar, no entanto, que Chico Buarque de Holanda ainda não tem uma cadeira na Academia Brasileira de Letras, que foi fundada justamente por Machado de Assis.

Localizada no Rio de Janeiro, a ABL se tornou a rara fineza da sujeira associada à TV Globo. Entre os seus membros estão jornalistas de direita, porta-vozes dos interesses da família Marinho.

Daí a importância e a sorte que temos de ter, na nossa literatura em língua portuguesa contemporânea, um autor como Chico Buarque.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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