Passadas 16 rodadas do Campeonato Brasileiro, o Botafogo é líder isolado da competição, com 11 pontos à frente do vice-colocado, o Grêmio. Até o momento, o clube alvinegro faz a melhor campanha da história do campeonato em formato de pontos corridos (ou seja, desde 2003).
São 16 jogos, 13 vitórias, um empate e duas derrotas, somando 40 pontos. Ademais, o clube marcou 28 gols (o melhor ataque ao lado de Flamengo e Palmeiras) e sofreu apenas nove, ficando com um saldo de gols de 19.
Para a maioria dos comentaristas, a campanha histórica do Glorioso seria a comprovação do sucesso do modelo das Sociedades Anônimas de Futebol (SAFs). A privatização dos clubes seria a chave do sucesso para os clubes do futebol brasileiro — e mundial, visto que boa parte dos clubes europeus já funciona desta forma.
No entanto, os que usam o Botafogo para defender a privatização do futebol brasileiro se esquece que, no mesmo campeonato, há um exemplo da SAF que vai no caminho totalmente oposto: o Vasco.
O Cruzmaltino, um dos maiores clubes do futebol nacional, está sendo criminosamente gerido pela 777 Partners, empresa norte-americana de investimentos privados sediada em Miami (EUA). Com 15 jogos, duas vitórias, três empates e dez derrotas, o Vasco soma apenas nove pontos no campeonato. O clube carioca sofreu 25 gols e marcou apenas 11, ficando com um saldo de -14.
Assim, o Vasco tem a pior campanha entre todos os times das séries A, B e C do Brasileirão.
Em meio à turbulência, o Vasco demitiu, há mais de um mês, o técnico Maurício Barbieri e contratou apenas recentemente o argentino Ramón Díaz, ficando um longo período sem sequer ter um treinador. Na terça-feira (25), a empresa demitiu Luiz Mello do posto de CEO. Mello, aliás, era CEO do Vasco apesar de ser sócio do principal rival do clube: o Flamengo. O caso revela o total descaso da SAF vascaína com o próprio clube. Os empresários, naturalmente, apenas se importam com lucros e não propriamente com o futebol. Por isso, para a 777 Partners, não fez diferença colocar um flamenguista para gerir o clube.
O Vasco demonstra, na prática, que o avanço da privatização dos clubes brasileiro representa uma política de terra arrasada. O futebol nacional vira terra de ninguém, com clubes controlados por parasitas que pouco se importam com títulos, glórias, etc.
Se é verdade que, por enquanto, a SAF do Botafogo está se saindo bem. Até o momento, o caso é uma exceção.
O Bahia, por exemplo, que foi comprado pelo Grupo City, é outra SAF que se encontra na zona de rebaixamento. Na 17ª posição, o clube nordestino venceu apenas três dos 16 jogos que disputou. Para completar a zona, outras duas SAFs: o Coritiba (cuja privatização foi recentemente aprovada), na 18ª posição, e o América Mineiro, na 19ª. Ou seja, 100% dos clubes que seriam rebaixados caso o Brasileirão fosse encerrado hoje foram privatizados. O fato do campeão também ser um SAF, seria apenas uma cortina de fumaça utilizada pelos defensores da privatização do futebol brasileiro.
Por exemplo, levando em consideração as quatro vagas para a Copa Libertadores, apenas o Botafogo de SAF. O clube seria acompanhado por Grêmio, Flamengo e Palmeiras. Adicionando as duas vagas da pré-Libertadores, chegariam o Athletico (privatizado) e o São Paulo (que mantém o clube social). Ou seja, dos seis brasileiros na principal competição continental, a maioria não seguiria o modelo da privatização.
É natural, no entanto, que, aumentando o número de clubes privatizados, aumente a possibilidade deles serem campeões ou fazerem boas campanhas. É um problema matemático, de probabilidade.
No entanto, o Campeonato Brasileiro atualmente serve para mostrar o fracasso das SAFs. Vasco e Bahia acabaram de voltar à Série A — o primeiro após amargurar vergonhosamente dois anos seguidos na segunda divisão — e já retornariam à Série B, por exemplo.
O fato é que as SAFs não salvação de coisa nenhuma. De fato, podem trazer investimentos para os clubes, mas do ponto de vista geral a consolidação do modelo da privatização significa apenas colocar os clubes, patrimônios do povo brasileiro, sob controle de tubarões capitalistas que muito bem podem sugar os recursos dos clubes. Podem, por exemplo, destruir essas associações construídas há décadas (algumas com mais de um século de existência) como resultado de um profundo esforço do povo brasileiro — como ocorreu com o Bragantino, que perdeu suas cores e seu escudo para se tornar mais uma organização do grupo Redbull.
Ademais, as SAFs não chegam ao Brasil para reverter o esquema montado pelo imperialismo, que rouba nossos jogadores, principalmente os jovens, a preços baratos. Ao contrário, de certa forma, a SAF reforça isso, visto que essas transações serão a principal fonte de lucro das empresas: objetivo primordial delas terem comprado os clubes.
Dessa forma, a única verdadeira salvação para o futebol nacional é devolver os clubes para seu verdadeiro dono: o povo brasileiro — particularmente os torcedores organizados, principais interessados no sucesso de seus clubes.