Com base em dados oficiais, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública calcula que no ano passado, mais de 40.800 comícios ocorreram no Brasil, sendo quase meu milhão de mortos nos últimos 10 anos. Há outros estudos que apontam números ainda maiores.
Desse total, mais de 55 mil teriam sido assassinados pela polícia, no mesmo período. Cerca de 11% do total.
Esses números são superados apenas pelos mortos na pandemia: mais de 700 mil, oficialmente, além das perdas humanas provocadas pela fome, tragédia que aflige mais de 60%da população, atingidos pela chamada “deficiência alimentar” segundos as estatísticas oficiais, que incluem mais de 33 milhões em situação de fome crônica.
São números que evidenciam a verdadeira guerra em andamento no Brasil, entre a burguesia a população pobre e trabalhadora, situação que se intensificou de sobremaneira com o golpe de Estado (2016) e o regime dele decorrente, que potencializou a repressão e a violência contra os trabalhadores e destruiu, como nunca, as condições de vida contra o povo.
A culpa é do Bolsonaro?
Como todos sabem, Bolsonaro chegou ao governo por meio de eleições em que o candidato mais cotado para ser eleito foi cassado e apenas em 2019. Antes disso, era um parlamentar inexpressivo, do chamado “baixo clero”, não tinha sequer partido (passou por vários deles) e nunca governou nenhum Estado ou cidade, sequer dirigiu algum banco ou grande empresa com poder real sobre a economia do País.
Diante dos lamentáveis acontecimentos dos últimos dias, nas escolas de São Paulo e na creche de Blumenau (SC), entre outros, “analistas” da imprensa burguesa, jornalistas que procuram se apresentar como independentes e até políticos da esquerda, procuram pintar um cenário no qual o ocorrido e toda a degradação que vive o País seria responsabilidade quase que exclusiva do ex-presidente.
É como se a nação fosse um paraíso na Terra antes de Bolsonaro e hoje “só dá erva daninha, no chão que ele pisou”. Isso embora o Brasil tenham número de mortos anuais maiores do que países atingidos por guerras provocadas pelo imperialismo, como o Iraque e a Síria.
No afã de criticar Bolsonaro, alguns procuram responsabilizá-lo direta e exclusivamente pelos acontecimentos: “Bolsonaro e todos que incitam o ódio são autores ocultos do massacre na creche em Blumenau”, intitulou o historiador Fernando Horta, em seu artigo no qual afirma sobre sobre as mortes de crianças executadas com um machadinha:
Outros procuram até mesmo oferecer uma suposta explicação “sociológica” para tal condenação ao ex-presidente fascista, afirmando que o “bolsonarismo disseminou ódio a escolas e universidades“, como o sociólogo Marcelo Zero, assessor da liderança do PT no Senado.
Essa “análise” de uma “nota só” não serve nem mesmo para o caso das escolas. Nos últimos 20 anos, o Brasil registrou 12 ataques com armas de fogo em escolas, segundo levantamento realizado pelo Instituto Sou da Paz . Contrariando esses “especialistas”, o caso com o maior número de vítimas ocorreu em 2011, no Rio de Janeiro, o “massacre de Realengo”, no qual 12 pessoas morreram.
Encobrimento
Tais “análises” servem concretamente para encobrir o fato de que toda essa situação, inclusive os episódios que ganham destaque na imprensa golpista – interessada em difundir essa mesma ver!ao – são, como o conjunto da guerra levada ante contra o povo pobre em nosso País e no Mundo, resultado direto do avanço da crise capitalista e da decomposição social que ela impõe contra a maioria do povo. Servem para encobrir que a “obra” da grave crise social do Pais e até mesmo da destruição do ensino público, infelizmente, não foi iniciada por Bolsonaro e se apóia em uma sólida iniciativa do conjunto da burguesia golpista e dos seus partidos que unidos (quando Bolsonaro não era mais do que um obscuro parlamentar no Congresso Nacional), impuseram ao País o período de retrocesso que vivenciamos. “Limpam a ficha” do longo prontuário criminoso dos governos da direta tradicional (da terceira via e até de setores da frente ampla) que foram, inclusive, os responsáveis pela ascensão de Bolsonaro ao governo, em 2018.
Tais análises além de encobrir a realidade, servem também para apoiar a politica dos setores que à frente dos governos estaduais e do País, junto com FHC, Temer e Bolsonaro – entre outros – ajudaram a desviar os recursos da Educação, Saúde etc. para os cofres dos banqueiros e outros parasitas; os que vivem de cortar gastos sociais, deixando as escolas em condições precárias, demitindo servidores, não realizando concursos, privatizando, terceirizando, pagando um salário miserável para os professores e funcionários.
Isso está longe de ser obra exclusiva de Bolsonaro.
E para barrar essa ofensiva vai ser preciso muito mais do que bravatas eleitorais contra o capitão facista. Muito mais do que discursos no parlamento e textos que não expressem a realidade, que não apontem o único caminho real para deter a atual ofensiva contra povo que, que não pode ser contida apenas por meio de resultados eleitorais, como mostra a situação atual; precisa ser enfrentada por meio da mobilização popular na luta pelas reivindicações dos explorados contra a política de guerra e de morte da burguesia.