Esquerda pró-OTAN

Arcary e sua adesão à Ucrânia

Arcary, apesar de tentar se colocar em uma terceira via com relação ao conflito no Leste Europeu, acaba mesmo nos braços de Zelensky

Completado um ano do conflito entre Rússia e Ucrânia (OTAN). Valério Arcary publica matéria no Esquerda Online intitulado “Não existe internacionalismo pela metade”. Segundo o autor, existem dois blocos distintos de apoio: um que defende a Ucrânia e outro que defende a Rússia. Ambos, no entanto, estariam errados, pois se trataria de uma guerra interimperialista, opondo russos e OTAN. Esse conceito, sim, está completamente equivocado. Jamais se poderia tratar a Rússia, um país atrasado, de imperialista.

Na introdução do Esquerda Online, apontam que havia um conflito latente entre o ‘imperialismo ocidental’ que tentava conter a Rússia que se reconstituía desde o fim da URSS (1991). A história mostra, no entanto, que muito mais do que uma ‘latência’, a OTAN jamais parou de expandir para o Leste, quando, supostamente, deveria ter sido desmembrada com a extinção do Pacto de Varsóvia.

Em seguida, o Esquerda Online afirma que a operação russa na Ucrânia mudou de patamar aquele conflito ‘latente’ com o imperialismo, e que a invasão “tinha como objetivo direto e explícito acabar com a existência da Ucrânia como país independente”. O que não passa de uma falsificação dos fatos. A Ucrânia tinha na Rússia o seu principal parceiro comercial. O imperialismo, que tem a intenção de destruir a Rússia, interveio e patrocinou uma revolução colorida na Ucrânia, em 2014, e acabou com essa parceria. Chamar um país com um governo fantoche controlado desde Washington de independente é uma verdadeira aberração.

Desde 2014, a população do Leste da Ucrânia passou a ser massacrada por batalhões nazistas treinados pela OTAN, a Rússia teve que se adiantar e reincorporar a Crimeia ao seu território. De lá para cá, as relações foram se deteriorando, apesar das inúmeras reuniões diplomáticas que o governo Putin participou para impedir a necessidade de um conflito armado. Ao não conseguir reverter a tendência de a Ucrânia ser admitida na OTAN, Moscou entendeu que a única maneira de se defender seria por meio de uma operação militar.

Foi o imperialismo, não Putin, que não há um ano, mas desde pelo menos 2014, “deu início a uma guerra inédita no coração da Europa desde a II Guerra Mundial”.

Ainda na introdução, o texto repete e insere falsificações como, por exemplo, que exista “a luta pela manutenção da Ucrânia como país independente”, e que tenham havido “reiteradas ameaças russas de recorrer a armas nucleares”. Ora, não foi justamente o Reino Unido, na figura da então ministra das relações exteriores, Liz Truss, que iniciou as ameaças nucleares contra a Rússia? Dizer que os russos poderiam sofrer uma ‘retaliação’ da OTAN, caso colocassem suas armas de dissuasão em estado de alerta, só poderia provocar uma resposta muito dura por parte de Moscou.

As partes:

A matéria de Arcary está divida em pontos. No primeiro, diz que o conflito dividiu a esquerda em dois blocos equivocados, em um bloco estão os que consideram que se trata de uma luta de libertação nacional da Ucrânia, e apoiam uma vitória militar de Kiev. Em outro estão os que avaliam que se trata de uma guerra defensiva da Rússia contra os EUA e a OTAN, e apoiam uma vitória militar de Moscou. E é aí que afirma tratar-se de uma guerra interimperiaista, mas é desmentido pela própria introdução do texto que diz que a Rússia sofreu “pesadas sanções”. Perguntamos: como o imperialismo, que controla a produção e as finanças do mundo, poderia ser alvo de sanções? Como um país que sobrevive de vender commodities pode ser considerado uma potência imperialista, por que tem armas nucleares? Por possuir um grande território? Não faz sentido.

No item 2, o autor tenta montar um panorama de como se formou o imperialismo. E no item 3 continua a falar do imperialismo e pela primeira vez fala da intensa a competição entre as burguesias dos países centrais nas disputas por espaços econômicos. Arcary, convencido de que a Rússia seja imperialista, não consegue enxergar que os EUA, o país que governa o bloco imperialista com mão de ferro, está utilizando o conflito na Ucrânia para cortar o fornecimento de gás natural e petróleo, energia barata, principalmente para a Alemanha, seu principal concorrente europeu que com isso vai se desindustrializar. Com as sanções, a Europa fica de joelhos para o imperialismo americano.

No item 4, Valério Arcary faz um longo percurso em vez de resumir e concluir, o que seria mais importante, que o imperialismo: EUA, UE e Japão. Esse bloco, com um vasto poderio militar e PIB acima de US$ 20 trilhões, está pressionando a Rússia e a China. O Japão aumentou seu orçamento militar em mais de 26%, e existem diversas coalizões militares sendo formadas no Indo-Pacífico, como o QUAD e a AUKUS.

Adentrando no item 5, o autor diz nenhum Estado da periferia passou a ser aceito no centro do sistema nos últimos trinta anos, o que praticamente destrói sua tese da Rússia imperialista. Mas, como não pode largar de vez o osso, caracteriza o país, bem como a China, de países ‘protoimperialista’. Não deixa de ser curioso, pois Arcary, no título, diz que não pode haver internacionalismo pela metade, só não aplica o mesmo princípio para o imperialismo. Uma outra tentativa para deixar os russos mais próximos do clube seleto dos países que mandam no mundo, diz que, como a China, a Rússia exporta capitais e tem em sua órbita uma série de semicolônias: Bielorrússia, Turcomenistão e blá-blá-blá.

Chegamos ao item 6 e temos ali considerações sobre “inserção dos Estados da periferia”, guerras de independência, “recolonização”… toda uma dança das cadeiras do Oiapoque ao Chuí global.

No item 7, Arcary nos lembra que “analisar a situação mundial exige estudar as disputas no sistema internacional de Estados, mas marxistas não devem se esquecer da luta de classes. Bem lembrado, se tivesse usado o conceito da luta de classes teria detectado aquilo que está em jogo entre EUA e Alemanha, apesar de os dois países serem imperialistas. E, sim, Arcary aproveitou para dar um puxãozinho de orelha em Marx, mas deixemos para uma próxima oportunidade.

Arcary, no item 8, discorre suas ideias sobre a esquerda mundial no século XX, o ‘destino da causa socialista’ e a URSS, que seu nacionalismo / estalinismo não deve ser confundido com o internacionalismo, e merece ser denominado de campismo socialista. A oscilação do pêndulo foi sempre muito complexa originando desequilíbrios: estalinofilia ou estalinofobia. Enfim…

No penúltimo parágrafo, o 9, lemos que “o imperialismo da Rússia é subalterno (sic), porque está fora do centro de poder no sistema internacional de Estados. Admite que a OTAN rompeu o acordo não e parou de expandir, o que é uma ameaça para Moscou. Que é verdade que “uma ala fascista, transformou a Ucrânia em um protetorado dos EUA. Mas não é verdade que a Ucrânia não é uma nação, historicamente, legítima”. Esta última frase, portanto, coloca Arcary dentre aqueles que estão pela derrota russa.

Adiante, ainda no item 9, afirma que o discurso ideológico ultranacionalista de que a Rússia está em luta pelo ‘direito de existir’ é uma invenção paranoica. Arcary tinha acabado de dizer que a OTAN rompeu um acordo e ficou durante trinta anos avançando e cercando a Rússia. Temos que lembrar que, nesse meio-tempo, a coalizão destruiu o Iraque, a Síria, a Iugoslávia, o Afeganistão, a Líbia. No entanto, acreditar em um ataque contra os russos seria ‘invenção paranoica’, pois “a Rússia tem força nuclear com poder dissuasório. E daria para fazer frente ao poder de EUA, UE e Japão somados? Arcary se esquivaria de responder, mas afirma que “a invasão não foi um movimento defensivo diante de uma situação de “perigo real e imediato”. Putin cometeu um erro de cálculo estratégico. O que mais uma vez o coloca a favor de Zelensky e da OTAN.

Finalmente, no item 10, Valério Arcary diz A justa defesa da Ucrânia diante de uma agressão imperialista não nos desobriga da constatação de que a entrada da OTAN na guerra mudou a natureza do conflito. O problema é que a OTAN não ‘entrou’ no conflito, foi ela que o iniciou.

Valério Arcary, no apagar das luzes, afirma que Os dilemas da luta anti-imperialista são complicados. Talvez por isso tenha se enrolado. Tentou desautorizar duas visões sobre o conflito na Ucrânia, tentou formar uma ‘terceira via’, mas o máximo que conseguiu foi formar uma frente ampla com Zelensky e OTAN.

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