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Roberto França

Militante do Partido da Causa Operária. Professor de Geografia da Unila. Redator e colunista do Diário Causa Operária e membro do Blog Internacionalismo.

Guerra não-convencional

Afinal, o Brasil está em guerra?

O Brasil está em guerra não-convencional, um estágio anterior a um possível conflito de maiores proporções. Por enquanto, EUA e militares estão sob controle absoluto nessa guerra

A última guerra que as forças armadas brasileiras se defenderam contra um país estrangeiro foi a Guerra do Paraguai, entre 1864 e 1870 (sem mencionar as guerras mundiais, realizadas em outro território). Anteriormente, tivemos enfrentamento na Cisplatina. As demais guerras que o Brasil enfrentou foi contra os “inimigos internos”, como na confederação dos tamoios; guerras dos aimorés; guerra dos Palmares; Farrapos; Canudos; Cabanagem; Balaiada; dentre outros. 

A partir da metade do século XX, o exército sucumbiu ao imperialismo norte-americano e se tornou um exército alinhado de primeira ordem dos Estados Unidos. A Operação Condor talvez seja o maior exemplo de submissão completa das forças armadas brasileiras ao imperialismo, quando praticamente serviu como instrumento de uma guerra por procuração contra o “inimigo interno”, a “ameaça comunista”. Anteriormente, os militares estiveram envolvidos na caça aos comunistas também em governos Vargas e Dutra, mas os “anos de chumbo” ficam marcados como ato de submissão completa aos Estados Unidos. 

Agora, após os atos de 8 de dezembro, fica definitivamente evidenciado o papel dos militares nas operações de utilização de militantes, os chamados “patriotas”. Por lei, os militares poderiam retirar os militantes das imediações dos quartéis (não que eu esteja aqui defendendo essa medida), mas deram guarida e possivelmente apoio intelectual e de inteligência. A imprensa capitalista está junto com a esquerda, sob convocação de Flavio Dino, a dar informações sobre os “patriotas” foragidos da justiça, mas aqueles que são os donos reais das operações como a grande burguesia e os militares. 

Quem mais estaria por trás das operações de guerra não-convencional? 

Não há dúvidas que o Exército brasileiro responde ao Pentágono, não tem força independente nacionalista, inclusive foi essa turma que está no poder que venerava o general Sylvio Couto Coelho da Frota, que intentou golpe contra as próprias forças armadas, quando o voo do condor já estava na fase “gradual e segura” para aterrissagem. À época, o Pentágono sabia que no Brasil a aplicação da doutrina do choque poderia levar a uma conflagração sem precedentes, que não seria útil nem mesmo aos Estados Unidos. 

Na semana passada, ousamos antecipar, com base em Korybko, importante analista geopolítico russo baseado em Washington, que a CIA está ciente dos detalhes da operação de destruição do Planalto. A invasão fugiu até mesmo ao controle de quem estava de posse do joystick. Com o governo Bolsonaro, a partir das demandas dos bilionários do desprezado pela esquerda, Fórum Econômico Mundial (o congresso da política imperialista, do que efetivamente será implantado), Aceleração da biometria, de processos de desburocratização em bancos, governos e vendas de dados públicos pelo Estado, as instituições de segurança institucional e inteligência não tem métodos próprios para controlar o “vídeo game” que Washington faz com o Brasil via forças armadas e poder judiciário. 

Os Estados Unidos jamais deixariam os militares brasileiros demonstrarem poder sozinhos, situações de claro poder e absoluto é causa de guerra civil, assim como em Burkina Faso e Mali, portanto, é preciso ter o controle como na Somália. Os militantes chamados recentemente de “patriotas” não estavam armados, isso é verdade. Contudo, os militares estão por trás das operações psicológicas desde pelo menos 2012, quando o alto escalão das Forças Armadas investiu apoio institucional e logístico em Jair Bolsonaro, que passou a frequentar e realizar diversas visitas às tropas desde antes das jornadas de junho de 2013, naquilo que deu início à revolução colorida brasileira.  

Essa tecnologia aplicada desde o Cáucaso e Ucrânia (2004), chegou aos países árabes em 2010 e avançou ao Brasil, culminando com 2016 (o golpe iniciou, portanto, com as operações psicológicas com tecnologia do Pentágono e da CIA). Desde 2016, a circulação da caserna brasileira a Washington é permanente. Poucas decisões militares brasileiras são tomadas em separado do imperialismo norte-americano. Se há alguém mais poderoso que o imperialismo, esse precisaria ser contido, controlado ou dançar conforme a música. Nem o bolsonarismo, nem a esquerda está fugindo ao ritmo. 

Enfim, o que são operações psicológicas e guerra não-convencional? 

Se a guerra já foi a continuidade da política por outros meios, agora a política é a continuidade da guerra por outros meios. Ou seja, desde o início do século XXI, a doutrina militar dos Estados Unidos se voltou para a estratégia de guerra permanente com maior do poder brando em ações psicológicas com novos meios técnicos, como a própria internet, que avançou no mundo tanto para fortalecer o desenvolvimento das forças produtivas e exploração na escala mundial, como para desenvolver um sistema de espionagem global infalível. 

Pode-se argumentar que as operações psicológicas, poder brando e espionagem sempre fizeram parte da guerra, porém, a internet se popularizou neste século e foi posta em funcionamento rapidamente a partir do Líbano, Geórgia, Bielorrússia e Ucrânia em 2003 a 2005. Anteriormente, as demais abordagens psicológicas foram mobilizadas somente pelo fortalecimento da imprensa e fundações, como na Sérvia, Afeganistão e Iraque. 

A abordagem do Pentágono para as ações psicológicas é a guerra não-convencional (não se trata de conceituação acadêmica, mas, militar), que de modo permanente bombardeia os países explorados com informações falsas sobre o mercado (índices de risco); chantagens comerciais; embargos em pequenas e grandes escalas, guerras comerciais entre países não hostis entre si; flutuações de câmbio artificialmente; operações de compra de empresas estatais entre outras ações. 

Deste modo, o que ocorre no Brasil neste momento é a continuidade de uma operação militar, seguindo todos os mecanismos e estratégias definidas por Washington para manter como um país sob sua zona de influência. Embora os militares formem uma espécie de casta no Brasil, com pretensões de poder próprias, mas condicionadas à organização tática do Pentágono e das organizações federais para o controle da política externa. 

O poder robusto, dissimulado pelas forças armadas e pelo poder judiciário, que não conseguiu expedir nenhuma ordem contra os militares, não está fora da vista dos Estados Unidos. Como já foi dito, não se pode deixar uma operação militar correr solta a ponto de os militares demonstrarem tamanha força política. Por outro lado, como já dissemos na semana passada, os Estados Unidos querem implantar todo o esquema do atual regime imperialista, como políticas identitárias e de fortalecimento das leis antiterror e até mesmo o poder judiciário.  

Nesse ponto, a operação de ataque ao Planalto foi um grande sucesso. Moraes pode avançar em suas pretensões políticas em nome da “democracia” e defesa das “instituições” e os militares puderam se dissimular de protetora da ordem. Sobrou para membros rasos da polícia do DF e ainda por cima desmoralizou o início do governo Lula, especialmente Flávio Dino. Não é à toa que o estado de guerra mudou, a guerra não é só a tomada definitiva de Soledar em Donetsk pelos russos, mas tomar o poder desarmando o inimigo, no caso, o povo e a esquerda. Esse elemento está no tratado “Da Guerra”, de Clausewitz. 

A esquerda avançará em suas estratégias de tomada de poder quando tiver o domínio das estratégias militares, e quando se derem conta que o objetivo do exército vencedor é forçar sua forma de poder e desarmar o inimigo, com o mínimo derramamento de sangue possível. Entretanto, por enquanto, o governo está planejando a elaboração de um “gabinete do amor”, o que não levará o governo à vitória nessa guerra, ainda mais após sancionar leis repressivas nas posses de “George Soros” na semana passada.

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*As opiniões dos colunistas não expressam, necessariamente, as deste Diário.

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