Famílias do Acampamento Novo Mundo, localizado na BR-364, no município de Jataí (GO), denunciam a destruição de seis barracos da comunidade por agentes da empresa Ecovias do Cerrado, concessionária da rodovia. A ação de derrubada das estruturas ocorreu sem aviso prévio nem apresentação de qualquer documento judicial.
As famílias registraram boletim de ocorrência e afirmam que, dias antes do ocorrido, agentes da empresa estiveram no acampamento e colheram dados de alguns moradores para suposto cadastro. Elas contam que, no dia 06 de fevereiro, cinco barracos foram derrubados por um trator e, na semana seguinte, no dia 13, mais um barraco foi destruído, tendo os escombros, pertences de seu interior, plantas e estruturas do quintal soterrados com uso de uma retroescavadeira.
Apesar do ataque, o acampamento resiste na área, por seu direito de acesso à terra para viver e produzir seu sustento.
De acordo com informações colhidas junto às federações de trabalhadores rurais de Goiás, o caso do Acampamento Novo Mundo não é isolado. Em Vila Propício, agentes de outra concessionária abordaram famílias acampadas na GO-230, em ação similar, colhendo dados pessoais e afirmando a necessidade de retirada da comunidade do local, para realização de uma obra futura.
Na cidade de Mineiros (GO), agentes do DNIT foram até um acampamento à beira da estrada e, também sem apresentar nenhum documento, falaram à comunidade da sobre a necessidade de desocupação da área para o início de uma obra de duplicação de rodovia. Em ambos os casos, a ação se restringiu à notificação das famílias.
Área do Acampamento Novo Mundo (Jataí) onde havia o barraco de uma família: derrubado e soterrado (Fotos: Divulgação)
Abordagens policiais frequentes geram clima de medo entre acampados
Outras comunidades acampadas relatam estar convivendo, nas últimas semanas, com abordagens policiais frequentes. Sem que haja chamados, denúncias ou determinação legal, viaturas têm ido até os acampamentos para obter dados pessoais de famílias moradoras. Segundo informações da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Estado de Goiás (FETAEG), pelo menos três acampamentos, nos municípios de Jussara, Caiapônia e Acreúna relataram ter sido abordadas por policiais no mês de fevereiro.
Perguntado sobre o motivo da coleta de informações, um agente da polícia informou estar realizando cadastros com a finalidade de registrar os acampamentos já existentes e seus representantes. Segundo o agente, o comando da polícia disse que “não é pra se criar mais acampamentos”.
Em Jussara, trabalhadores que reestruturavam um acampamento às margens de uma área pública, onde se localiza a pista de pouso da cidade, passaram por abordagem policial no momento em que construíam barracos. Os agentes policiais colheram dados pessoais e informações sobre o acampamento. Segundo os trabalhadores, a própria prefeita da cidade havia autorizado a instalação do acampamento no local. À noite, quando as famílias deixaram a área, os barracos foram incendiados.
Antônio Chagas, coordenador da Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar do Estado de Goiás (FETRAF-GO), diz que este tipo de acontecimento intimida e criminaliza as famílias que buscam garantir seu direito de acesso à terra. “Nós ficamos com receio. As autoridades poderiam procurar um sindicato, uma federação para dialogar. Essas abordagens desrespeitam as famílias, porque elas estão ali apenas para garantir o seu direito, porque têm esperança e sonham em ter um lugar para morar e trabalhar”, relata Chagas.
Moradores do Acampamento Garça Branca, localizado em Jaupaci (GO), também vivem situação preocupante. Além das abordagens policiais, que estão acontecendo repetidamente nas últimas semanas, a comunidade tem vivido situações de invasão e monitoramento por agentes não identificados.
“Semana passada mesmo [última semana de fevereiro], um homem chegou entrando no acampamento tirando fotos, fazendo filmagens. Quando fomos perguntar quem ele era, ele pegou a moto e foi embora. Agora sempre tem motos passando por aqui à noite, de um lado para o outro, mas não param. Antes não tinha isso”, relatou um morador. Em 2019, um incêndio caracterizado como criminoso incendiou o barraco de uma liderança.
Fonte: CPT