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Diretriz Aníbal

A verdade sobre 7/10: soldados israelenses mataram civis

Evidências de que tropas israelenses abriram fogo contra civis do próprio país atualizam o horror da ocupação sionista, que deve ser extinta imediatamente

No dia 7 de outubro, militantes da luta pela libertação da Palestina liderados pelo Movimento Resistência Islâmica (Hamas) romperam as fendas que separam a Faixa de Gaza de Israel, iniciando a mais ousada ação contra o sionismo em décadas, o que resultou na morte de 1.400 israelenses, a maioria civis. Por muito tempo, atribuiu-se aos grupos armados palestinos às mortes ocorridas, mas novas evidências sugerem que as Forças de Defesa de Israel (FDI) teriam sido os principais responsáveis pela morte dos israelenses na ocasião.

Em artigo assinado, publicado na edição do dia 20 de outubro do jornal israelense Haaretz, o jornalista e analista militar Amos Harel descreve qual a ação tomada pelos palestinos no dia em questão:

O Escritório de Coordenação e Comunicação foi atacado em 7 de outubro, juntamente com todos os postos avançados ao longo da linha da divisão. Uma grande força do Hamas tomou o cruzamento adjacente de Erez, que estava fechado por causa do feriado de Simhat Torah. De lá, em poucos minutos e sem resistência, eles avançaram para a base militar, matando e sequestrando os soldados [grifo nosso] da Administração Civil, embora alguns deles tenham conseguido devolver o fogo antes de serem atingidos… O general Rosenfeld se entrincheirou na sala de guerra subterrânea da divisão, juntamente com alguns soldados, tentando desesperadamente resgatar e organizar o setor sob ataque. Muitos dos soldados, a maioria deles não pertencentes às equipes de combate, foram mortos ou feridos do lado de fora. A divisão foi obrigada a solicitar um ataque aéreo contra a própria base [grifo nosso] para repelir os terroristas.” (“Failures Leading Up to the Hamas Attack That Changed Israel Forever”, Amos Harel, Haaretz, 20/10/2023).

No sítio do jornal israelense, Amos Harel é apresentado como um dos maiores especialistas em questões militares e de defesa da imprensa israelense, desempenhando a função de correspondente militar e analista de defesa do Haaretz desde 2011. O militar citado pelo jornalista é general de brigada Avi Rosenfeld.

Além de desmentir a versão da imprensa imperialista, que leva pessoas de menor senso crítico a acreditarem que hordas infernais decididas a fazerem maldades atacaram civis, o relato de Rosenfeld deixa claro o que porta-vozes do Hamas dizem desde o começo: os alvos eram os militares israelenses. Ainda, pode parecer chocante a ideia de que um general da FDI pediu, de uma sala protegida no subsolo, o bombardeio da própria base enquanto soldados israelenses trocavam tiros com inimigos, condenando-os à morte. A afirmação, contudo, fora feita pelos próprios israelenses e divulgada não em um jornal obscuro, mas um dos principais órgãos de imprensa do enclave imperialista no Oriente Médio.

Outro órgão, o norte-americano Electronic Intifada, traz relatos ainda mais chocantes sobre os acontecimentos de 7 de outubro. Em entrevista ao portal, a israelense Yasmin Porat, moradora do kibbutz Be’eri (localizado próximo à Gaza e local de cativeiro onde pelo menos 100 pessoas morreram), foi taxativa: “sem dúvida”, disse, “eles [militares israelenses] eliminaram todo mundo, incluindo os reféns.” (“Israeli forces shot their own civilians, kibbutz survivor says”, Ali Abunimah e David Sheen, 16/10/2023). Segundo Porat, assim que as forças sionistas chegaram ao kibutz, “houve um fogo cruzado muito, muito pesado”. A colona sobrevivente cita que “até mesmo bombardeios de tanques” foram efetuados, levando a um número indiscriminado de mortos, incluindo seu parceiro, Tal Katz.

Seu testemunho é complementado por evidências de soldados israelenses que descreveram como os militares israelenses atiraram bombas de tanques contra edifícios onde militantes do Hamas e seus cativos israelenses estavam escondidos.

Segundo o sítio The Cradle, “na edição hebraica de Haaretz de 11 de outubro, os jornalistas Nir Hasson e Eden Solomon, um vice-comandante de um batalhão de reserva blindado israelita, descreveram como ele e a sua unidade de tanques ‘lutaram dentro do kibbutz, de casa em casa, com os tanques.’ ‘Não tivemos escolha’, conclui” (“Israeli army behind many settler deaths during initial Hamas attack: Report, 23/10/2023).

Ainda citando o Haaretz da edição de 20 de outubro, The Cradle continua: “Hasson relata que, de acordo com um residente de Beboiteri, cujo parceiro foi morto no ataque, os militares israelenses bombardearam as casas com todos os seus ocupantes no interior, a fim de eliminar os terroristas juntamente com os reféns.” O relatório observa que “11 dias após o massacre, os corpos de uma mãe e seu filho foram descobertos em uma das casas destruídas. Acredita-se que mais corpos ainda estão deitados nos escombros.” (Idem).

Agora citando o norte-americano Mondoweiss, The Cradle conclui a matéria informando: “Está claro que militantes palestinos estavam escondidos nesses edifícios com seus prisioneiros israelenses enquanto soldados israelenses estavam explodindo seu caminho com enormes tanques em bairros próximos. Merece ser investigado quem causou a maior parte da morte e destruição que ocorreu. Isto é especialmente importante, uma vez que estas mortes estão agora a ser usadas para justificar a destruição de Gaza e a morte de milhares de civis lá.” (Idem).

Também ao Mondoweiss, um colaborador anônimo comentou a política deliberada adotada pelas forças sionistas de alvejar israelenses:

“Isso traz de volta à minha mente os eventos de 1º de agosto de 2014, durante a mais violenta campanha israelense contra Gaza até a atual. Em 1º de agosto, houve um cessar-fogo, mas uma unidade israelense iniciou uma provocação que terminou com a captura de um de seus soldados por militantes palestinos. A resposta de Israel foi devastadora, claramente projetada para garantir que o soldado, Hadar Goldin, estaria morto com o maior número possível de palestinos. De acordo com as investigações de Anistia Internacional e as Nações Unidas, citadas nas Wikipedia, ‘o bombardeamento maciço israelita matou entre 135 e 200 civis Palestinianos, incluindo 75 crianças, nas três horas seguintes à suspeita de captura de um soldado israelita.’” (“A growing number of reports indicate Israeli forces responsible for Israeli civilian and military deaths following October 7 attack”, 22/10/2023).

A Diretriz Aníbal

O supracitado artigo de Mondoweiss destaca que os episódios reforçam a prática israelense da famigerada Diretriz Aníbal, “um procedimento controverso para impedir a captura de soldados israelenses”, segundo a página do Wikipedia sobre o tema. E qual seria o procedimento? “’Em junho de 1999, servi como médico da reserva em postos avançados no sul do Líbano’, relatou Shiftan. ‘Nas instruções antes de o comboio entrar e sair do Líbano, tomei conhecimento de um procedimento que ordenava que os soldados matassem qualquer soldado da FDI se ele fosse capturado pelo Hesbolá. Esse procedimento me pareceu ilegal e não condizente com o código moral da IDF. Entendi que não se tratava de um procedimento local, mas que tinha origem no Estado-Maior, e tive a sensação de que uma abordagem direta às autoridades do exército seria inútil, mas acabaria em um encobrimento’”, disse o médico e major da FDI Avner Shiftan ao Haaretz (“Shots across the bow”, Haaretz, 8/5/2003). Considerado um dos maiores generais da história e ferrenho opositor de Roma na Antiguidade, Aníbal foi um cartaginês que, para não cair nas mãos dos romanos, suicidou-se com veneno.

Embora negada inicialmente pelo comando da FDI, o procedimento foi declarado extinto em 2016 (“Israeli Military Revokes Use of Maximum Force to Foil Captures”, Isabel Kershner, 28/6/2023).

Outro relato, feito pelo jornalista do órgão israelense Jerusalem Post, Anshel Pfeffer, descreveu a ordem em 2006 como um “rumor” de um procedimento padrão na eventualidade de uma tentativa de sequestro:

“Fala-se em vozes abafadas durante as horas mortas antes do amanhecer de um turno de guarda particularmente solitário, ‘Nohal Aníbal’ – a Diretriz Aníbal – o rumor do procedimento padrão na eventualidade do seqüestro de um soldado da IDF. Nesse caso, os soldados são informados, embora nunca oficialmente, de que seus companheiros terão a ordem de atirar e saudar o fogo contra a equipe de seqüestradores, sem considerar a vida do pobre soldado. A lógica subjacente é que a nação pode cobrar o preço da vida dos soldados, mas o destino incerto de um soldado sequestrado é quase insuportável demais.” (“Comment: The Entebbe Syndrome”, 25/6/2006).

O sítio árabe com sede no Catar Al Jazeera produziu um documentário (em inglês) sobre a Diretriz em 2016, que pode ser assistido no link : https://youtu.be/FcShjcjC2no

Ainda, o jornal árabe entrevistou Yehuda Shaul, ex-militar isralense e co-fundador da ONG Breaking the Silence (Quebrando o Silêncio, em português), reunindo veteranos militares opositores do sionismo. Shaul informa que “nunca viu nenhum texto escrito das regras”, mas sabe do que se trata: 

“Você abrirá fogo sem restrições para impedir o sequestro [de um militar isralense]”, diz ao Al Jazeera, acrescentando que o uso da força é realizado mesmo com o risco de matar um soldado em cativeiro (“What’s Israel’s Hannibal Directive? A former Israeli soldier tells all”, Urooba Jamal, 3/11/2023).

A Diretriz foi criada em 1986 por comandantes do exército israelense após a captura de três soldados da Brigada Givati, uma brigada de infantaria israelense, por militantes do grupo armado libanês Hesbolá. Na ocasião, Israel ocupava a região sul do Líbano, em uma área criada e chamada de zona de segurança após a invasão do país árabe em 1982. Os soldados capturados pelo Hesbolá patrulhavam essa zona, que só voltaria ao controle libanês no ano 2000.

Somente em 1996, após 10 anos do ocorrido, os restos mortais dos soldados capturados foram devolvidos a Israel, que em troca, devolveu os corpos de 123 combatentes do movimento armado libanês. Segundo Shaul, os membros da brigada viram um veículo fugindo com seus colegas soldados capturados, mas não abriram fogo, naturalmente. O comando da FDI resolveu garantir que tal situação nunca mais voltasse a acontecer.

A postura de linha dura de Israel desde então se deve ao fato de que o sequestro de um soldado é um movimento estratégico para um inimigo, diz Shaul à Al Jazeera, dando-lhe poder de negociação, bem como a capacidade de afetar o moral nacional e o apoio público a um conflito. Uma avaliação parecida com a apresentada por Pfeffer, mas acima de tudo, tornando mais concreto a existência de uma política, ainda que não escrita, para não poupar nem mesmo israelenses em nome do martírio palestino.

Em 2016, a Diretriz que supostamente nunca existiu fora abolida pelo FDI. Uma matéria do norte-americano The New York Times informa que “os militares israelitas cancelaram uma diretriz controversa conhecida como procedimento Aníbal, que exige o uso da força máxima para evitar a captura de soldados israelitas, mesmo correndo o risco de os ferir” (“Israeli Military Revokes Use of Maximum Force to Foil Captures”, Isabel Kershner, 28/6/2016).

O propagandista do imperialismo norte-americano citou ainda em sua matéria o professor Asa Kasher, filósofo e um dos autores do código de ética militar israelense, que segundo The New York Times, teria dito à Rádio Israel: “Durante 20 anos, tenho falado contra a maneira como os comandantes entendem erroneamente o procedimento de Hannibal, como se isso lhes permitisse matar o soldado.” Ele acrescentou: “Se há tantos soldados que entendem a ordem dessa forma, incluindo comandantes de alta patente, então é certo cancelá-la, apagá-la, descartá-la e redigir uma nova ordem que seja inequívoca” (idem). 

A solução para o nazismo

Diz-se que desde então, a diretriz foi “cancelada, apagada, descartada” e substituída, mas o que as evidências sugerem é que a mudança foi operada para incluir civis. A barbárie sionista, como se vê, desconhece o sentido de limites, sendo cruel, inclusive, contra os cidadãos israelenses. Uma pergunta muito óbvia diante dos relatos da monstruosidade do regime sionista é: “se abrem fogo contra militares e até civis israelenses desta forma, o que farão com árabes?”

O maquinário político criado pelo imperialismo para controlar o Mundo Árabe só pode se sustentar mediante uma política verdadeiramente nazista, o que é feito pelo Estado de Israel. Não existe solução para isso, exceto a extinção da ocupação imperialista, a libertação da Palestina e o restabelecimento de uma nação única, abrangendo todo o território ocupado pelas forças sionistas, multinacional, onde etnias e religiões distintas possam coexistir.

A julgar pela civilidade amplamente difundida dos palestinos, do lado árabe isso não será um problema. Os depoimentos de israelenses como Porat mostram que do lado judeu não existe uma disposição para animosidade. É preciso, portanto, fazê-lo o quanto antes, para por fim à horripilante carnificina causada pelos sionistas, os únicos responsáveis pelas mortes de ambos os lados.

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