Várias atletas trans não declaradas são desclassificadas do Campeonato Mundial de Boxe Feminino. Enquanto que nas modalidades esportivas que permitem a participação das mulheres trans, as demais atletas sofrem com a supremacia física destas.
Campeonato Mundial de Boxe Feminino 2023
O Campeonato Mundial de Boxe Feminino 2023, ocorreu em Nova Deli, o evento é da Associação Internacional de Boxe (IBA) que por apresentar discordâncias está suspenso do Comitê Olímpico Internacional (COI). Essa disputa entre as entidades chegou a impor sanções a árbitros delegados que participarem dos eventos concorrentes, acarretando a certo número de atletas a boicotar o evento.
Neste mundial houveram vários pontos políticos que ocasionaram estas divergências entre as entidades e limitaram a participação dos atletas. Além de polêmicas acerca do teste de gênero, atletas com cromossomo XY eram desclassificadas.
As divergências
O primeiro ponto, é o posicionamento das nações no conflito da Ucrânia. Várias atletas ligadas ao imperialismo, a exemplo da norte-americana Rashida Ellis, campeã mundial de 2022, e a irlandesa Kellie Harrington, campeã olímpica em 2021, se negaram a participar do evento em razão do posicionamento da Índia.
Outro aspecto político foi a proibição da participação de enclave imperialistas não reconhecidos como países pela Índia, este foi o caso Donjeta Sadiku, do Kosovo, bronze em 2022. No geral vemos um reflexo da resistência à política do imperialismo nos esportes e suas instituições.
A polêmica trans
O presidente da IBA, Umar Kremlev, pronunciou-se pelo Telegram no dia 25 de março, informando de uma decisão da executiva da IBA. Segundo ele, a reunião seria para discutir “justiça entre os atletas e profissionalismo”.
Após realizar “uma série de testes de DNA” a IBA teria encontrado várias trans declaradas como mulheres. Nas palavras de Kremlev a associação “descobriu atletas que tentavam enganar seus colegas e fingiam ser mulheres”, consequentemente aquelas que os testes “provaram que eles tinham cromossomos XY e, portanto, foram excluídos dos eventos esportivos”.
Neste mundial a argelina Imane Khelif, de 23 anos, campeã africana e vice mundial em 2022, não pode disputar o ouro da categoria 66 kg. E a boxeadora de Taiwan Lin Yu-Ting não recebeu a medalha de bronze — ela foi campeã em 2018 e 2022, além de ter ganho o bronze em 2019. Elas foram comunicadas da desclassificação “devido ao não cumprimento dos critérios de elegibilidade da IBA”.
World Athletics proibiu trans
No dia 23 de março a World Athletics proibiu “atletas transgêneros de homem para mulher que passaram pela puberdade masculina” de participarem nos seus eventos femininos. Posição semelhante foi tomada pela World Aquatics, em junho de 2022.
Essas decisões visam resguardar esse espaço público conquistado pelas mulheres nos esportes. Em reação a essas medidas, há uma verdadeira campanha de organizações de direitos LGBT e atletas trans, que tem como consequência a destruição desses direitos alcançados pelas mulheres.
Níveis de testosterona
Os níveis do hormônio testosterona têm impactos gigantescos na tenacidade e recuperação muscular, tanto que um número de homens com níveis saudáveis, faz uso de medicação para elevar os níveis. Essa prática, conhecida como doping, é proibida inclusive nas competições masculinas, quando identificado alguma forma sintética da testosterona o competidor é desclassificado.
Numa mulher os níveis de testosterona variam de 12 a 60 ng/dl, enquanto que no homem o adequado está entre 300 a 1000 ng/dl, uma realidade totalmente diferente. Uma trans, mesmo com reposição hormonal feminina e intervenção cirúrgica apresenta níveis de testosterona incompatíveis com as competidoras mulheres.
Essa realidade torna a competição desproporcional, consequentemente desleal. A imprensa argelina informou que altos níveis de testosterona era o caso de desclassificação de Imane Khelif.
O caso Hannah Arensman
Hannah Arensman foi campeã norte-americana no ciclo Cross, mas após derrota para a trans Tiffany Thomas, Hannah percebeu que, “não importa quanto ela treine”, vai estar sempre em desvantagem. “Decidi encerrar a minha carreira no ciclismo” afirmou Hannah.
Nesta competição Hannah chegou em 4° lugar, flanqueada por trans nos 3° e 5°. Os três primeiros lugares foram ocupados por trans, o próprio Tiffany Thomas quando nunca teve destaque nas competições masculinas, entretanto essa foi sua 20ª vitória na categoria feminina.
Hannah lembra: “Minha irmã e minha família choraram, ao ver um homem terminar na minha frente, tendo testemunhado várias interações físicas com ele durante a corrida”.
“Sinto muito pelas meninas de agora, que estão crescendo em uma época em que não têm mais chances justas de ser as novas recordistas e campeãs do ciclismo”. Complementa Hannah. “Senti-me profundamente irritada, desapontada, negligenciada e humilhada, porque os legisladores dos esportes femininos não acham mais necessário proteger os esportes femininos para garantir uma competição justa para as mulheres.”
Uma ofensiva contra as mulheres
Esses não são casos isolados, trata-se de uma ofensiva contra as mulheres. No cenário esportivo nacional não é diferente, Podemos citar a Tiffany Abreu, que passou de um jogador profissional sem destaque no vôlei masculino para uma das principais pontuadoras na liga nacional feminina de vôlei.
Houve uma perseguição ao técnico Bernardinho, um lixamento do virtual dos identitários. O motivo foi o protesto do mesmo “Um homem, é foda!” perante a desigualdade durante uma partida.
O interessante é que a tolerância para os altos níveis de testosterona das transsexuais dificilmente é alvo de crítica ou penalidade. Entretanto o mesmo não é aplicado às mulheres, a jogadora de vôlei Tandara Caixeta foi suspensa por quatro anos, por apresentar níveis mais altos de testosterona.
Essa política identitária, como sempre, serve de combustível para a extrema-direita, como por exemplo trans sendo candidatos por partidos de direita e tornando-se base de Bolsonaro.