No que tange à defesa dos direitos democráticos e combate à repressão do povo, o governo do Partido dos Trabalhadores tem deixado a desejar, demonstrando grande insensibilidade diante da questão das chacinas e da política de encarceramento em massa dos pobres nas cadeias brasileiras, verdadeiros infernos na terra. Todo esse ataque aos direitos da população é água para o moinho da direita e da extrema-direita no País.
O próprio Lula tem se equivocado quando fala sobre o assunto. Em um evento de assinatura do decreto que define novas regras para o porte, posse e o uso de armas de fogo pela população civil, no final do mês de julho, Lula disse que “quem tem de estar bem armada é a polícia brasileira”.
Na semana seguinte, as polícias da Bahia, São Paulo e Rio de Janeiro, mataram em poucos dias quase 50 pessoas nas favelas e periferias. As denúncias da população são tão variadas quanto aterrorizantes: espancamento, abuso, enfim, toda sorte infernal de torturas. Estamos falando de um País em que a polícia mata em média por ano 6 mil pessoas oficialmente. É um genocídio orquestrado contra o povo negro e pobre diariamente.
Lula participou de um evento no Rio, junto ao governador do Estado, sobre investimentos em mobilidade urbana, criticou a atuação da polícia carioca que matou um adolescente de 13 anos na Cidade de Deus, na zona oeste do Rio, na segunda-feira (7). O chefe do executivo afirmou que o policial que atirou no jovem é “despreparado ou irresponsável”.
“O povo pobre, negro, da periferia precisa ser tratado com respeito, para que nunca aconteça o que aconteceu com o menino de 16 anos [na verdade, Thiago tinha 13 anos] que foi assassinado por um policial despreparado ou irresponsável. A gente não pode culpar a polícia, mas tem que dizer que um cidadão que atira em um menino que já estava caído é irresponsável e não estava preparado do ponto de vista psicológico para ser policial”, disse Lula.
Acontece que o histórico da polícia não deixa dúvidas quanto ao fato de o problema não ser um suposto despreparo ou irresponsabilidade, muito pelo contrário. A polícia está preparada o suficiente para cumprir o seu papel principal que é aterrorizar o povo. A matança da população é parte dessa política e é a regra do funcionamento. O responsável pela morte do adolescente de 13 anos está fazendo o que a polícia foi criada para fazer: matar pessoas, principalmente pobres. O que acontece, às vezes, é que a máquina de matar que é o policial acaba perdendo um pouco a mão, o que acaba gerando revolta da população. Esse, inclusive, é o único limite para frear a ação da polícia.
No mesmo discurso, Lula afirmou que “a polícia tem que saber diferenciar o que é um bandido e o que é um pobre que anda na rua”. O problema dessa colocação é que a polícia não deveria ter o direito de matar ninguém, nem pobre, nem rico, nem “bandido”. Não existe pena de morte no Brasil e se existisse a polícia não teria direito de matar ninguém sumariamente.
O que a polícia brasileira faz é assassinar as pessoas nas ruas. Ela acusa, ela julga e ela mesma dá a sentença de morte. Isso é ilegal e criminoso. A polícia age como um esquadrão da morte.
Outra questão que se deve dizer sobre a fala de Lula é que as cadeias que supostamente estão cheias de “bandidos”, na verdade estão cheias de pobres. Essa é a realidade nua e crua da repressão no Brasil. No fundo, o pobre é o bandido, porque ele é tratado como tal. E se um pobre é jogado para a criminalidade por conta de sua situação social, o que espera por ele é um verdadeiro inferno da terra. Mas, ao contrário, não existe rico na cadeia porque os bandidos ricos não são presos, é simples assim.
Em resumo: a polícia é treinada para tratar todos os pobres como bandidos.
Proliferam nas redes sociais registros de que as tropas saem às ruas, como eles mesmos dizem, para a “guerra”, equivocando-se apenas no fato de que em uma guerra, existem dois lados armados, ao passo que nos bairros operários, só o policiais têm armas, razão pela qual o termo que realmente reflete a ação policial é chacina. Preparar e armar melhor as polícias sempre será dar mais poder de fogo para o terrorismo contra a população. A única verdadeira solução para o problema é a extinção da polícia, não tem outro caminho.