Em 1777, quando foi criada a Capitania Geral da Venezuela, pertencente ao Império Espanhol, estabeleceu-se como fronteira oriental entre Espanha e Países Baixos o rio Essequibo, desde sua nascente até sua desembocadura no Oceano Atlântico. Uma vez que não houve qualquer acordo com a República Venezuelana, estabelecida após tornar-se independente da Espanha, Essequibo pertenceria, de fato, à Venezuela.
Esse fato histórico de quase dois séculos e meio atrás, hoje motiva a campanha levada adiante pelo governo venezuelano de recuperação de seu território, confiscado pelo imperialismo inglês e dado a uma nação-fantoche. O resultado dessa disputa política internacional pode vir a ser mais uma das derrotas em série que vem colocando o imperialismo em maus lençóis.
As atuais fronteiras do Estado venezuelano resultam da ação britânica no século XIX, quando a Grã-Bretanha incentivou colonos a invadirem as terras a oeste do rio Essequibo. Nesse período, após um acordo com os Países Baixos, o Império Britânico colonizou a região guianense, especificamente o Essequibo. A ocupação britânica teve como objetivo consolidar o território que hoje compreende a Guiana. Assim, a Grã-Bretanha anexou o território venezuelano sem consentimento da população local, que, na época, não pôde reagir devido à disparidade militar gritante entre os britânicos, maior exército do mundo à época, contra a Venezuela, um relativamente pequeno e novo país da américa do sul.
Durante o século XIX, os britânicos tentaram reiteradamente impor uma série de acordos para afirmar Essequibo como parte de seu território, os quais foram consistentemente rejeitados pelos venezuelanos. Somente em 1899, o Laudo Arbitral de Paris foi estabelecido, um documento diplomático que favoreceu a Grã-Bretanha. Contudo, esse documento revelou-se uma fraude. Inicialmente, a formulação deveria envolver dois representantes britânicos, dois venezuelanos e um representante de um país “neutro”. No entanto, ao final, a Venezuela foi “representada” por dois norte-americanos.
Consideradas essas informações, a campanha que o governo venezuelano tem levado adiante pela recuperação do território do Essequibo tem total legitimidade. O imperialismo se utiliza sistematicamente de jogadas como o laudo arbitral de Paris para manter sob seu poder pontos estratégicos de interesse à revelia da história e dos direitos legítimos das nações oprimidas. Não só por uma questão de direito, mas também por uma questão política, a Venezuela deve ser apoiada. O território do Essequibo é rico em recursos minerais e grandes reservas de petróleo e gás, as quais estão na mira dos grandes tubarões do imperialismo, que, com a guerra da Ucrânia que levou aos embargos à Rússia, e consequentemente um estrangulamento das economias europeias, estão desesperados atrás de novas fontes de recursos energéticos que possam aliviar a situação periclitante que correm vários países imperialistas nesse momento.
Uma vitória da Venezuela nessa disputa apertaria ainda mais a corda no pescoço do imperialismo, que nesse momento tem que lidar com a instabilidade política causada pela extrema direita, que é fomentada justamente pela crise econômica, a pressão inflacionária e a tendência de mobilização das massas, além das guerras em diversas frentes no mundo. A crise no Níger, a guerra da Ucrânia, o conflito em Israel, e agora a disputa referendada pelo povo venezuelano pela anexação do Essequibo podem se mostrar problemas demais para o imperialismo lidar.