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Futebol Arte

A geração do futebol arte que preparou a vinda do Rei Pelé

Craques vindo da classe trabalhadora como Friedenreich, Leonidas da Silva e Zizinho foram a base na criação no futebol arte onde Pelé foi Rei

Sem dúvida Pelé é o maior da história. Ninguém chegou próximo a ele em termos de capacidade técnica, inteligência, criatividade. Só que no inicio da sua excepcional carreira, quem acompanhava o futebol nacional fazia questão de afirmar que ele estava seguindo uma tradição brasileira do futebol arte.

Nada representa mais o futebol arte do que o drible. Uma invenção da classe trabalhadora para escapar das “botinadas” que o juiz não marcava quando quem as sofriam era um negro, invariável alguém que era remunerado para jogar, logo um trabalhador.

Como afirma Antônio Jorge no livro A Invenção do país do futebol, “Quando começaram a jogar o futebol, os negros não podiam derrubar, empurrar, ou mesmo esbarrar nos adversários brancos”.

A Confederação Brasileira de Desportos, criada em 1916 da fusão da Federação Brasileira de Sports coma Federação Brasileira de Futebol, só permitia que clubes sociais competissem, no caso, membros da alta sociedade. Paulatinamente, os clubes de futebol começaram a empregar mais jogadores negros. Não por boa vontade ou por uma lei como desejam os identitários, e sim porque eram mais habilidosos e efetivos.

Na década de 20, já aparecem os primeiros ídolos do futebol, Artur Friedenreich, El Tigre, filho de um comerciante alemão com uma empregada doméstica filha de escravos libertos. Alguns cronistas afirmam que foi o inventor do drible e da firula. Em 26 anos de atividades, em 1329 partidas, marcou 1239 gol. Garantiu os primeiros títulos da seleção brasileira com os campeonatos sul-americanos (atual Copa América) em 1919 e 1922. Em 1925, em pleno continente europeu, liderou a primeira excursão de um time brasileiro, Clube Atlético Paulistano, com 9 vitórias em dez jogos em destaque a goleada de 7 a 2 sobre a seleção francesa.

Infelizmente, devido a uma briga entre as associações paulistas de futebol, a CBD não levou jogadores de São Paulo, El Tigre não pode participar da copa do Mundo no Uruguai. O talento brasileiro não ficou de fora visto que a Maravilha Negra, Fausto dos Santos, um meio-campista de muita disposição, grande técnica e habilidade, cativou a imprensa uruguaia em apenas dois jogos. Foi contratado pelo Barcelona em 1931 devido a uma bem-sucedida excursão do Vasco da Gama pela Europa, onde permaneceria por três anos.

Os anos 30 marcam a oficialização do profissionalismo e uma nova geração de jogadores surge. Esta geração vai ser responsável pelo primeiro grande sucesso em Copa do Mundo. No caso, na França, em 1938, um terceiro lugar em cima da Suécia. Vale dizer que na semifinal a seleção canarinha perdeu por 2 a 1 ainda que tenha jogado de igual para igual contra a Itália de Mussolini, bicampeã contra a Hungria.

Nesa geração, jogadores com Batatais, Walter, Zezé Procópio, Martim, Afonsinho, Brandão Romeu, Perácio, Hércules, Roberto, Luizinho, Tim e Patesko, mostrariam a qualidade do futebol brasileiro. Entretanto, outros dois se destacariam acima de todos e de inúmeros europeus: Domingos da Guia e Leônidas da Silva, os representantes brasileiros na seleção da copa de 1938.

O Divino Mestre, garoto de Bangu, Domingos da Guia, foi um zagueiro que tratava a bola de querida e adorava driblar os atacantes e sair jogando na maior tranquilidade. Pode se dizer que ele foi o precursor do Mercosul, pois jogou no Nacional de Montevidéu e no Boca Juniors de Buenos Aires, além dos clubes brasileiros. Domingos poderia ter ido para a copa na Itália em 1934 se os dirigentes não estivessem envolvidos em disputas dos clubes com a CBD.

Já o Diamante Negro, Leônidas, apreendeu a jogar futebol nas peladas na agora extinta Praia Formosa próximo à Ponte dos Marinheiros, filho de gente humilde e pobre do Bairro carioca de São Cristóvão. Em 1929, já jogava no São Cristóvão, depois de uma rápida passagem no Sírio Libanês, se profissionalizou no Bonsucesso em 1930.

Seu primeiro grande destaque foi na Copa Rio Branco quando em pleno estádio Centenário em Montevidéu venceu a seleção uruguaia marcando os dois do Brasil na vitória por 2 a 1. O sucesso dele foi tão grande que jogou no Penarol após a sua participação na copa de 1934 onde fez o único tento do Brasil na derrota para Espanha.

Mas será na França em 38 que o Homem Borracha, outro codinome dado pela imprensa francesa devido a sua flexibilidade de girar o corpo e acertar uma bola com o pé acima da sua cabeça, a famosa bicicleta,  realizará um feito que nem o Rei Pelé conseguiu, pois foi ao mesmo tempo o Chuteira de Ouro (artilheiro da Copa com 8 gols em 5 jogos) e o Bola de Ouro (melhor jogador da Copa).

Entrando na década de 40, ainda que as competições mundiais estavam suspensas pela Segunda Guerra Mundial, outra leva de jogadores vindos da classe trabalhadora vai conquistar os corações e a América até o fatídico dia do 16 de julho de 1950.

Como comprovação da sua qualidade, um dos maiores esquadrões de todos os tempos foi o primeiro clube brasileiro a vencer uma competição internacional no exterior, o primeiro torneio sul-americano de clubes em 1948 no Chile, a competição vovó da Libertadores. O chamado Expresso da Vitória superou os campeões do Uruguai, Nacional, da Argentina, River Plate, do Equador, Emelec, e da Bolívia, Litoral.

Esta maquina de vitórias de São Januário, seis vezes campeã carioca, três vezes invicta entre 1945 e 1952, foi a base da seleção que chegou ao jogo final no Maracanã contra o Uruguai na copa de 1950.

O selecionado contava com oito jogadores vascaínos, entre eles Ademir, o artilheiro com 9 gols, e junto com os craques Zizinho (atacante escolhido o Bola de Ouro da Copa), do Bangu, Jair, do Palmeiras, e o médio Bauer, do São Paulo. Estes quatro fariam parte da seleção dos melhores da Copa. Uma campanha memorável com 21 gols feitos e 4 gols sofridos em 5 jogos, duas goleadas, uma por 7 a 1 na Suécia e outra por 6 a 1 na Espanha. Chegando a partida final do quadrangular podendo empatar contra o Uruguai.

Infelizmente, o clima de já ganhou tomou conta do País. Os jornais do dia 15 de julho chamavam os jogadores brasileiros de “os campeões do mundo”, os dirigentes  mudaram a concentração da seleção, passando do Joá para São Januário, onde recebiam as visitas de políticos que queriam saudar os jogadores , ou seja, tirar fotos com eles e fazer “discursos motivadores”. O próprio técnico Flavio Costa pensava ser candidato a vereador nas eleições previstas para outubro daquele ano. Este técnico achou importante levar o time para uma missa na manhã do jogo como forma de preparação.

Durante a partida, quando o time sofreu o empate após de feito a celeste ceder 19 escanteios e ter conseguido abrir o placar no início do segundo tempo, um silêncio ensurdecedor tomou conta do estádio. O pior aconteceu aos 34 minutos quando o ponta direita Gigghia conseguiu meter uma bola entre a trave e o excepcional Barbosa, este grande goleiro carregou a culpa desta derrota por toda a sua vida.

Mestre Ziza impressionava pelo seu drible ziguezague, corria o campo todo, deixando a bola a domicilio para o atacante. Sua categoria se revela no fato de Pelé o ter como ídolo. A paradinha antes de cobrar o pênalti influenciou a forma que o Rei batia os seus. A derrota em 50 ofuscou o seu futebol.

As derrotas no Brasil em 1950 e na Suíça em 1954 forjaram o caráter da equipe brasileira na Suécia. Vários dos jogadores fizeram parte daquelas delegações e acabou sendo a única seleção sul-americana a vencer em uma Copa do Mundo Jogada na Europa.

Esta rápida retrospectiva busca mostrar quantos jogadores brasileiros foram dando ao futebol uma dimensão tão lúdica e envolvente para encantar não só o Brasil como o mundo. Eles deram as ferramentas e a capacidade para a geração constituída por Pelé a ser o modelo do futebol arte. Eles preparam a escada para que o menino de Três Corações alcançasse a realeza.

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