O filme da Barbie vem cumprindo muito bem o seu papel, fortalecer ainda mais o identitarismo, principalmente dentro da esquerda pequeno-burguesa. A boneca, que representa o ápice do conservadorismo norte-americano, agora está sendo usada de exemplo até mesmo pelos autoproclamados revolucionários. É o caso do youtuber Jones Manoel, que publicou em seu canal o vídeo “Do Pantera Negra à Barbie: a fabricação da subjetividade”. Neste, ele defende que os filmes ultra reacionários de Hollywood cumprem um papel progressista por “fabricar a subjetividade”, é uma típica posição identitária, que defende o monopólio imperialista do cinema e a toda a sua ideologia reacionária em nome da “representatividade” e “diversidade”.
Os filmes usados de exemplo são Pantera Negra e Barbie. O primeiro é um filme produzido pela Disney, um dos maiores monopólios de cinema do mundo, em que uma nação fictícia identitária é governada por um rei que é ajudado pela CIA para derrotar o seu inimigo. Este é um revolucionário que quer armar os negros da África para se voltar contra os países imperialistas. Todo o filme é uma grande propaganda reacionária, mas os negros estão no topo, então ele teria um impacto positivo. O mesmo vale para a Barbie, só que aqui a questão crucial seria a mulher. Nesse caso a Barbie não seria a tradicional loira que se importa com sua aparência, ela ganhou feições “feministas”.
Nas palavras de Jones: “Os fascistas ficaram muito irritados com a produção social liberal, pois de certa forma é uma destruição de seu mundo. Pode ser que para milhões de garotas do mundo pode ser que elas vejam que é possível que a mulher escolha o que ela faz na vida, é bem provável, na verdade. Do mesmo jeito que é possível e provável que uma pessoa negra tenha visto pela primeira vez o negro de forma positiva, o Pantera Negra no cinema.” Aqui está sendo colocado com todas as letras que a Disney ocupa um papel progressista, que defende o negro e a mulher. É absurdo que um marxista considere que um dos maiores monopólios do planeta seja uma força de progresso na sociedade. Mas Jones não é de fato marxista, é só mais um identitário.
Ele então fala que é preciso “ter cuidado com a crítica ao social liberalismo para não parecer que estamos negando em bloco tudo”. É uma desculpa para se defender o identitarismo. O verdadeiro marxismo sempre defendeu todos os oprimidos, a mulher, o negro e todas as minorias em oposição às ideias conservadores e reacionárias da burguesia, mas também em oposição às ideias consideradas mais liberais. Por exemplo, as mulheres do Partido Operário Social Democrata Alemão se colocavam contra o feminismo burguês, ou seja, embora considerassem o feminismo algo de progressista, apontavam o caráter burguês, portanto limitado, dessa ideologia. Mas tenhamos claro, o identitarismo não é um tipo de feminismo burguês, nem a Barbie do filme é feminista.
Para o youtuber, criticar o identitarismo seria algo difícil, pois poderia dar força ao fascismo. Na verdade, essa é mais uma versão da tese “democracia x fascismo”, que é justamente a principal ferramente do imperialismo para domesticar a esquerda. A “democracia” é, na verdade, o regime imperialista, o governo Biden, Macron e no Brasil o PSDB, o PSB, a Globo, o STF etc.
Ele continua: “Para mim é inegável que Pantera Negra, mesmo sendo uma narrativa reacionária de fundo, tem um impacto muito importante na subjetividade e na autoestima dos negros. Assim como filme da Barbie, mesmo com o feminismo liberal, tem um impacto importante na autonomia feminina.” Aqui se encontra uma tese totalmente idealista, típica do identitarismo. Que impacto tem filmes sobre a vida dos trabalhadores? O problema da mulher e do negro são materiais. Os filmes podem ter um impacto se eles fazem parte de um movimento, o filme de Fred Hampton, por exemplo, exalta a luta do negro. Outros filmes podem denunciar a situação da mulher e do negro. Mas os filmes da Disney passam longe disso. Eles são, pelo contrário, expressões ideológicas do imperialismo, que sustenta a opressão do negro e da mulher.
A tese identitária é absurda. Se as crianças assistirem o filme do Pantera Negra a PM vai deixar de entrar nas favelas atirando? Se as mulheres assistirem o filme da Barbie elas deixarão de ser escravas do lar? É possível se sentir “empoderado” se a sua situação material continua sendo de opressão? Essa tese da representatividade serve apenas como diversionismo, para levar a luta dos oprimidos para algo inócuo, ou pior, para apoiar os seus inimigos. Esse é o papel que a esquerda está cumprindo ao aderir ao identitarismo, servindo aos maiores inimigos dos trabalhadores.
Jones Manoel então expõe a ideia de que a campanha da burguesia de que o limite da luta contra o racismo é se achar bonito e cuidar do cabelo não é problemática em si, o problema é a esquerda não se organizar para levar essa luta adiante. É mais uma continuação da ideia de que o identitarismo é um aspecto progressista da burguesia. É uma capitulação ao imperialismo, dado que o youtuber supostamente é marxista. A análise de classe da sociedade coloca que o imperialismo é a força reacionária por definição, se é ele quem está por detrás do identitarismo esse é necessariamente reacionário.
Usando o próprio debate de Jones, o vilão de Pantera Negra de certa forma é um identitário, mas ele luta pelo armamento dos negros, pela união dos países da áfrica conta os “colonizadores”. Essa ideologia pode fazer parte de um movimento progressista, um movimento de libertação nacional. Aqui é pode-se fazer uma análise concreta, todas as nações que entram em conflito, o imperialismo não apresenta essa ideologia identitária. É o caso da China, da Rússia, do Irã, da Nicarágua, da Venezuela. Os governos pró imperialista, pelo contrário, são identitários, como Boric.
Vale a pena citar um último comentário de Jones Manoel para expor todo o seu direitismo: “os filmes da Barbie e do Pantera Negra formam a visão inclusive de gente que está organizada em ONGs, em vários espaços a ONG é o espaço de ação social ação coletiva.” Aqui sem necessidade nenhuma, ele coloca a relação direta das ONGs com esses filmes identitários. Fica claro que faz tudo parte do esquema do imperialismo, e Jones Manoel quer colocar um setor da esquerda que se autointitula marxista e radical como parte disso. É dessa forma que Barbie e Panter Negra cumprem um papel totalmente reacionário.