O jornal O Estado de S.Paulo, principal porta-voz conservador da burguesia brasileira e do imperialismo no nosso País, escreveu em editorial que “o ensino superior precisa se reinventar”. Não fosse o histórico e a atividade cotidiana desse monopólio da imprensa contra o ensino superior, poderíamos até mesmo concordar com ele.
“O ensino universitário, da forma como está estruturado, parece incapaz de despertar o interesse de uma parcela da juventude”, diz o veículo da família Mesquita. O principal sintoma que ajudaria a comprovar essa tese seria o da cada vez menor participação de estudantes nos principais vestibulares. Muitos jovens, afirma o jornal, trocam um curso de graduação por outros tipos de curso que lhes darão melhores oportunidades de trabalho.
“É nesse contexto que uma parcela da juventude deixa de perceber a universidade como a principal rota para a conquista do emprego. A perspectiva de passar três, quatro ou cinco anos na faculdade, não raro em estruturas engessadas nas quais uma disciplina é pré-requisito para cursar outra, desagrada a muitos jovens. Ainda mais diante do risco de obter o diploma e continuar desempregado. Ou de só conseguir emprego com baixo salário”, afirma o Estadão.
Somos os mais ardorosos críticos da estrutura burocrática da Universidade no Brasil. Como todo o aparato do Estado burguês, a Universidade serve para manter o domínio da burguesia sobre o proletariado, formar uma casta de intelectuais provenientes da burguesia e da pequena burguesia abastada e, sendo o Brasil um País oprimido, parasitar o Estado – inclusive no ensino superior privado – e impedir o desenvolvimento científico e tecnológico da nação.
A burguesia, da qual o Estadão é uma caixa de ressonância, portanto, não está interessada em modificar essa estrutura. Como já demonstrou inúmeras vezes ao longo de suas publicações, esse jornal busca aprofundar ainda mais o caráter antidemocrático da Universidade através da privatização do ensino superior, entregando de uma vez por todas a educação aos tubarões capitalistas. Essa é a ideia encoberta pelas palavras aparentemente sensatas do jornal.
A juventude não tem comparecido aos vestibulares. Mas o motivo seria aquele evocado pelo Estadão? Claro que não. O principal problema é que a juventude, ainda mais diante da crise capitalista que a assola mais do que aos outros setores já muito explorados da população, não tem perspectivas. Não encontra emprego, nem mesmo aqueles que concluíram a graduação ou mesmo o mestrado e o doutorado. Os capitalistas, para garantirem os seus lucros, tiveram de implementar uma política de terra arrasada, com demissões em massa em todos os setores no mundo todo. O exército industrial de reserva cresceu e, logo, o preço da força de trabalho foi rebaixado.
O vestibular é um filtro que serve exatamente para selecionar os membros das camadas privilegiadas da sociedade, garantindo-lhes o privilégio de entrar na carreira da burocracia universitária, primeiro como estudantes e depois como professores, pesquisadores e funcionários administrativos. O pobre, que teve de estudar e trabalhar ao mesmo tempo, que não tem computador nem acesso à Internet, que estudou a vida inteira em escolas sucateadas pelos governos neoliberais que destruíram o ensino público básico e médio, praticamente não tem chance de entrar em uma universidade pública. Isso o desmotiva.
Se o ingresso no ensino superior fosse livre, como nós reivindicamos, todos os estudantes teriam a oportunidade de cursar a universidade. Seria uma oportunidade real. A vaga do pobre estaria garantida. Além do mais, a universidade deveria ser um instrumento não de parasitismo, mas de desenvolvimento do País. Nesse sentido, deveria formar um verdadeiro exército de cientistas, técnicos, pesquisadores e especialistas que possam exercer sua profissão com total respaldo do Estado e a serviço da sociedade.
O valor rebaixado da força de trabalho, criado pela crise capitalista, faz com que os trabalhadores não encontrem empregos com salário digno. Nem mesmo o governo Lula, que acabou de assumir, elevou de forma suficiente o salário mínimo que, segundo o Dieese, deveria estar na casa dos 7 mil reais.
Nem precisamos dizer que a estatização do ensino superior e o aumento para 7 mil reais do salário mínimo são ideias radicalmente repudiadas pelo Estadão e pela burguesia a qual representa. O que eles defendem é o exato oposto, a implantação do neoliberalismo mais selvagem e genocida. Mas, como os capitalistas são mestres do cinismo e da propaganda enganosa, isso é disfarçado sob um discurso de bom-moço.