Por quê estou vendo anúncios no DCO?

Ascânio Rubi

Ascânio Rubi é um trabalhador autodidata, que gosta de ler e de pensar. Os amigos me dizem que sou fisicamente parecido com certo “velho barbudo” de quem tomo emprestada a foto ao lado.

Zanin no STF

A escolha de Lula

Identitários fazem coro com a burguesia e questionam escolha de Lula para o STF

A indicação do advogado Cristiano Zanin para o STF, na vaga aberta pela aposentadoria de Ricardo Lewandowski, vem ocupando a imprensa há algumas semanas. Ontem, ele foi submetido à sabatina no Senado, durante a qual foi confrontado com as “acusações” de “ser amigo pessoal” do presidente Lula e de não ter titulação acadêmica (mestrado ou doutorado), o que o descredenciaria para o exercício do cargo. A imprensa burguesa, com o auxílio dos identitários de plantão, acrescenta ao rol de supostos defeitos de Zanin a cor da pele e o gênero (?), quiçá a orientação sexual.

“Quem diz que raça, gênero e classe não importam para a boa magistratura precisa dizer por que raios escolher o 165º homem branco a ocupar uma cadeira no STF nos 132 anos da corte sinalizaria algo diferente do que se faz há séculos neste país”, lamenta-se o articulista Thiago Amparo, da Folha de S. Paulo, esquecendo-se da passagem de Joaquim Barbosa pelo cargo. Este, embora seja negro, foi acusado pela ex-mulher de ter cometido agressão física contra ela (ela retirou a queixa para que ele pudesse assumir a vaga na corte) e era dado a certos rompantes politicamente incorretos, como chamar o colega Eros Grau de “velho caquético”. Para piorar as coisas, foi o relator da Ação Penal 470, apelidada de “mensalão”, predecessora do que viria a ser a operação Lava Jato.

Alexandre de Moraes, não nos custa lembrar, foi o tucano amigo de Michel Temer, indicado para a vaga aberta com a inesperada morte de Teori Zavascki (ministro indicado por Dilma Rousseff) em acidente aéreo. Moraes, naquele longínquo 2017, teve direito a um ensaio de sabatina, pois, antes de ser questionado pela Comissão de Constituição e Justiça do Senado, foi recebido por oito senadores para um amistoso jantar em um barco atracado no lago Paranoá, em Brasília. Na embarcação, de propriedade do senador Wilder Morais, empresário ligado ao garimpo (então no PP de Goiás), ouviu as questões dos senadores 14 dias antes da sabatina oficial.

Mesmo assim, Alexandre de Moraes, que é professor da USP, detentor de títulos acadêmicos e autor de livros, teve de enfrentar na sabatina a acusação de plágio, detectado em vários de seus livros. Na falta de desculpa melhor, o magistrado teria alegado que os livros originais, dos quais foram copiados os trechos, constavam da bibliografia dos de sua autoria. A falta de aspas indicativas de transcrição literal faz que o trecho seja considerado plágio, sendo esse o “pecado mortal” da vida acadêmica. Mas, quem diria, em alguns anos Moraes se tornaria o “rei” do STF.

Zanin não foi padrinho de casamento de Lula, mas foi, isto sim, seu advogado nos processos da Lava Jato, os quais, com a ajuda da chamada “Vaza Jato”, foram desmascarados como a maior fraude jurídica dos últimos tempos, capitaneada por um juiz de primeira instância, Sergio Moro, a serviço de interesses escusos. Mesmo assim, Moro, hoje senador, integra a sabatina de Zanin, a quem cobra que declare suspeição no julgamento de processos da mesma Lava Jato. Não à toa, essa cobrança foi manchete da Folha de S. Paulo praticamente o dia todo ontem.

Moro, no âmbito do golpe de 2016 (“com Supremo, com tudo…”), foi o responsável pela prisão ilegal de Lula, recurso usado pela burguesia golpista para evitar sua eleição depois do desastre perpetrado por Temer. Como se sabe, o resultado do encarceramento de Lula foi a vitória eleitoral de Bolsonaro, já associado a Sergio Moro, que se tornaria seu ministro da Justiça já com a promessa de ser indicado para uma vaga no STF.

Depois da fatídica reunião ministerial na qual Paulo Guedes defendeu a abertura de cassinos e Ricardo Salles propôs que se aproveitasse a distração da imprensa com o noticiário da Covid-19 para “passar a boiada” (isto é, fazer passarem normas infralegais, que, diferentemente de leis, não precisam ser votadas e só requerem parecer de especialista), Moro foi afastado do governo. Na mesma reunião, Bolsonaro deu o aviso: “Ministro meu elogiado na Folha de S. Paulo está fora”. Valeu para Moro, embora não tenha valido para Guedes, fiador da burguesia financista até o fim do governo.

Segundo o articulista da Folha citado acima, “incomoda a muitos questionar as credenciais de Cristiano Zanin para o cargo porque para homens brancos competência é pressuposto, não algo a ser provado”. O autor mostra que segue à risca o clichê do movimento identitário, pondo em dúvida a competência de Zanin por ser ele um homem branco e heterossexual, em tese privilegiado por sua identidade. E vai além, fazendo coro com a empresa que lhe paga salário: “Ao nomear seu amigo e advogado pessoal para o mais alto cargo jurídico do país, Lula foi coerente na forma pela qual se ascende no direito e na política: o compadrio”. Caso Lula escolhesse uma “mulher negra” afinada com os interesses da burguesia entreguista, quem sairia beneficiado?

Thiago Amparo continua: “Pode-se fingir que raça, gênero e classe não importam, mas é difícil fazê-lo quando as cores da fotografia de quem se prende e de quem prende são tão distintas”. Ele pode estar certo quanto à análise das fotografias, sobretudo ao acrescentar o conceito de “classe”, que, embora subtraído do debate sobre racismo, está no cerne da questão. Como, todavia, falou em quem prende e quem é preso, poderia considerar que “quem prende” é o estado burguês e “quem é preso”, a depender dos interesses da classe cujos interesses são defendidos pelo estado, pode ser o candidato que poderia vencer as eleições e reverter o golpe de estado. Zanin, independentemente de sua cor de pele, “gênero” e orientação sexual, esteve do lado certo da história, o que parece ser a melhor das credenciais.  

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

Gostou do artigo? Faça uma doação!

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Quero saber mais antes de contribuir

 

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.