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Marcelo Marcelino

Membro Auditoria Cidadã da Dívida Pública (ACD) nacional, sociólogo, economista e cientista político, pesquisador do Núcleo de Estudos Paranaenses – análise sociológica das famílias históricas da classe dominante do Brasil e membro do Partido da Causa Operária – Curitiba.

Crise no regime

A crise estrutural do imperialismo na ordem neoliberal

O avanço das formas neoliberais na globalização econômica e financeira expressam o capitalismo na fase do imperialismo

No capítulo do livro a “Mercantilização da Educação no Paraná”, em parceria com Geraldo Horn e Paulo Lindesay, apontamos em uma de suas partes explicativas, para abordagens críticas acerca do que convencionamos denominar de modelo ultraliberal; sem antes chamar a atenção para seus antecedentes históricos, que periodizam a década de 1970, onde o neoliberalismo passa a ser construído como ideologia e prática da política econômica do imperialismo.

Do último quarto do século XX até o presente as contradições do capitalismo se revelaram ainda mais profundas a partir das imposições do modelo neoliberal com o consórcio imperialista EUA e Inglaterra nos governos Reagan e Thatcher e não por acaso o processo de degradação social se intensifica com a queda expressiva dos salários reais com aumento da pobreza nos próprios EUA a despeito dos avanços tecnológicos do período. A perda de fôlego das economias centrais durante a década de 1970-80 antecipou por uma necessidade de rearranjo dos sistemas tecnológicos e organizacionais a recusa da continuidade do keynesianismo fordista.

A crise estrutural do capitalismo após cerca de mais de duas décadas de crescimento e desenvolvimento econômico vigoroso desde o pós-segunda guerra a partir do braço estratégico do Estado como parte componente do capitalismo monopolista na fase imperialista mostra as contradições do sistema, que necessita destruir as formas que criam riquezas para reconfigurá-las em outras com diferentes dinâmicas e estratégicas políticas e de cunho social organizacional.

Na década de 1970 para o Brasil os planos nacionais de desenvolvimento da ditadura civil-militar-empresarial (PND I e II) foram a oportunidade com recursos externos de retomada do ciclo desenvolvimentista iniciado por Vargas com maior vigor no início da década de 1950 e interrompido com a crise política e econômica já no governo Jânio Quadros. Com o avanço da crise de esgotamento fordista de produção da década de 1970 a reconfiguração tecnológica dos países centrais no primeiro momento não atingiu diretamente os países periféricos dependentes a não ser pela transferência de grande parte da crise na forma de enormes déficits nas balanças comerciais, dívida externa explosiva com hiperinflação; particularmente o caso brasileiro.

Os EUA como o maior país estratégico do imperialismo, apesar de capitanear as transformações profundas no sistema foram um dos que mais sofreram internamente com a queda substancial da qualidade de vida na base dos empregos e dos salários reais como também das políticas públicas. A degradação social foi acompanhada também pela queda nos investimentos públicos em pesquisa e desenvolvimento, principalmente em setores onde o capitalismo não detinha tanto interesse, mesmo na indústria farmacêutica e de biotecnologia reconhecidamente um dos principais setores do capitalismo estadunidense.

Ao mesmo tempo que diversos setores do capitalismo envolvidos nas áreas da medicina como essas industrias cresceram e se desenvolveram nas últimas décadas, isso não ocorreu da mesma forma para algumas áreas desse mesmo setor, já que muitas das pesquisas em algumas áreas não foi acompanhada pelo mesmo interesse como pilar estratégico da acumulação em tempos de neoliberalismo.

O interesse do capitalismo por diversas áreas de investimento em pesquisa sempre esteve presente nas escolhas da lógica da acumulação, mas com o agravamento da crise estrutural do capitalismo e a voracidade do sistema pela aceleração do processo de acumulação esses investimentos passaram a obedecer a critérios de escolha ainda mais seletivos.

No imperialismo na fase da globalização econômica e financeira, a imbricação entre o Estado e o setor privado convergiu em interesses ainda mais amplos com estratégias de coesão ainda mais rígidos, diminuindo muito o poder do Estado em termos de concretização de políticas públicas para a sociedade, ao mesmo tempo aumentos orçamentários vultuosos para o grande capital combinando formas de salvaguardas institucionais como alicerce do sistema capitalista.

Essa é a principal característica do capitalismo monopolista de Estado na fase do imperialismo e que poderá conduzir a humanidade a catástrofes humanitárias como fome, doenças graves e guerras múltiplas como estamos observando no atual estágio nas sociedades capitalistas centrais e dependentes com a eclosão da pandemia da Covid-19. As disputas geopolíticas estratégicas entre o imperialismo capitaneado pelos EUA e o consórcio sino-russo (parceria China e Rússia) estão conduzindo, nos últimos anos, a uma série de conflitos e de golpes de Estado na América Latina, no Oriente Médio e na Ásia com maior frequência e truculência.

Associado a esse fenômeno um brutal aumento das mortes decorrentes da pandemia durante 2020-21 e o crescimento elevado do índice de pobreza nos EUA (país mais rico do mundo) refletindo sobremaneira na atual situação da crise estrutural do capitalismo.

Por outro lado, o naufrágio do modelo neoliberal e a própria crise estrutural do capitalismo não significam que os EUA e a classe dominante nacional e transnacional estão à beira do colapso, mesmo porque as formas mais reacionárias de ultraliberalismo investem no acirramento da luta de classes através dos próprios instrumentos político-institucionais em favor da concentração de mercados e capitais do imperialismo.

O avanço das formas neoliberais na globalização econômica e financeira expressam o capitalismo na fase do imperialismo e pela complexidade da correlação de forças no bojo das suas próprias contradições o sistema tende a gerar frequentes crises com acentuada concentração de riquezas e excesso de desigualdades sociais exacerbada pela pandemia da Covid-19. O mercado financeiro internacional exasperou as formas rentísticas de acumulação por intermédio do que Marx denominava de “capital fictício” e capital portador de juros” e criou a ausência quase completa de escrúpulos por parte das elites financeiras e da própria classe dominante, onde a “plutonomia” mencionada por Chomsky tornou-se lugar comum no “habitus” dessa classe social emergente.

Além de padrões de desvalorização do trabalho em termos de salários e condições contratuais nos países dependentes as políticas públicas são incipientes e de curto alcance, e ainda, deprimidas pelos baixos orçamentos destinados e também desviados seus recursos para a remuneração do capitalismo financeiro nacional e internacional como forma estratégica intensa de acumulação e reprodução do capital em escala global.

Contudo, por mais contraditório que possa ser no âmbito das tendências e contra tendências de uma crise cíclica apontada por Marx no Capital e em outros escritos, o imperialismo mostra mais do que uma fadiga nas suas engrenagens de reprodução e dominação, mas sim, além das formas mais reacionárias de superexploração do trabalho e do colapso da seguridade social iminente, uma concentração de poderes políticos e econômicos brutal, que cava um aprofundamento irreconciliável para a manutenção da ordem existente.

Artigo publicado, originalmente, em 21 de fevereiro de 2023.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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