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Bin Laden e o 11 de setembro

O que direita chama de “horror” é a reação heroica dos oprimidos

Colunista da Folha acha um horror que jovens compreendam os motivos que levam os povos árabes a pegar em armas contra o imperialismo, só os EUA podem matar as pessoas

O colunista da Folha de S. Paulo, João Pereira Coutinho, publicou artigo no último dia 20 de novembro com o título “Se as Torres Gêmeas caíssem hoje, Nova York apoiaria Osama bin Laden”.

O autor parece impressionado com a repercussão que a carta de Osama bin Laden teve entre jovens norte-americanos na semana passada, quando viralizou nas redes sociais. O comentário geral desses jovens era o de que compreendiam porque os árabes tinham tanto ódio dos Estados Unidos, o que justificaria o 11 de setembro.

O colunista da Folha, horrorizado, afirma: “Ninguém levou a sério. Não interessava se você era de esquerda ou de direita. Não interessava, coisa espantosa, se você era de extrema-esquerda ou de extrema-direita porque até esses radicais tinham uma reputação a defender. Osama era um maluco tentando justificar a morte dos ‘infiéis’. Ponto final, parágrafo. Manhattan ao longe, com uma das torres gêmeas já saindo fumaça e sangrando enquanto um avião se dirige para atacar a outra torre. Ó Deus, éramos felizes e não sabíamos! Quem diria que, duas décadas depois, a carta de Osama à América viraria sucesso no TikTok e restantes redes sociais?”

A colocação é tão fora da realidade que nos faz duvidar que o colunista viveu a época do 11 de setembro ou sequer pesquisou um pouco sobre o problema.

Em primeiro lugar, a extrema-esquerda, como ele diz, pode até não ter achado bonita a morte de milhares de pessoas, mas com certeza, qualquer pessoa de esquerda assistiu àquilo com o mínimo de compreensão da importância política da crise do poder mais devastador que a humanidade já viu que são os Estados Unidos da América.

Nos países árabes e muçulmanos, nem precisamos dizer, o povo saiu às ruas para comemorar.

No Brasil, por exemplo, desde o 11 de setembro de 2021, a figura de Bin Laden ficou tão famosa que até hoje encontramos sua imagem em camisetas de torcidas, em blocos de carnaval, em grafites nas ruas. Em suma, ainda que ao estilo brasileiro de ser, Bin Laden é uma das figuras mais populares das primeiras décadas dos anos 2000.

O colunista, logicamente, deve viver numa bolha em que os únicos contatos com a realidade são os cachorros de apartamento, a vizinhança histérica e o que dizem os jornais da burguesia, um deles a própria Folha de S. Paulo, para a qual ele escreve.

Outra coisa que precisa ser dita é que quando os norte-americanos decidiram invadir o Afeganistão e depois o Iraque, toda a esquerda denunciou a agressão e o uso do 11 de setembro como pretexto para tal.

Ou seja, o horrorizado colunista não tem ideia do que está dizendo. Ele diz: “Quem diria que, duas décadas depois, a carta de Osama à América viraria sucesso no TikTok e restantes redes sociais?”

Os jovens que se surpreendem com a carta de Bin Laden hoje o fazem porque não estão tão anestesiados pela manipulação do imperialismo como estavam muitos jovens na época. Ainda que, como dissemos, muita gente entendeu o que ocorria, a propaganda do imperialismo contra o “terror” era enorme, o que dificultava que amplas massas conseguisse compreender o real motivo daquele atentado.

Passados mais de 20 anos, a manipulação é menor e as pessoas estão mais livres para pensar.

Como exemplo, basta ver o que acontece exatamente agora na Palestina. O Hamas é chamado de terrorista por todos os jornais capitalistas. Há uma quantidade industrial de mentiras, calúnias e falsificações sobre o Hamas e os grupos de resistência. Mesmo assim, as massas estão nas ruas para defender a Palestina. Mas é claro que a propaganda caluniosa contra o Hamas dificulta que as entendam exatamente o que está em jogo.

Daqui a 20 anos, muito provavelmente a ação do Hamas de hoje será vista com muito mais tranquilidade como uma ação heroica, e é mesmo.

O horror do autor sobre a carta de Bin Laden não tem nada de apelo humanitário, como ele quer fazer crer. Na verdade, o autor é um defensor os interesses do imperialismo e acha um horror qualquer um que não concorda com os princípios “humanitários” e “democráticos” dos norte-americanos. Por isso, ele compara Bin Laden a Che Guevara:

“A geração Z está rendida a Osama como seus pais, provavelmente, estavam rendidos a Che Guevara. Não sei se há camisetas em fase de produção, mas eu, se fosse investidor, investia.”

Primeiro, como dissemos acima, camisetas de Bin Laden existem aos montes no Brasil. Não sabemos se existem nos EUA, mas se não é apenas porque a “democracia” lá impede que as pessoas se expressem.

A comparação com Che vem bem a calhar porque é justamente disso que se trata. O guerrilheiro argentino-cubano não tinha os mesmos métodos de Bin Laden, mas fato é que os dois têm o mesmo pecado: lutar por seus direitos e pelos direitos de seus povos. Isso, para o autor da Folha de S. Paulo, é motivo de horror.

E não estamos exagerando. O colunista realmente crê na campanha imperialista. Ele acha que os norte-americanos não são o problema da região:

Na carta, diz ele, “os ataques terroristas explicam-se com a presença americana no Oriente Médio e com o estado de Israel em terra muçulmana. Se americanos e israelenses fizessem as malas, aí, sim, haveria paz: os jihadistas sairiam das cavernas para abraçarem os irmãos sunitas ou xiitas, sem distinção, porque todos são filhos de Alá.”

Sim, se israelenses e norte-americanos (ambos são quase a mesma coisa) se retirassem, a paz talvez não reinasse na região. Mas com certeza seria muito mais fácil ter paz, afinal, basta colocar na balança os mortos causados pelos EUA e por Israel na região e os causados pelos árabes. Os sunitas e xiitas vão “se abraçar”, como diz o colunista todo cheio de preconceito? Talvez não, talvez sim. Mas fato é que se os povos do Oriente-Médio tivesse autonomia para resolver seus próprios problemas já teríamos um grande avanço.

Mas é preciso responder à pergunta do colunista sobre sunitas e xiitas. Será que o colunista sabe que o Hamas (sunita) está aliado do Hesbolá, da Jiade Islâmica (xiitas)? Ou seja, sim, é possível que sunitas e xiitas se abracem.

O colunista da Folha é um amante dos norte-americanos. O horror para ele não é o assassinato de civis ou atentados, ou explosões, como ele tenta convencer em seu artigo. O horror para ele é a luta contra o imperialismo.

Se os bombardeios, os assassinatos de civis, os atentados etc. forem feitos pelos norte-americanos em nome da “democracia”, aí não tem horror nenhum.

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