No ano de 2021, o imperialismo e a burguesia nacional deram um passo importante na transformação completa do futebol brasileiro em um ramo do mercado, isto é, de esporte de massas, parte integrante da cultura nacional para uma atividade, cujo fim é o lucro dos acionistas. Tratou-se da Lei nº 14.193/2021, conhecida como Lei da Sociedade Anônima do Futebol (Lei da SAF), capitaneada por Rodrigo Pacheco (PSD), atua presidente do Senado.
Essa lei permite a transformação dos clubes brasileiros em sociedades anonimas do futebol, o que significa que os clubes que aderirem poderão, por assim dizer, permitir que investidores ou fundos de investimentos adquiram a agora empresa, inclusive o patrimônio prévio dos clubes. Os investidores, nacionais e estrangeiros, controlaram diretamente o clube, podendo inclusive ter participação em mais de um (um mesmo investidor pode ser controlador do Palmeiras e ter ações do São Paulo, por exemplo).
Os clubes em sua maioria eram constituídos como associações sem fins lucrativos e regido pelo Código Civil brasileiro, no entanto, essa estrutura impedia a distribuição de lucros a acionistas, os capitalistas pressionaram e conseguiram abrir caminho para a transformação da estrutura legal dos clubes para atender a seus interesses. Torna-se evidente que será a destruição do futebol como esporte de massas para tornar-se um ramo do mercado, cuja única função é trazer lucro para os acionistas. A imprensa capitalista louva a iniciativa, como divulgadores dos interesses do imperialismo.
Defensores do SAF à direita e à esquerda
Há, no entanto, na própria esquerda, no sentido amplo do termo, que defenda tal iniciativa e mesmo a “excelência” de Rodrigo Pacheco na condução da matéria e, em geral. Num artigo deprimente publicado na imprensa burguesa e golpista, Juca Kfouri, destaca a “importância de Rodrigo Pacheco para o futebol brasileiro”, acrescentaríamos nos: para a destruição do futebol brasileiro. Segundo sua visão estreita, a SAF seria uma maneira de modernizar as estruturas organizativas dos clubes, dando mais vigor econômico, ou nem suas palavras:
“… condição necessária para o redirecionamento e resgate de uma atividade aprisionada em um modelo associativo que, com no máximo duas exceções, não tem mais condição de entregar as demandas do torcedor e da sociedade”.
A transformação dos clubes em empresas com capital aberto fará dos clubes tão ineficientes, quanto e ávidos por lucros como qualquer empresa privatizada que tem de oferecer um serviço a população, talvez ainda pior. O torcedor será completamente eliminado da vida e das decisões dos clubes, grandes grupos poderão controlar pedaços significativos do futebol, afora as falcatruas que essa medida engendrará. Os resultados já podem ser vistos em vários casos, o Coritiba está em vias de vender o SAF para um fundo brasileiro, Treecorp Investimentos, cujo, um dos conselheiros é o empresário Roberto Justus. Esse fundo está interessado em desenvolver o esporte das massas, melhorar o acesso das massas ao time, desenvolver os atletas, a arte ou apenas está interessado em um meio de adquirir grande lucratividade, cortando gastos e tolhendo o talento.
A burguesia imperialista transforma toda arte, toda graça, todo brilho no frio dinheiro, e é exatamente o que ocorrerá com o futebol brasileiro se não se levantar contra o domínio do capital sobre esse que o esporte mais popular do mundo e parte da cultura nacional. As torcidas já começaram a se levantar contra a dominação completa do capital sobre o futebol, como a Botafogo Antifascista (veja aqui). É preciso se mobilizar contra a iniciativa do capital e defender o futebol como parte da cultura nacional, pela sua democratização.
