A Folha de São Paulo lançou sua campanha publicitária em torno do mote de “furar a bolha e incentivar a diversidade de ideias”, dando a entender que, com seu suposto pluralismo de colunistas, seria um veículo capaz de fomentar o livre debate de ideias na sociedade. O mais curioso é que nem mesmo uma boa parte dos seus assinantes compra o engana-trouxa dos publicitários – a considerar a amostragem daqueles que fazem comentários abaixo da notícia no próprio site do jornal.
Segundo a matéria-propaganda, “sob o mote ‘Fure a bolha, assine a Folha’, o jornal convida todos a consumir fontes diversas e posições divergentes para evitar a armadilha do viés de confirmação”. Para quem não sabe o que seria esse tipo de viés, o autor do texto explica: “Ele ocorre quando ficamos predispostos a procurar conteúdos que corroborem nossas crenças pessoais”.
Convém destacar que esse jornal não tem leitores, mas, sim, “consumidores” – pois é esse o termo usado pela empresa. O próprio emprego dessa palavra já sinaliza que o jornal não quer promover debate nenhum na sociedade, mas apenas vender um produto “consumível”. Esse produto, no entanto, não é nem mesmo o noticiário, mas a opinião política da sua direção, à frente da qual está o banqueiro que enriqueceu com o Pag Seguro, empresa financeira cuja sede operacional fica na avenida Faria Lima, em São Paulo, mas cuja sede legal fica nas Ilhas Cayman.
Conforme o comentário de muitos de seus assinantes, a Folha é um jornal dirigido a uma “bolha”, a dos financistas da Faria Lima, como se depreende de seus editoriais e dos títulos enviesados das matérias, obra dos editores que, se preciso for, sacrificam o conteúdo da reportagem aos interesses políticos da direção. Os truques dos jornalões da imprensa burguesa, useira e vezeira em omitir e distorcer, estão todos liberados.
O mais curioso da matéria, embora não chegue a surpreender, é a explicação em tom didático de que bolsonaristas e eleitores de Lula constituíram na última eleição duas “bolhas”, que puxavam a brasa cada qual para a própria sardinha, “corroborando suas crenças pessoais”. Enquanto isso, na opinião do jornal, o debate de ideias deixava de ser feito.
Em suma, o campo de debate que furaria as bolhas de Lula e Bolsonaro, constituídas de “crenças pessoais”, seria o da Bolha de São Paulo, ou seja, o da terceira via. O espectro de colunistas “plurais” reflete a bolha da Faria Lima, que é liberal nos costumes, mas conservadora na economia. Em outras palavras, a bolha furada da Folha vai do identitarismo, que, dado o seu caráter cirandeiro, se passa por certa esquerda, à direita, excetuados os exageros de cunho religioso ou anti-LGBT.
Logo o “fura-bolha” da Folha é um truque de marketing, que, mais do que feito para vender jornal, é usado para acomodar psiologicamente grande parte de uma pequena burguesia despolitizada, que almeja o sucesso individual, mas gosta de se ver como gente “do bem”. A sociedade, no entanto, não está dividida em bolhas, mas, sim, em classes. Essa ideia, básica para o debate e para a luta política a ser travada, passa longe do “pluralismo” do jornal do banqueiro e de sua bolha de iluminados.