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Carla Dórea Bartz

Jornalista, com 30 anos de experiência (boa parte deles em comunicação corporativa). Graduada em Letras e doutora pela USP. Filiou-se ao PCO em 2022.

Arte e política

A Bienal colonizada

Arte colonizada é aquela alienada da conjuntura histórica e que serve aos interesses dos colonizadores

A arte tem função primordial na vida humana. Ela tem a capacidade de traduzir as contradições do momento histórico e impulsionar a transformação social e política.

Podemos perceber a contradição na intenção consciente do artista ou até mesmo nos problemas formais ou de conteúdo que ele gera ao tentar impor ao seu objeto convicções distorcidas.

Base de um certo espírito de mecenato da altamente comprometida burguesia paulista, a 35ª Bienal de São Paulo reflete essa contradição problemática.

Que tipo de arte é exibida em uma mostra que tem como patrocinadores a Fundação Vale do Rio Doce, o Banco Itaú, o Instituto Votorantim, a XP Investimentos, o JP Morgan, para citar alguns?

A arte que essas empresas dizem que é arte, claro, ou seja, arte burguesa.

No atual momento histórico, essa arte tem uma característica democrata.  Veja bem: não democrática, mas democrata. É uma arte que representa os ideais sociais do Partido Democrata americano, portanto, dos Estados Unidos.

E, no campo cultural, não há nada que mais caracterize esse ideal do que o movimento identitário.

Trata-se de uma mostra de arte totalmente afastada da realidade concreta para representar pseudolutas sociais ditadas pelo imperialismo.

(Lembrando que é o mesmo partido que apoiou o golpe de estado contra Dilma Rousseff e é o mesmo que apoia Israel contra a população palestina no momento).

Espalham-se pelos corredores instalações sobre negros, índios, mulheres, ecologia, trans, descolonização. 

Mate o homem branco dentro de você” é uma das frases em uma das instalações. Esse é o nível de luta na cabeça do artista que a escreveu.

Lembra a fala final do personagem Olmo no filme 1900, de Bernardo Bertolucci, que, coincidentemente, foi objeto do meu texto da semana passada.

O próprio nome da exposição parece tirado de um trabalho de conclusão de curso de um aluno pouco aplicado: Coreografias do Impossível.

Percorrem seus corredores rostos paulistanos que parecem acreditar, principalmente os jovens, na função “inclusiva” do que está sendo apresentado.

Não podem estar mais enganados. A 35ª Bienal de Arte de São Paulo apresenta uma contradição impossível de resolver: no vazio do seu discurso de “decolonização”, ela é a própria personificação de uma arte colonizada.

Como falei anteriormente, o que esperar do senso estético das corporações capitalistas e dos burgueses que o promovem? Vanguarda?

Há mais de 100 anos, os movimentos modernistas desafiavam o gosto burguês com explosões em todos os campos artísticos: no romance, na música, na pintura, na escultura, no cinema, no teatro, na arquitetura (que nos deu o próprio Niemeyer). 

Eram de vanguarda porque acima de tudo rechaçavam a burguesia, o fascismo, as guerras, o capitalismo, e buscavam conscientemente o rompimento com a ordem social estabelecida e com a forma burguesa de ver o mundo. Queriam estar no futuro.

Eles detestariam a “inclusão”. A “inclusão” não transforma nada.

E nós somos o futuro deles, não é?

Agora, os artistas se conformam em representar suas próprias ambições baseadas no individualismo, no carreirismo de estar ali e, portanto, de terem sido “incluídos” pelos critérios impostos por seus patrões. 

Em alguns casos, o narcisismo é explicitamente vazio.

Interessante notar a presença de movimentos sociais que, claro, “ocupam” o espaço do pavilhão para nos lembrar da aliança fraterna e histórica que existe entre o capital e o trabalho.

É o caso da cozinha da Ocupação 9 de Julho e de suas faixas com palavras de ordem, como “Alimentar a luta” (foto), ao lado do logo do banco JP Morgan.

Para não ser injusta, faço menção à grande escultura do artista filipino Kidlat Tahimik. Feita em madeira com múltiplas peças e representando diferentes cenas, a obra tem o sugestivo nome de “Killing us Softly” (Nos assassinando de maneira suave, em tradução literal). 

Mostra o cinema americano como uma arma de destruição simbólica de culturas. Uma das esculturas mostra pequenos homens-aranha saindo de um cavalo de Tróia (foto).

A denúncia do imperialismo é evidente e transforma o personagem da Marvel em algo sinistro, como um parasita alienígena. Para o jornal O Globo, é só uma ironia à massificação pop. 

Há outras obras anti-imperialistas também, o que pode apontar que o tema voltou de fato e que não é possível controlar tudo.

No entanto, no geral, a Bienal é a triste representação da dependência cultural decadente da burguesia brasileira aos valores americanos identitários e da capitulação passiva dos demais agentes sociais brasileiros que os aceitam.

* A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião deste Diário

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