É bem conhecido que o monumento no topo do túmulo de Karl Marx, no pedestal abaixo de sua cabeça gigante, contém a tese de que os filósofos só tinham interpretado o mundo de maneiras diferentes; era uma questão de transformá-lo.
Quem pega o primeiro volume de O Capital e começa a ler, percebe quase imediatamente que o autor está depositando, com base científica, um colossal corpo de conhecimentos econômicos.
E como qualquer esforço monumental, Marx começa por definir a epistemologia que orientará seu esforço. Com isso, estabelece o que são chamadas de categorias, e que os cientistas naturais falam de variáveis que serão relevantes para o que está sendo estudado.
Após as definições vêm os teoremas. E Karl Marx fez tudo isso partindo do pressuposto de que a realidade objetiva determinou o resto das coisas, e o fez, a realidade, na dinâmica em constante mudança de sua existência.
Chamamos isso de materialismo dialético, e se formos coerentes com ele, teremos que entender que, na ciência, a verdade é buscada a partir da realidade e verificada nela, e não em encontros mais ou menos esclarecidos.
A ciência não se faz como os antigos gregos, quando o materialismo ou idealismo, igualmente, não ia além do reino da especulação, e o destino do debate era determinado pelo carisma daqueles que ali debatiam, ou pela preparação dos adversários. A verdade é que, tudo considerado, a filosofia não tinha ido muito além deste estado de coisas.
Aqueles próximos a ele dizem que Karl Marx mergulhou dia após dia, semana após semana, mês após mês, na biblioteca britânica, vasculhando os livros de contabilidade da empresa. Como o cientista que era, procurou aquela realidade objetiva que tinha sido medida e refletida nos livros, a fim de chegar a certezas a partir da sua análise.
E Marx não foi uma pessoa que se retirou da polêmica, mas ela, em sua própria função social, serviu para contrastar as hipóteses que surgiram e que finalmente tiveram que ser confrontadas novamente com os dados que refletiam a realidade externa à subjetividade dos indivíduos.
Karl Marx foi declarado morto em 14 de março. Desde então, o ato de matá-lo tem ocorrido repetidamente, muitas vezes, poucas vezes demais para seus algozes.
Mas a realidade é que, quando deixamos de acreditar nele, permanece à nossa frente. O ato consecutivo de eliminá-lo só fala do fracasso sistêmico em alcançá-lo.
Ouso afirmar, contra a evidência da imagem, que a cabeça de Karl Marx no pedestal do cemitério de Highgate, está sorrindo.
Fonte: Granma