Copa do Mundo rolando e estamos às voltas com batalhas ideológicas. A esquerda em peso aderiu ao boicote ao Catar, pois se trata de um país machista, que oprime a mulher, que teria matado 6.500 trabalhadores nas obras para a Copa etc. Desta vez, duas figuras conhecidas da esquerda: Zé Reinaldo de Carvalho (PCdoB) e Breno Altman (PT), cada um a seu modo disse que não torcerá pelo Marrocos, que jogará contra a França.
José Reinaldo escreve em sua conta no Twitter “Em solidariedade ao povo do Saara Ocidental, oprimido pela monarquia reacionária marroquina, não posso torcer por Marrocos”. Enquanto Altman gasta um pouco mais de tinta para se justificar: “Não faz sentido, por “anticolonialismo”, torcer por Marrocos contra a França. Eu o faria se fosse o Vietnã, talvez o Senegal, mas as elites marroquinas, que controlaram a independência do país, são as mais pró-imperialistas e antipopulares do Magreb, a começar pela monarquia”.
O cenário que temos é o seguinte: um país atrasado, do norte do continente africano, contra uma potência imperialista. A favor de quem devemos torcer? Se temos que ser solidários com povos oprimidos do Saara Ocidental, por que não o seríamos com um país que é oprimido pelas potências imperialistas?
O Talibã oprime as mulheres
Um caso típico dessa confusão tivemos no caso da derrota do imperialismo no Afeganistão. Toda a esquerda chorou suas lágrimas de sangue quando os invasores deixaram Cabul em uma cena que lembrou muito a fuga dos americanos de Saigon.
O Afeganistão é um país atrasado, essencialmente agrário e pastoril, dividido em tribos, com costumes arcaicos. A situação da mulher não é boa, efetivamente. Por outro lado, quem é o maior obstáculo para o crescimento do Afeganistão?
Foram 20 anos de invasão que jogaram a população na mais completa miséria, e existe a expectativa de que 9 milhões de pessoas, sedo um milhão de crianças, deverão morrer de fome ali apenas neste ano, devido ao bloqueio econômico imposto pelo imperialismo.
Um dos fatores de crise entre a União Europeia e os Estados Unidos, após a derrota, foi o fato de terem ficado sem nenhuma posição importante na Ásia Central. Os Estados Unidos, o principal país imperialista da OTAN, gastou, sozinho, US$ 3 tri nessa guerra. Toda essa montanha de dinheiro foi gasta para manter o Afeganistão debaixo da bota. A situação das mulheres, que não era boa, virou um verdadeiro inferno sob a dominação “democrática”.
Tudo o que temos a fazer é apoiar o Talibã, esse regime retrógrado, que fez a façanha de, praticamente sem recursos, derrotar os exércitos mais poderosos do planeta. Aqueles que dizem estar contra a opressão das mulheres afegãs e desejam a permanência das tropas “civilizatórias” no país estão contra as mulheres, ainda que digam o contrário. Claro que existem os ‘espertos’ esquerdistas que pregam o ‘Fora todos eles’. Como se fosse possível, em um passe de mágicas, expulsar a OTAN e o Talibã do Afeganistão.
É preciso, sem meias palavras, apoiar o Talibã, pois eles, em relação ao imperialismo são progressistas. Sua vitória, inclusive, está servindo de inspiração para outros povos se levantarem do domínio brutal do imperialismo.
As faces de colonialismo
Teríamos de perguntar a Altman, por que “não faz sentido, por “anticolonialismo”, torcer por Marrocos contra a França” e que “o faria se fosse o Vietnã, talvez o Senegal”? Ora, Guerra do Vietnã não é o único modelo de colonialismo. O Brasil mesmo, embora não tenha sido invadido pelos EUA, é tratado como colônia.
O que pretende a Europa, e os Estados Unidos, muito ‘civilizados’, com relação às ‘mudanças climáticas’? Usarão esse subterfúgio para sancionar produtos brasileiros. Comprarão carne apenas se a área de pasto utilizada para a criação do gado de corte não for produto de desmatamento. O curioso é que esses países não sancionam o minério retirado da Amazônia por mineradoras estrangeiras altamente poluidoras. Vão fechar os olhos para todas as Marianas e Brumadinhos e multar todo o resto, de acordo com as conveniências, claro.
Breno Altman, diz que “as elites marroquinas, que controlaram a independência do país, são as mais pró-imperialistas e antipopulares do Magreb, a começar pela monarquia”. Certo, e isso nos leva a quê? Saddam Husseim era um colaborador do imperialismo, e isso não impediu que o levassem à forca. Não sem antes destruírem o país. Destruíram a Líbia que tinha um governo reacionário, devemos comemorar? Não existe qualquer garantia para nenhum país a partir do momento em que o imperialismo achar que deve tomar posse de suas riquezas.
A Rússia, um país muito mais poderoso que o Marrocos, está sendo assediado pela OTAN porque interessa ao imperialismo se apossar das jazidas de petróleo, gás natural e titânio russos. Porém, o que mais ouvimos é que Putin não passa de um tirano, homofóbico, que aprovaram leis que oprimem os LGBTQIAP+. Porém, a vida dessas pessoas não vai melhorar em nada, vai piorar em muito, caso o imperialismo entre em uma guerra franca contra a Rússia e consiga dividir seu território em quatro ou três repúblicas.
Vimos o que fizeram com a Ucrânia, empossaram um governo títere e financiaram e treinaram batalhões nazistas, em que isso melhorou a vida das minorias? Para piorar, o governo entrou em uma guerra por procuração que já deve ter custado a vida de pelo menos 300 mil pessoas. O governo já colocou 50 mil mulheres no exército, 10 mil na linha de frente. Para aqueles que se importam de verdade com as mulheres, é bom ficar atento com esses números.
Derrotar o imperialismo
Os países imperialistas, como a França, devem ser derrotados, não importa se no futebol ou no campo militar. Esse país tem feito estragos enormes no Mali, por exemplo, participou da destruição do Iraque. Tem participado da guerra disfarçada contra a Rússia, mandando para a morte centenas de milhares de ucranianos, gastado bilhões em vez de socorrer a própria população.
A nós, da classe trabalhadora, interessa a derrota do imperialismo, pois são nossos maiores inimigos. Devemos comemorar a vitória do Marrocos do mesmo modo que os povos oprimidos torceram pelo Brasil e festejaram a cada vitória. Foram os mesmos que sofreram com a derrota indevida. O futebol brasileiro representou cada nação atrasada, cada povo pisado pelas grandes potências. Por isso o Marrocos deve ter nosso total apoio.