O quadro está mais claro a cada dia, a burguesia nunca desistiu da “terceira via”, nome dado ao esforço mobilizado em torno dos setores mais tradicionais da direita no Brasil. Uma tentativa que substituir o trapalhão Bolsonaro, que precisa ser controlado o tempo todo e ainda assim consegue criar problemas extras para a burguesia em meio a um contexto econômico complicado em nível internacional.
Um editorial desta terça-feira, publicado pelo jornal O Estado de S. Paulo, aponta que essa política está a pleno vapor na curta corrida eleitoral de 2022. Com o título de “Um debate muito útil”, o jornal que costuma atuar como farol ideológico da burguesia brasileira apresenta os pontos principais que serão explorados na cobertura das eleições pelo monopólio das comunicações.
Caracterizando a participação dos principais candidatos de maneira absolutamente negativa, “incontestável”, O Estado de S. Paulo afirma que nenhum dos dois traz “propostas para os problemas do País”. Sobre Lula, o jornal golpista atribuiu sua inocência jurídica a meros “erros do Ministério Público e da Justiça”, reforçando qual será o tom da campanha contra o petista ao citar “a inegável corrupção do PT” e “o rombo das estatais”, caracterizados como “escândalos de corrupção que marcaram para sempre as gestões petistas”.
Em relação a Bolsonaro, o editorial citou obviamente a forma truculenta com a qual ele interage com as mulheres. Citou ainda uma lista muito enxuta dos escândalos de corrupção envolvendo o seu candidato de 2018, dando a deixa de que ainda conta com o ilegítimo presidente como plano B contra Lula. A diferença no tom adotado em relação ao petista é bastante explícita, Bolsonaro teria que explicar alguns episódios ocorridos no seu governo, já Lula teria a tarefa impossível de justificar tudo o que a imprensa golpista apontou como crimes do PT, inclusive as acusações que já foram desmascaradas como farsescas.
Agora, voltemos ao título do texto “Um debate muito útil”. Após uma longa caracterização dos candidatos que representam a polarização real que se desenvolveu no país a partir do golpe de Estado de 2016, O Estado de São Paulo teceu breves elogios aos candidatos da terceira via Ciro Gomes e Simone Tebet. Breves, até porque teriam que ser bastante criativos para descrever porque diabos a participação deles seria tão positiva assim.
O elogio a Ciro Gomes demarca seu papel da disputa atual, roubar votos da esquerda. Segundo o editorial, “o candidato do PDT deixou claro que a pretensão de hegemonia de Lula sobre todo o campo da esquerda é antidemocrática” e que o PT “exige um cheque em branco do eleitor”. Ou seja Ciro será apresentado como um esquerdista inconformado com a “corrupção do PT” e com a sede de poder de Lula, criticando em menor escala Bolsonaro.
A caracterização de Tebet é de outra ordem. Num parágrafo bem enxuto, o jornal golpista opõe Tebet a Bolsonaro e Lula de forma até romântica. Diante dos “arreganhos desrespeitosos” do atual presidente, ela teria enfrentado Bolsonaro com “altivez”; diante das “fabulações de Lula”, rebatido o petista “com segurança”. Numa atuação que teria apresentado a latifundiária como “alternativa racional e pacífica” ao Brasil.
O editorial conclui finalmente que o debate teria servido para mostrar que o país tem alternativas à polarização, apresentada como sendo entre o “passado corrupto e incompetente do lulopetismo” e o “presente indecoroso e reacionário do bolsonarismo”. Defendendo abstratamente a “liberdade” do eleitor, o jornal golpista representa o exato oposto disso. Integrando um monopólio capitalista no setor das comunicações, O Estado de São Paulo é na verdade inimigo mortal da liberdade de expressão. Liberdade de expressão que por sua vez atrapalha bastante a campanha para eleger um novo Collor.