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Eduardo Vasco

Militante do PCO e jornalista. Materiais publicados em dezenas de sites, jornais, rádios e TVs do Brasil e do exterior. Editor e colunista do Diário Causa Operária.

Guia para os petistas

Sugestões para a propaganda de Lula na TV: como atrair as massas

Algumas dicas para que a campanha televisiva e na Internet seja uma verdadeira arma contra Bolsonaro

Certamente os membros da equipe de campanha de Lula devem estar discutindo freneticamente há muito tempo as estratégias para realizar a melhor propaganda possível, principalmente na televisão e no rádio ─ meios pelos quais se alcançará a maior parte do público.

Mas há erros em que essa equipe vem insistindo. Aqui não quero ser o dono da verdade e estou apresentando apenas uma opinião pessoal, ao assistir a analisar as trinta últimas peças propagandísticas da campanha lulista na TV e na Internet. Também considero, como o meu Partido, o PCO, que o mais importante de tudo neste momento é que o PT realize uma campanha militante de porta em porta, olhando no olho do trabalhador, para conquistar os votos suficientes para que Lula seja eleito presidente.

Mas vou me ater à propaganda televisiva. Aqui, portanto, apresento algumas considerações após tomar nota com observações sobre o que deveria ser feito (possivelmente a equipe de campanha de Lula ─ infestada de direitistas e identitários ─ não levará em consideração essas sugestões, mas não custa dar os meus palpites).

A campanha não tem uma identidade visual. Ela não se diferencia das propagandas dos candidatos burgueses. Não tem cor. Ou melhor, suas cores são as do PSDB. O azul e o amarelo estão sendo utilizados de forma muito exagerada, incluindo na apresentação do número do PT, o 13. O partido sempre foi identificado com o vermelho e essa mudança apenas prejudica a propaganda petista, pois confunde o eleitor. O mesmo vale para a aparição de personagens da direita nas telas, como Geraldo Alckmin, Simone Tebet e Marina Silva ─ essas pessoas são detestadas pelo povo, Alckmin é amplamente conhecido como o “ladrão de merenda” e responsável por destruir São Paulo.

TEM QUE TIRAR O ALCKMIN, SE NÃO VAI PERDER VOTO AO INVÉS DE GANHAR

A cor do PT, o vermelho, é a cor mais atraente de todas, a mais chamativa, a mais poderosa e impressionante. Logicamente que não é por esse motivo que ela é a cor do socialismo, do comunismo e do movimento dos trabalhadores, mas os bolcheviques foram os primeiros a explorarem isso para efeitos propagandísticos. E deu tão certo que os nazistas os imitaram, atribuindo ao partido nacional-socialista e à bandeira do III Reich exatamente a cor vermelha, a cor dos seus inimigos, mas que era a melhor em termos de propaganda e de demagogia com a população. Qualquer estudante de Publicidade e Propaganda sabe disso. Portanto, o PT deve substituir as cores que não são as suas pelo uso reforçado do vermelho.

Todo o mundo que trabalha com vídeos para a Internet também sabe que os primeiros 5 segundos são os mais importantes, porque é aí que o espectador vai decidir se continua ou não assistindo ao vídeo. Logo, o início do vídeo tem que ser de grande impacto tanto visual como auditivo, para chamar a atenção e logo em seguida prendê-la e não deixar o indivíduo escapar. Além do impacto visual e auditivo, que poderia ser agressivo no sentido de verdadeiramente impactante, é preciso que nos primeiros segundos o espectador já possa entender do que se trata a peça. 

Não é o que tem sido feito nos vídeos da campanha de Lula. Por exemplo, eu assisti a uma propaganda com os Gilsons (que nunca ouvi falar, talvez seriam eles os Simpsons brasileiros?) e fiquei 10 segundos sem saber do que se tratava. Só depois desse tempo (que muitos espectadores certamente não aguardaram e foram embora) é que se percebe que há uma crítica ao governo na fala de um deles e que outro está fazendo o “L” com a mão. Somente após 30 segundos é que se fala no nome de Lula. Essa propaganda não atrai a atenção de ninguém.

Em algumas das propagandas vemos uma moça como apresentadora. O ideal seria que fosse alguém muito famoso. Poderia ser algum ator ou cantor petista, uma figura histórica do PT, enfim, alguém muito conhecido pelas massas. Atrairia grande atenção do público, muito mais do que atraem essas propagandas atuais.

Com relação ao uso de famosos, as peças da campanha de Lula ainda não acertaram. Uma delas que mostra os artistas e famosos é muito precipitada na apresentação dos apoiadores de Lula, a velocidade é tão grande que não dá tempo de o espectador processar quem é tal ou qual artista que está apoiando o petista. Em outra, Chico Buarque narra o vídeo mas sua cara só aparece no final. Tudo bem que ele é um cantor e muitas pessoas irão conhecê-lo pela voz, mas se o rosto dele aparecesse no começo chamaria mais atenção. Os artistas deveriam ser mais bem aproveitados nas propagandas. Elas deveriam utilizar imagens dessas pessoas populares ao lado de Lula, cumprimentando-o e abraçando-o, assim como a campanha está fazendo com o Papa Francisco (e também chegou a fazer com Macron e Bush…). Deveria-se usar e abusar do apoio dos famosos (dos verdadeiros famosos, daqueles conhecidos e admirados por milhões de pessoas, e não de gente conhecida apenas por um nicho identitário por pura demagogia).

Com relação a isso, não é bom apresentar com frequência depoimentos de pessoas esquisitas. Sim, esquisitas. Pessoas que pareçam estranhas à maior parte do público-alvo. Em outras palavras, chega de mostrar identitários vendedores de miçanga. Essa não é a cara do povo brasileiro em geral. Serve apenas para fazer uma média com a pequena burguesia identitária.

Quem Lula quer ganhar para si? A grande massa de eleitores de Bolsonaro que antes votava no PT. E esses são parte de um setor popular, que foi beneficiado por programas sociais demagógicos e insuficientes que Bolsonaro faz uso apenas para ganhar esse voto. Pessoas do povo, que não se parecem com hippies. São trabalhadores, pobres, nordestinos, banguelas etc. Essas pessoas devem falar e apresentar seu depoimento do porquê votarão em Lula.

O depoimento dessas pessoas causa também uma empatia maior no público. Ele se enxerga ali. Causa, inclusive, um efeito mais emotivo quando uma pessoa que é trabalhadora, pobre, nordestina, desdentada etc. vê seus iguais dando sua opinião. Eu tendo a me emocionar com certa facilidade com imagens das pessoas simples e humildes abraçando Lula, chorando de emoção ao o verem, pois ele foi o único na história que fez alguma coisa por essas pessoas. As imagens dos “lulaços” com o Trompetista e o povo comum cantando “olê olê olá Lula Lula” são emocionantes e deveriam ser muito utilizadas. Elas são uma demonstração da consciência de classe dos trabalhadores, dos pobres e dos oprimidos. Com certeza muita gente que ver essas imagens na propaganda eleitoral vai também começar a cantar a música.

Algo que encontrei que poderia se assemelhar com essa tática é uma propaganda onde Lula relembra os ensinamentos de sua mãe e visita uma reprodução da casa onde nasceu. É uma boa ideia porque reforça que Lula é um candidato diferente dos tradicionais políticos burgueses, pois ele veio do povo e teve uma vida humilde e pobre ─ igual à da maioria dos brasileiros. A trilha sonora deveria ser copiada para outras propagandas, porque ela também reforça a emotividade das cenas.

Comparada com as outras peças que vi, essa de cima é relativamente boa. Porque destaca a parte humilde de Lula e também apresenta quem é Bolsonaro. Infelizmente, na maioria das vezes o PT tem apostado nos ataques morais e não materiais. O equívoco desse pensamento chegou ao ponto de acusar Bolsonaro de defender o direito ao aborto! Ou seja, de defender algo positivo, um direito democrático, reivindicação histórica do movimento feminino e que quase metade da população apoia, conforme pesquisa divulgada em setembro pelo Instituto Ipsos.

É preciso destacar, isto sim, os problemas vitais do povo trabalhador ─ comida, emprego, salário, saúde, educação, moradia etc. Mostrar as imagens absurdas de pessoas pegando osso ou lixo para comer (isso causa muita perturbação, portanto deve ser bastante utilizado para dizer que a culpa é de Bolsonaro e da política neoliberal). Em dois casos que vi, Lula escorregou feio. No primeiro sobre o salário, a proposta era genérica: “salário mínimo forte”. De quanto? Tem que haver propostas concretas, o mais concretas possíveis. No segundo, um entregador de aplicativo perguntava o que Lula faria por eles. “Vamos tentar rediscutir”, “não se preocupe, nós vamos encontrar uma solução”. Seria melhor não responder. Mas já que a própria equipe de propaganda inventou essa situação, a resposta deveria ser algo como: “vamos retomar a CLT que Bolsonaro e a direita rasgaram e os trabalhadores de aplicativo terão todos os direitos garantidos pela Constituição à classe trabalhadora.”

Ainda com relação aos ataques contra Bolsonaro na propaganda, as manchetes de jornal e frases de efeito devem ser muito maiores graficamente, pois quando vi pela TV sequer consegui enxergar o que estava escrito (imagino que os outros espectadores também tiveram dificuldades ou nem puderam ler). Além disso, não adianta falar que Bolsonaro foi um “mau militar” ou um “deputado omisso”. Isso é coisa que a mãe dele já deve ter falado para ele. Se Lula é seu adversário, deve ser agressivo. Deveria fazer uso muito amplo dos vídeos em que Bolsonaro aparece elogiando a ditadura militar, o coronel Brilhante Ustra, Pinochet, Stroessner do Paraguai e mostrar com imagens, informações, dados, números e depoimentos que tudo isso que Bolsonaro admira foram as piores coisas que já ocorreram com o Brasil e com a América Latina. Também as imagens de Bolsonaro xingando Maria do Rosário e uma peça especial acerca da política bolsonarista contra as mulheres. Bem como a questão das privatizações, da fome, do desemprego, da pobreza, da inflação. Tudo isso deveria ser didaticamente relacionado com Bolsonaro através de associações visuais e auditivas.

Se Lula quer abocanhar uma parcela do eleitorado bolsonarista, então é preciso mostrar as contradições nos discursos e na prática de Bolsonaro. Como pode defender a família quando a polícia (a qual Bolsonaro tanto promove) mata os filhos da classe trabalhadora, negra e favelada? Se a fome causada por Bolsonaro é responsável pela destruição dos lares? Se o mesmo pode ser dito do extenso uso de drogas por uma juventude sem perspectivas? A família que Bolsonaro defende é a sua própria, por isso colocou quase todos os seus parentes em cargos públicos para também desfrutarem a “mamata”. Bolsonaro se diz patriota mas presta continência para a bandeira dos EUA, para John Bolton, assina acordos subservientes (usar a foto com Trump atrás de Bolsonaro, sorrindo com seu vassalo, na Casa Branca) ou entrega a Base de Alcântara. É um cristão a favor da vida mas defende as torturas da ditadura, as execuções da PM, o massacre no campo. São muitas contradições que o PT deveria explorar em suas propagandas. Isso sim é que “vira voto”.

O que Lula e os petistas devem ter em mente é que não se trata apenas de vencer Bolsonaro nas eleições. Trata-se de realizar uma campanha ideológica e de mobilização popular que desmoralize e desacredite Bolsonaro e o bolsonarismo. Porque após as eleições, o bolsonarismo continuará existindo. Portanto, é necessário desde já convencer a população de que o bolsonarismo não levará a lugar nenhum, a não ser à completa submissão dos trabalhadores ao imperialismo. É preciso vencer Bolsonaro politicamente, não apenas eleitoralmente.

Nesse sentido, meu último apontamento com relação às propagandas televisivas de Lula é que utilize as imagens dos atos populares. Isso tem sido feito em pequena escala, com cenas de comícios recentes. Mas deveria ser feito de forma insistente, para mostrar o tamanho da popularidade de Lula (o índice de 83% de aprovação ao término de seu segundo mandato também deveria ser muito explorado). São horas e horas de arquivo na Internet com vídeos de manifestações de massa por Lula Presidente (puxadas pelo PCO e pelos Comitês de Luta há muito tempo), bem como por Fora Bolsonaro (idem). Ao mesmo tempo que comprovaria a sua popularidade, uma propaganda nesse sentido mostraria o quão Bolsonaro é impopular, apesar de toda a compra de votos e do apoio da burguesia. Essas imagens demonstrariam ao público o que é que o povo realmente quer. Afinal, não basta apenas ser popular. É preciso mostrar sua popularidade. E há muito material visual que comprova essa popularidade.

Mas se uma coisa deve ser compreendida, é esta: a campanha eleitoral de 2022 é altamente polarizada. Por isso é necessário polarizar, radicalizar. Mostrar quem é o candidato do povo e quem é o candidato antipopular, dos inimigos do povo. Lula foi derrubado pela burguesia, pelo imperialismo, pelo PSDB, por Michel Temer. E temos fotos de Bolsonaro juntinho de Temer.

Enfim, é fácil jogar merda em cima de Bolsonaro e confete em cima de Lula. Basta saber fazer.

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