Agora, passado o segundo turno com, a vitória de Lula (PT), o presidente eleito não deu grandes sinais de ceder às reivindicações dos bancos. Pelo contrário, exige para o governo, na lei orçamentária, a disposição de R$200 bilhões para o ano que vem, com objetivo de cobrir suas promessas de campanha para os trabalhadores, contemplando salários, geração de empregos, saúde e educação. Frente a isso, a imprensa burguesa passou a pressionar com tudo o futuro governo, desatando às falas sobre a chamada responsabilidade fiscal, e os humores do mercado (ou seja, banqueiros).
Afinal, do que se trata a responsabilidade fiscal eles pouco falam abertamente, mas usam termos não familiares da população para pressionar por suas vontades antipopulares sem levantar a revolta generalizada que viria com tais colocações. A imprensa burguesa fala ainda em credibilidade da política econômica, sustentabilidade fiscal, racionalidade econômica. Tudo uma forma de ocultar o que se quer dizer: restringir os gastos do Estado, seja com o povo, na assistência social, previdência, direitos sociais em geral, seja no desenvolvimento econômico, com fomento à indústria, empréstimos a juros baixos para favorecer as empresas nacionais, etc. A imprensa burguesa busca ocultar esse caráter mas, em seu desespero por exigir de Lula uma política econômica neoliberal, têm mostrado o que defendem.
Em coluna no Estadão, é colocado sobre Lula que: “Lá está a volta a um passado que deu muito errado. Refinarias, indústria naval, reindustrialização, microprocessadores e bancos públicos.” A política de destruição nacional da chamada “responsabilidade fiscal” está escrachada. Em outra coluna do mesmo meio, se fala que Lula “Não deveria voltar a falar mal da herança de FHC nem atacar Bolsonaro”. A herança de Fernando Henrique Cardoso foi a desindustrialização do país, uma política de terra arrasada que chegou a matar de fome 300 crianças por dia, como notório em manchetes da época. Já Bolsonaro conseguiu o feito de colocar a maior parte da população brasileira em situação de fome, chamada pelos responsáveis de “insuficiência alimentar”.
A responsabilidade fiscal é uma política de garantir aos bancos o maior retorno possível de seus lucros, enquanto se sacrifica o povo. As empresas públicas, o fundo público, tudo é usado para especulação financeira. Como sanguessugas eles retiram toda a riqueza do país. Pior, os defensores burgueses e golpistas da responsabilidade fiscal ainda dizem que ela é o melhor para os mais pobres. Desde o golpe de 2016 a qualidade de vida da população trabalhadora despencou. Índices de fome, emprego, massa salarial, poder de consumo, tudo piorou. Segundo os considerados especialistas, isso seria “fazer a coisa certa” (coluna no Estadão). Ao mesmo tempo em que a população ficou massacrada, é importante se dizer, os bancos continuaram com lucros crescentes. O mercado não reagiu mal a isso, e ninguém falou em responsabilidade fiscal face à miséria.
Para os responsáveis, investimento é risco, e o Estado, portanto, não deve investir na economia. Afinal, isso arrisca desenvolver o país, ao invés de destinar todo o dinheiro pago pelo povo em impostos direto para o bolso de banqueiros. As dívidas públicas, em primeiro lugar, são todas fraudulentas e jamais auditadas, de maneira já orquestrada para garantir o saque do país. Em geral, as políticas de empréstimo dos tais responsáveis, como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional, são a de exigir medidas de redução da economia dos Estados para os quais emprestam, de modo que se tornem escravos da dívida, de maneira criminosa. O caso recente da Grécia deixou bem clara essa política, com os bancos citados, além do Banco Europeu, impondo à Grécia que ela não poderia adotar uma política de desenvolvimento econômico, a única forma de superar a situação de crise.
O Brasil se encontra em situação de crise. Para superá-la, é necessário enorme investimento estatal. Reerguer a Petrobrás, a indústria naval, as refinarias. Tudo o que os colunistas do Estadão desprezam, pois são servos do imperialismo dos EUA no Brasil. Através da indústria, a riqueza do país cresce, e aí é possível “equilibrar as contas” enquanto se continua num caminho crescente com a economia, se desenvolvendo, complexificando, em mais indústrias, de maior complexidade, de maior refino tecnológico, com maior capacidade de investimento do Estado a cada vez. Os bancos querem estagnar o país e roubar nossas riquezas enquanto o povo é deixado na rua da amargura. Lula não sinaliza aceitar estes planos, e é isso o que está fazendo tremer a imprensa burguesa. De modo a garantir o governo Lula não apenas com alguns gastos acima do Teto, mas de um enfrentamento ainda maior com a burguesia, é preciso mobilizar a classe operária. Os sindicatos devem retornar pesadamente à atividade e fornecer a base social necessária para a luta que já está em curso.