A Copa do Mundo no Catar começou. Pessoas de todo o planeta ligam as suas televisões, rádios e celulares diariamente para acompanhar a competição mais famosa de todas, um evento que, por algumas semanas, faz o mundo parar. Enquanto isso, a imprensa burguesa, profundamente avessa à cultura popular, esforça-se em desmoralizar a disputa como sempre fez. Entretanto, desta vez, elencou como alvo principal não o futebol, mas sim, o Catar e, junto a ele, a FIFA.
Por motivos que, até o momento, não são muito claros, das últimas décadas para cá, o imperialismo perdeu o controle da FIFA. Desde então, está sendo comandada por um setor mais atrelado ao nacionalismo burguês dos países atrasados. Não é à toa que o último país imperialista a sediar a Copa foi a Alemanha, em 2006. Depois disso, a competição passou pela África do Sul, pelo Brasil, pela Rússia e, agora, pelo Catar. Países que, uns mais que os outros, representam uma oposição à dominação imperialista em seus respectivos territórios e no resto do mundo.
Outro ponto que reforça essa tese é o fato de que têm vindo à tona cada vez mais escândalos de corrupção envolvendo a FIFA e a sua diretoria. Em 2015, o The Economist, um dos mais importantes do mundo, publicou um artigo mostrando como o sistema jurídico americano estava perseguindo, à época, a FIFA de maneira completamente ilegal, utilizando o FBI para prender dezenas de membros de sua direção. Cabe ressaltar um trecho de outro artigo do mesmo jornal intitulado Finalmente, um desafio à impunidade da FIFA:
“Mesmo agora, não há certeza de que a FIFA adotará a reforma. O teste inicial de sua vontade de limpar a casa deve ser a substituição de Blatter [presidente da FIFA na época] por alguém de confiança para essa missão, que deve começar com a reabertura da licitação para as Copas do Mundo de 2018 e 2022 em condições de total transparência. Se nada mudar, outros devem agir. A UEFA, organização guarda-chuva do futebol europeu, deveria deixar a FIFA e tirar suas seleções da Copa do Mundo. As emissoras da Europa devem se recusar a licitar pelos direitos. E os maiores patrocinadores da FIFA – como Adidas, Coca-Cola, Visa e Hyundai – devem perceber que a associação com ela corre o risco de prejudicar suas marcas. Eles devem atingir a organização onde mais dói: em sua carteira abarrotada. Até agora, o fedor da FIFA levou as pessoas a nada mais do que tapar o nariz. Isso não é mais uma opção”, disse o jornal (tradução do DCO).
Ou seja, desde então, existia uma ampla operação por parte do imperialismo para desmantelar a FIFA e, como diz abertamente o The Economist, substituir a sua direção por “alguém de confiança para essa missão”. Aqui, é preciso lembrar que a acusação de corrupção é uma das mais utilizadas pelas grandes potências para intervir onde formalmente não lhe caberia. O impeachment de Dilma e a prisão de Lula, por exemplo, foram orquestrados com essa justificativa.
Para o desagrado do imperialismo, apesar de Blatter ter sido efetivamente derrubado de seu cargo em decorrência das acusações feitas contra ele pelo Departamento de Estado dos EUA, o atual presidente da FIFA, empossado em 2016, parece defender ainda mais os países oprimidos. Frente aos ataques contra o Catar, Gianni Infantino defendeu o país criticando a ingerência europeia no resto do mundo:
“As críticas à Copa do Mundo são hipócritas. Pelo que nós, europeus, fizemos nos últimos 3 mil anos, deveríamos nos desculpar pelos próximos 3 mil antes de dar lições de moral aos outros”, declaração que, apesar de exagerada, mostra sua posição acerca da Europa.
Além disso, ainda em relação a essas críticas, Infantino destacou que qualquer país pode sediar a Copa do Mundo. Incluiu, em um enfrentamento à política imperialista, a própria Coreia do Norte, revelando já ter visitado o país para realizar negociações acerca da competição.
“A Fifa é uma organização global de futebol. Somos pessoas do futebol, não políticos, e queremos unir as pessoas. Qualquer país pode sediar um evento”, rebate o presidente.
Por isso, a campanha continua e parece aumentar. O Washington Post publicou no último domingo (20) um artigo no qual o título já afirma que O Catar está sendo atacado por conta da corrupção da FIFA. No texto, o autor não só relembra os supostos esquemas de corrupção citados anteriormente, como a própria indicação do Catar para sediar o evento este ano, mas vai além e argumenta que a culpa de todas as críticas feitas pela imprensa burguesa contra o Catar é da FIFA.
“Quando se trata de alegações de corrupção, no entanto, realmente não são os catarenses que precisam responder. É aí que a FIFA tem algumas explicações a dar”, diz o autor (tradução do DCO).
Levando em consideração o exposto, o imperialismo ataca a FIFA em uma tentativa de reconquistar o seu controle sobre a instituição. O futebol, sendo o esporte mais popular de todo o mundo, representa um perigo às grandes potências no sentido de que aumenta e muito a moral dos povos oprimidos – basta ver a campanha contra a seleção brasileira para termos uma prova de que a burguesia não mede esforços para isso. A Copa do Mundo, por esse ângulo, é também um fato progressista, pois possibilita a união dos povos oprimidos contra o inimigo comum: o imperialismo.
A organização que governa o futebol em nível internacional, portanto, não pode jogar contra os interesses da burguesia imperialista, deve estar em suas mãos. Política que deve ser combatida em prol dos trabalhadores de todo o mundo.