As campanhas da grande imprensa imperialista, aliada a ONGs, campanhas publicitárias de vários tipos e em toda imprensa, tentam comover as mulheres do mundo todo a se rebelarem contra as violações aos direitos da mulher, tendo como mola propulsora a morte da jovem de origem muçulmana numa prisão do Irã. O motivo da prisão, e consequente morte, foi o uso inadequado do hijab, o véu que cobre a cabeça e partes do rosto da mulher muçulmana, que é um traje obrigatório em público, segundo a conduta religiosa de grande parte dos povos árabes, como o Irã e o Catar, além de Arábia Saudita, entre outros da região. Por semanas, uma campanha forçava à adesão contra a arbitrariedade ocorrida no Irã. No Catar, as imagens geradas no grande evento futebolístico ganham o mundo em instantes, tornando-se o grande palco iluminado para campanhas que querem atenção global para suas pautas imperialistas, disfarçadas de humanitárias e de coloração identitária. Mulheres e a comunidade LGBT são o principal alvo dos ataques, acusações e manifestações do tipo “coloridas”, infladas e bancadas pelas grandes instituições do ocidente, como ONU, Human Rights Watch, USAID, entre outros, sob o manto de ONGs de variadas nuances. Isso nos noticiários de todo o planeta.
Com o caso de falta de respeito aos direitos da mulher e das minorias sendo inflado constantemente por acusações a países do “eixo do mal”, distantes dos EUA e da Europa, olhar para seu próprio território e ver ali, em seu próprio tecido social, essa mesma falta de respeito a direitos está acontecendo de maneira legal e constitucional, na primeira democracia das Américas. Trata-se das 231.000 mulheres encarceradas nos EUA, segundo dados publicados pela PPI – Public Policy Initiative, ONG e “think tank” baseada em Easthampton, Massachusetts, em 2019.
O sistema carcerário estadunidense é uma indústria que compreende as cadeias, prisões estaduais e federais. Envolve lobbies de várias naturezas e de muito lucro: quanto mais pessoas presas, mais lucro para todos os investidores e instituições envolvidas. Este é o principal motivo que responde à questão do título desta matéria. O lucro vindo das prisões faz com que arbitrariedades e violências praticadas nas prisões de Tio Sam não sejam divulgadas ao grande público.
Outra ONG, The Sentencing Project, em publicação de 2022, sobre mulheres e meninas encarceradas, afirma que a população de mulheres presas nos EUA aumentou em 475% de 1980 a 2020. Embora existam mais homens presos que mulheres, a taxa de prisões de mulheres subiu duas vezes mais que a prisão de homens no período mencionado. De acordo com a publicação, baseada em dados oficiais do governo estadunidense, há cerca de 1 milhão de mulheres sob o controle do sistema correcional dos EUA. Esse total inclui as mulheres em cadeias, prisões e em liberdade condicional.
Assim como no Brasil, cuja população de mulheres em prisões é altíssima, nos EUA, a maioria das presas fica muito tempo em cadeias, aguardando julgamento ou sentença. Como elas são pobres e sua renda tende a ser menor que a de homens, a maioria das presas não consegue pagar a fiança para sair da prisão. Ou seja: homens conseguem fiança com mais rapidez que mulheres, daí elas permanecerem privadas de liberdade por mais tempo, privando seus filhos de quem sustenta e cuida da casa e das crianças. E isso gera o que se conhece como “efeito dominó” da indústria carcerária. Essas crianças e jovens acabam sendo vítimas desse sistema, como suas mães. Isso no país que acusa outros países de violação de direitos das mulheres.
Nos EUA, há prisões como a de Maricopa County, Phoenix, Arizona. Lá existe a conhecida “chain gang“, ou “a gangue das correntes”. Nessa prisão usam normas, regras e sistemas de punições que parecem cenas da época da escravidão: prisioneiras acorrentadas umas às outras, e com correntes nos pés são colocadas para recuperar rodovias em temperaturas altíssimas, limpar ruas e outros serviços que exigem muito do físico das mulheres, cujas necessidades fisiológicas e de higiene básicas, como aquelas indispensáveis em períodos menstruais, não são atendidas. Doenças que se agravam, doenças mentais, violência dentro das prisões e abusos sexuais são fatos concretos dessas norte-americanas, em sua maioria negras e latinas, embora números recentes atestem que a população de mulheres brancas tem crescido nos últimos anos, enquanto a população de mulheres negras encarceradas diminuiu.
Quem critica burcas e hijabs como violação dos direitos da mulher fazer e vestir-se como quiser deveria olhar para as correntes nos pés das presas de Manicopa County. Uma prova atual da hipocrisia e da demagogia identitária do imperialismo global.