O coordenador do Distrito Sanitário Especial Indígena (Disei), Januário Carneiro da Cunha Neto, escoltado pela polícia federal, invadiu sem respaldo legal e sem mandato, a Aldeia Gavião e a casa da liderança indígena Terezinha Ferreira de Souza, dos povos Sateré-Mawé em Manaus. Tiveram o objetivo claro de intimidar e ameaçar a comunidade alegando que as lideranças indígenas estavam impedindo a saída de remédios do posto de saúde da comunidade.
Nas buscas e intimidações, também procuraram por armas de fogo, sem que tivessem sido encontradas. A violência foi praticada contra todos: adultos, mulheres, velhos e crianças, indistintamente.
Segundo a Coordenação dos Povos Indígenas de Manaus e Entorno (Copime), o ato foi consequência de uma reunião realizada pelo Conselho Distrital de Saúde Indígena (Condisi), ocorrida no dia 3 de setembro de 2021. Na ocasião, segundo a Copime, foi deliberada a substituição do coordenador da equipe de saúde, sem respaldo legal, uma vez que não havia quórum para deliberação da matéria.
A Copime considerou o ato da polícia federal e liderado pelo coordenador Januário Neto como fato gravíssimo, e juntamente com as demais organizações indígenas, exigem que o Ministério Público Federal (MPF) e a Fundação Nacional do Índio (Funai) apurem essas ações truculentas.
E ainda que para os conhecedores da realidade da saúde indígena em Manaus, sabe que essa afirmação não se sustenta, pois todos conhecem a precariedade em que funcionam os postos de saúde na região, conforme dados da matéria do jornal A Crítica, que informam que o Ministério Público, a Procuradoria da República e a Polícia Federal ainda não se posicionaram a respeito.
Vemos que o modus operandi da ação segue o mesmo protocolo, que é adotado pelo estado brasileiro, contra toda a população pobre e trabalhadora e também contra os indígenas e todas as minorias como mulheres e negros.
Usam de alegações completamente descabidas, que não tem nada de real como no caso da Aldeia Gavião em Manaus, com ou sem respaldo legal, para agir contra a população com violência descabida e até mesmo criminosa.
Essas ações do Estado resultaram em 5.660 civis assassinados e 198 policiais no ano de 2020, segundo o portal G1. Na maioria das vezes, os policiais não sofrem nenhum tipo de punição, no máximo são afastados por pouco tempo das ruas, mas estão cumprindo o que manda seus patrões, a burguesia capitalista e imperialista.
Todos sabem que as condições que os indígenas vivem, sem acesso à saúde, alimentação, etc, com invasões de suas áreas de sobrevivência por parte dos latifundiários com aval do estado e suas polícias, resultando em inúmeras mortes de suas lideranças. É uma matança generalizada, que tem por objetivo explorar os recursos minerais dessas áreas que na maioria das vezes nem sequer estão demarcadas pelo estado, e que são de fundamental importância para a sobrevivência desses povos, de suas culturas e cobiçadas pelo latifúndio agrário exportador.
Segundo o Conselho Missionário Indigenista, em 2020 foram assassinados 182 indígenas, maior recorde em 25 anos. Outro jornal aponta que houveram 1.191 casos de violência e invasões de terra indígena por razões possessórias.
Tudo isso sem que o estado faça absolutamente nada para conter os avanços contra as aldeias e seus habitantes. No fundo, é sempre o elo mais fraco que se arrebenta, e neste caso os arrebentados são os indígenas, que sempre foram tratados como indigentes pelo estado e por setores da sociedade, os que não tem escrúpulos ou uma política realista para resolver o problema. Afinal são parte da sociedade brasileira, gostem ou não, e os originais donos do país, pois quando os portugueses chegaram eles já estavam aqui.
Lembrando que aos povos Sateré-Mawé é atribuída a invenção da cultura do guaraná, são conhecidos pelos rituais exuberantes, pelo papel importante que a mulher ocupa, participando inclusive das lutas, e que entre 1982 e 1984 a exploração de petróleo pela Petrobrás, obrigou o governo militar a regularizar a área que eles viviam.
Com tudo isso são marginalizados, assassinados e tem suas terras constantemente invadidas para que o capital continue lucrando cada vez mais. O capitalismo traz esse contradição, de acumular enormes riquezas de um lado e miséria, fome, assassinatos, violências e indigência do outro.
Resta portanto, a necessidade desses povos oprimidos pelo capital, de se organizarem em conselhos populares, de luta e de defesa, estabelecer uma pauta de reivindicações e lutar por elas nas ruas até o completo sucesso. Se organizarem para se defenderem das invasões, assassinatos e todo tipo de violência por parte de seus inimigos.