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Voto fluido

Parada não binária: “nem Lula, nem Bolsonaro”

Organizadora de manifestação LGBT, em meio aos patrocínios de multinacionais, manda um beijo para a Terceira Via

A crise econômica está simplificando a política em todo o planeta. De um lado, os picaretas que querem impor uma violenta política de fome para tentar salvar os seus negócios. De outro, uma massa crescente de miseráveis que quer se livrar desses parasitas para ter uma vida digna.

Não faltam exemplos. As milícias talibãs, compostas por criadores de cabras apoiados pela esmagadora maioria da população, se insurgiram contra o Exército norte-americano e libertaram o Afeganistão do imperialismo. Na região do Donbass, os trabalhadores botaram as tropas ucranianas para correr e estabeleceram um governo operário.

Esses exemplos, conforme termo que a própria burguesia costuma usar, mostra que há uma verdadeira polarização. Isto é, uma tendência natural da sociedade de se dividir em dois grandes polos cuja convivência é inconciliável.

No Brasil, não é diferente. De um lado, estão os golpistas, os capachos a serviço dos bancos, grandes monopólios e do Departamento de Estado norte-americano. Isto é, aqueles contratados para destruir o País por completo: o Congresso, o STF, o Judiciário de conjunto, a polícia, a grande imprensa, os setores golpistas da esquerda etc. De outro, o povo brasileiro, que tem comido o pão que o diabo amassou e já perdeu a paciência com todos eles.

Apesar de tudo isso, Claudia Garcia, presidente da Parada do Orgulho LGBT+ de São Paulo, decidiu, em entrevista à Folha de S.Paulo, acrescentar uma letrinha ao alfabeto da política:

Não vou puxar nem ‘Lula Lá’ nem ‘Fora Bolsonaro’ (…). Não vou discursar a favor ou contra um candidato, somos um movimento suprapartidário. Mas defenderemos um voto que seja representativo dos nossos direitos, um voto progressista, tanto no executivo como no parlamento.

Claudia Garcia quer o “nem nem” — nem um, nem o outro. Quer, portanto, que os direitos do movimento que representa sejam conquistados de maneira independente da disputa mais importante na qual o País está inserido: a continuidade do golpe de Estado ou a sua reversão. Essa luta independente, que escape da oposição binária Bolsonaro-Lula (ou golpe-contragolpe), não existe na realidade — apenas em sua cabeça.

A coisa é simples. A opressão que os LGBTs sofrem no Brasil não é resultado de uma conspiração da “heteronormatividade” contra gays e lésbicas. É resultado do fato de que o regime político está evoluindo a passos largos para uma ditadura contra os direitos democráticos da população. Justamente para garantir a implementação de um programa econômico impopular, que roube o sangue e o suor do povo, a história recente do Brasil pode ser resumida em sucessivos episódios de tirania contra o povo. O Judiciário hoje se sente à vontade para prender quem tenha uma opinião contrária a de seus juízes, a extrema-direita, útil para reprimir e intimidar a mobilização dos trabalhadores, se sente à vontade para bater em quem quiser e os pastores evangélicos e demais grupos evangélicos, que são uma base importante para a extrema-direita, se sentem livres para reivindicar todo tipo de aberração conservadora.

Não há como defender os direitos dos LGBTs sem enfrentar esse problema. A única defesa possível é, portanto, enfrentar todos os que estão por trás dessa ditadura. Neste sentido, a candidatura de Lula, que é a única candidatura real que não está vinculada ao regime político, é uma ferramenta indispensável para a luta pelos direitos democráticos de toda a população. Entenda-se bem: a candidatura de Lula não é uma “norma” imposta por um setor da esquerda, mas sim aquilo que há de concreto para enfrentar tudo aquilo que impulsiona os ataques à população LGBT.

A entrevista de Claudia Garcia à Folha apresenta ainda mais uma pegadinha. Na tentativa de encontrar uma alternativa à polarização, a presidente teria destacado “avanços” para a população LGBT no último período. Isto é, caso fosse verdade, estaria “provado” que os LGBTs não teriam a necessidade de participar da luta política.

Garcia cita uma maior comoção coletiva contrária ao racismo e à homofobia e destaca a força que artistas trans ganharam nos últimos anos tanto nas redes sociais quanto nos shows.

Trata-se, no entanto, de uma enganação. Na última década, que corresponde mais ou menos o período do golpe de Estado, não houve avanço nenhum nas reivindicações dos LGBTs. O que houve, na verdade, foi o uso da bandeira LGBT para implementar medidas repressivas, que são, no final das contas, medidas contra todo o povo e contra a própria população LGBT. Medidas como a criminalização da “homofobia” não diminuíram em nada a opressão contra os LGBTs, mas deu ao Estado — particularmente ao Judiciário — o poder de cassar os direitos democráticos de alguém por sua opinião.

A defesa desse “avanço”, por sua vez, não vem à toa. Os promotores da censura e da repressão travestida de “luta LGBT” são os que hoje se organizam em torno da chamada 3ª Via. São os banqueiros, os monopólios — enfim, os donos do golpe de Estado. São, portanto, a expressão precisa do que é o “nem Lula, nem Bolsonaro” — a candidatura do PSDB, do DEM , do MDB ou de qualquer um que represente os interesses dos inimigos do povo.

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