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Detritos políticos

Os “aliados” capitalistas de Lula são a sombra da burguesia

Geraldo Alckmin, Simone Tebet, Marina Silva e demais políticos burgueses que "apoiaram" candidatura petista são elementos isolados

A vitória eleitoral de Lula, obtida no último domingo (30), é um fato político muito mais profundo do que aparece à primeira vista. A eleição do petista, embora comparada pela imprensa golpista à vitória de presidentes sul-americanos, como Alberto Fernádez, na Argentina, e Gustavo Petro, na Colômbia, e até mesmo à do presidete norte-americano Joe Biden, possui uma série de características muito particulares.

Em primeiro lugar, não se trata meramente da eleição de uma pessoa qualquer da esquerda que tenha sido eleito em um país qualquer. O Brasil é um dos países mais importantes do mundo — o maior da América Latina e o mais importante do bloco mais avançado de países atrasados, os BRICS. A vitória da esquerda no Brasil, portanto, é muito mais impactante que a vitória em um país como a Bolívia. Além disso, Lula não é uma figura qualquer, improvisada e forjada artificialmente pela burguesia, como o presidente chileno Gabriel Boric, mas sim um líder de massas, uma liderança operária que sustenta uma base popular de dezenas de milhões de pessoas há mais de três décadas.

E é justamente pelas características próprias de Lula que sua vitória representa, sim, uma batalha ganha na guerra contra o fascismo e o imperialismo. A vitória de Joe Biden, por exemplo, foi uma espécie de golpe de Estado que, em grande medida, levou a um regime ainda mais repressivo que aquele enquanto Donald Trump era presidente. A vitória de Lula, na medida em que contou com uma ampla mobilização dos trabalhadores, é uma vitória do povo contra os seus inimigos. O segundo turno, quando Lula se enfrentou com Jair Bolsonaro, transpareceu, nos momentos finais, como uma luta de classes muito acirrada entre os trabalhadores e os capitalistas.

Nesse sentido, a eleição de Lula não pode ser comparada a nenhuma outra no País. Até mesmo a eleição de Lula em 2002, quando foi eleito pela primeira vez, guarda uma série de diferenças. No entanto, a vitória eleitoral de Lula pode ser comparada a duas importantes experiências históricas de vitória eleitoral da esquerda: a frente popular na França e a frente popular na Espanha, ambas em 1936.

Nos três casos, há uma preocupação cada vez maior com o avanço mundial da extrema-direita. No caso espanhol, a classe operária ainda havia experimentado um governo muito repressivo, de direita, enquanto na França, a extrema-direita levantou a cabeça e ameaçou tomar conta do país em 1934. Embora a situação brasileira não seja exatamente o mesmo, uma vez que não há um movimento fascista bem definido, o país assiste a um fechamento do regime a passos largos desde o golpe de 2016, que inclusive levou um elemento de extrema-direita à presidência da República.

Nos três casos, a tendência à mobilização dos trabalhadores, diante das ameaças, é enorme. Nos três casos, no entanto, devido à falta de clareza das direções das principais organizações da esquerda, foram formadas coalizões entre essas organizações e partidos da burguesia. Esses partidos não teriam nada a acrescentar na luta contra a extrema-direita, até porque são parte integrante do regime. Contudo, decidiram formar uma frente com as organizações populares e operárias justamente para que tentassem, através do suposto apoio à esquerda, recuperar o seu prestígio.

Na França, o Partido Radical, um representante direto e tradicional do imperialismo, estava numa crise muito profunda por causa de sua política de ataques à classe operária e se valeu da frente popular para se “reciclar”. Já na Espanha, o Partido Republicano, pelos mesmos motivos, estava numa crise ainda mais profunda e praticamente já havia sumido do mapa. Pelos mesmos motivos, decidiu compor uma frente com a esquerda.

Em sua análise sobre os casos, Leon Trótski destacou que, no caso espanhol, a esquerda formou uma frente com a “sombra da burguesia”, uma vez que os partidos que participaram da coalizão já não tinham apoio algum da burguesia. Eram políticos burgueses, propensos a uma política muito reacionária, mas que já não representavam a burguesia, já não tinham condições, portanto, de interferir no regime político.

No caso brasileiro, a aliança que o PT decidiu formar é mais parecida com a frente espanhola. Os políticos burgueses na coalizão, embora oportunistas, direitistas e odiados pelos trabalhadores, foram, em grande medida, “abandonados” pela burguesia, e justamente por isso procuram se reabilitar a partir da figura de Lula. Geraldo Alckmin, por exemplo, já foi governador de São Paulo, estado mais importante da América Latina, dono de uma máquina política muito poderosa. No entanto, perdeu o controle do próprio partido e, desde o fracasso de sua candidatura em 2018, já não tem apoio da classe dominante. Tanto é assim que seu “apoio” ao PT sequer rendeu votos para o candidato ao governo de São Paulo, Fernando Haddad, no interior, que seria seu curral eleitoral. É uma figura falida, sem base social.

O mesmo pode ser dito de Simone Tebet, que sequer tinha o apoio do próprio partido, e de Marina Silva, que já teve dezenas de milhões de votos, quando a burguesia a utilizou para dividir o voto do PT, mas que hoje só conseguiu se eleger deputada federal por causa da figura de Lula. Partidos como o PSB, por sua vez, estão também sumindo do mapa, tendo sido derrotados em quase todas as disputas estaduais.

Sendo uma frente com a “sombra” da burguesia, a coalizão formada pelo PT em 2022 tem, portanto, uma propensão muito mais esquerdista que a frente formada em 2002, quando a burguesia conseguiu controlar o governo. As figuras direitistas são meros penduricalhos, que já provaram sua debilidade política total; ao mesmo tempo, a classe operária provou a sua capacidade de decidir uma eleição. Lula não tem nada a ganhar ouvindo os “conselhos” de seus “aliados” direitistas. Ceder a seus interesses não renderá coisa alguma em troca, pois sequer têm influência sobre o Congresso ou sobre algum setor importante da burguesia.

Lula deve deixar de lado a “sombra” da burguesia e governar para quem lhe elegeu: o povo.

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