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Roberto França

Militante do Partido da Causa Operária. Professor de Geografia da Unila. Redator e colunista do Diário Causa Operária e membro do Blog Internacionalismo.

Dividir para reinar

O Tratado de Tordesilhas não resolve

Intelectuais do imperialismo atuam incessantemente para a balcanização do território brasileiro, aproveitando-se da ingenuidade de parte do eleitorado de esquerda

Quem está organizando a esquerda atualmente? Não existe clareza sobre quem centraliza a política da maior parte da esquerda. A imprensa progressista está cada vez mais ‘plural’, as universidades e cada vez mais reprodutoras da política imperialista; sindicatos desnorteados e os partidos de esquerda estão mais divididos e essencialmente pequeno-burgueses. É nesse ambiente que ideólogos decoloniais e pós-modernistas atuam para causar mais confusão política, principalmente nas questões linguísticas e territoriais.

Após o término do primeiro turno das eleições presidenciais, mais uma professora universitária auto-exilada, Rosana Pinheiro-Machado, propôs a vaga noção de ‘tábula rasa’ e reinício da formação econômica social brasileira (algo impossível de se fazer, evidentemente), afirmando que é preciso voltar ao Tratado de Tordesilhas.

Ao contrário da esquerda pequeno-burguesa, o bolsonarismo tem politizado a direita brasileira, a partir de uma ‘guerra cultural’. Sabidamente, Bolsonaro conseguiu organizar uma base a partir do confronto com a fraqueza ideológica da esquerda e figuras como Rosana Pinheiro-Machado. O imperialismo entra no vácuo desse conflito e utiliza a própria polarização em seu favor, dividindo para reinar. Bolsonaro compreendeu bem que atacar os elementos mais caricatos da esquerda lhe renderia capital político suficiente para esconder a destruição econômica produzida em seu governo e pelo golpe de Estado.

A proposta de ‘guerra cultural’ de Bolsonaro, aceita pela esquerda, serve para encobrir o tsunami de privatizações, desindustrialização e controle econômico total pelo Banco Central. Contudo, na reta final das eleições, a esquerda esqueceu que o País está mais pobre, que a carestia avança e que os combustíveis não sofrerão retração de preços sem a reestatização do parque petroleiro.

Vemos, desse modo, as redes sociais buscando culpados pela desempenho da esquerda no primeiro turno. Uns tentam levantar o moral da tropa, dizendo que a bancada do PT ampliou, desconsiderando o avanço ainda maior da extrema-direita. O tema “conservadorismo” voltou à pauta da Globo para domar a campanha econômica de Lula e os apoiadores nas redes disseram “amém”, não se fala em outra coisa. 

Temas correlatos como ‘religião’; ‘racismo’; ‘nordeste’; ‘sul’, ‘democracia’ e ‘divisão’ dominam, até o momento, as redes. Outros, procuraram ver o território brasileiro a partir da cartografia. Por estado e por municípios, os tons de vermelho no mapa do Brasil têm alterações. Desde 2010, esse fenômeno se repete, ou seja, o Nordeste vota no PT e o Centro-Sul (agrupamento geográfico que compreende os Estados do Centro-Oeste, Sudeste e Sul) vota à direita. Essa questão engaja os eleitores a tentar analisar o fenômeno, mas poucos se atentam aos motivos concretos. O PT venceu em várias regiões (microrregiões e mesorregiões geográficas do IBGE), não por causa do conservadorismo cultural do Sul e ‘progressismo’ do Nordeste, mas pelo fator ‘renda’.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que obteve 57,2 milhões de votos válidos no primeiro turno da eleição presidencial, venceu em 97% das mil cidades mais desassistidas, em que o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) não passou de 0,58. Nesse grupo, Lula foi o mais votado em 977 municípios, e obteve uma média de 75% dos votos.

O que parece uma simples piada ou ironia, na realidade é um projeto das Sociedades Abertas em influenciar a balcanização dos países atrasados, a fim de facilitar a tomada do território pelo imperialismo. Essa tomada poderá render uma separação formal no futuro (Por que, não?). No curto prazo, a divisão ideológica a partir da formação de consensos geográficos, já facilita a dominação imperialista.

ONGs controladas por George Soros

Enquanto a direita empunha a bandeira do Brasil, a esquerda avança seu projeto sectário e antipopular, facilitando o domínio imperialista, nos campos financeiro, cultural (identitarismo) e político (em favor da ampliação progressiva da direita), a partir da operação subterrânea de reproduzir preconceitos e sensos comuns sobre o País, a fim de explorar mais de perto a Amazônia, o Cerrado, as águas e todo o solo nacional.

Já o Sul não é conservador, mas concentra renda que favorece a burguesia nessa região impor sua política, pois o que vence as eleições é o dinheiro. Em campanha eleitoral no Paraná, entregando milhares de panfletos, olhando nos olhos da população, nota-se uma carência social enorme na região, mas a esquerda não apresenta seu projeto político.

Diversos municípios do Paraná, especialmente no Centro do Estado e no Sudoeste, regiões pobres, Lula venceu, e o PCO também teve votação expressiva (para quem partiu atrás no recebimento do fundo eleitoral). A questão regional no Sul, supostamente reacionária, é a folha de parreira da esquerda para justificar a completa ausência de programa político e de um projeto nacional, aglutinador das massas.

Sem projeto, sem programa para os trabalhadores, o povo se desloca para a direita, pois a esquerda se apoia em vulgaridades políticas, como o apoio de celebridades, apoio de FHC, Simone Tebet e Ciro Gomes, como fonte da vitória eleitoral. Como o povo é inteligente e tem memória, compreende essa operação como uma negociata, não como coalizão. Isso também é observado pelo povo que conversa com o PCO durante as panfletagens. O povo gosta das propostas do Partido.

O fator ‘identitarismo’ não é menos importante nessa conjuntura. O identitarismo foi o elemento central da momentânea derrota política da esquerda. Enquanto a classe média, a pequena burguesia, vê no identitarismo o elemento mais importante, os pobres e desfavorecidos percebem a demagogia. O povo não odeia LGBTs, não odeia negros, não odeia índios, o povo odeia demagogia, e enxerga, ao seu modo, as más intenções do imperialismo, mesmo que não utilizem esse termo. Sobre isso, basta andar nas ruas para verificar o ódio do povo pela Rede Globo, a empresa que mais representa os interesses do imperialismo no Brasil.

Diante desse panorama, o PCO propõe um programa de lutas para a classe trabalhadora, uma série de propostas de mudança do regime político, a partir de princípios políticos sólidos e defesa do território brasileiro, ao contrário de diversos setores das universidades e ONGs que produzem ideologias favoráveis ao imperialismo, destruindo a História nacional, desconsiderando a Geografia.

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