Por 56 votos a seis e uma abstenção, o Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), em reunião do seu diretório nacional, no dia 17 último, decidiu que não vai participar do governo Lula.
Primeiro, é uma decisão estranha. Não é que o partido tenha apoiado Lula num segundo momento, num improviso durante a eleição. Ao contrário, não lançou candidato para entrar na coligação de Lula. Fato que, diga-se de passagem, garantiu que a maioria dos deputados eleitos pelo partido fosse resultado da participação na coligação do PT.
No mundo político real, qual o sentido de um partido entrar em uma coligação, elaborar um programa de governo dentro dessa coligação, participar da campanha, chamar o voto e a na hora que o candidato é eleito, não participar desse governo?
Se o partido da coligação não quiser participar do governo precisaria ver qual a restrição, afinal o governo eleito é, em grande medida, expressão da sua própria política. Caso o presidente eleito negasse todo o programa da coligação, haveria uma justificativa, afinal estaria fraudando o programa pelo qual foi eleito, mas isso não é a questão, pelo menos até agora. Por quê, então, não entrar?
O que acontece é que toda uma ala do PSOL, quer ficar de fora do governo para fazer oposição. Esse é o único sentido. É uma espécie de esquizofrenia política. É desmoralizante, não é sério.
Espaço para todos
A realidade é que o que parece ser uma loucura é complementado com uma outra ainda mais estranha. A reunião do diretório definiu que se algum dos membros do partido quiser participar do governo, tem que se licenciar do partido. Em outros termos, isso significa um acordo podre e ultra oportunista.
A direção do PSOL definiu uma posição que pareceria ser política, mas deixou uma cláusula para o oportunismo e o carreirismo pessoal. O normal seria que quem entrasse no governo fosse expulso, pois estaria em oposição a uma deliberação partidária.
Falência política
O PSOL é o retrato de um partido em falência completa. Uma parte do partido quer entrar no governo. Seria a parte mais normal, afinal estava na coligação. Receber um cargo, verbas, ter poder, é sedutor e nesse sentido natural.
Uma outra parte que sabe que não vai entrar no governo de jeito nenhum, só ver um sentido que é fazer oposição ao governo que ajudou a eleger, ao mesmo tempo que diz que não vai fazer oposição.
Num primeiro momento vai ficar calada, mas assim que aparecer alguma coisa que mexa com a classe média que representa, ou seja, assim que a burguesia mobilizar a classe média bem pensante, liberal, contra o PT, vai passar a fazer oposição.